domingo, 6 de maio de 2018

Mercearias Finas 130


Miúdos. A princípio, e aqui há 50/60 anos, eram as mioleiras, que conceituados pediatras aconselhavam para as criancinhas, na boa companhia de uma açorda. Dos frangos, que não do campo, na altura, mas de galinheiros domésticos, se faziam saborosos arrozes de miúdos, acompanhantes proverbiais do galináceo assado no forno. Que, muito vezes, aparecia na mesa de Domingo. Como, pela Páscoa, era imprescindível o arroz de fressura, feito das miudezas do cabrito que acompanhavam, naturalmente, o anho sacrificado pelo Domingo de Aleluia.
Língua estufada, rim grelhado, iscas de fígado, eram lugares cativos das ementas de muitos restaurantes portugueses e das casas que cultivavam a tradição. Bem como a dobrada ou as tripas à moda do Porto. Mas, depois, veio a doença das vacas loucas, que varreu dos menus estas saborosas iguarias da nossa gastronomia. E se o fígado de porco ou de vitela voltou, em breve, ao nosso convívio prandial, os rins e as línguas foram esquecidos. No Montijo, ainda se podem encontrar, com facilidade, línguas fumadas de porco; o resto é difícil.
Por oferta amiga, chegou-nos esta semana um bem medido meio quilo de ervilhas temporãs e frescas. E, ao cogitar no conduto, logo me lembrei de uma língua estufada de vitela, que sugeri a HMJ. Encomendámo-la no talho, atempadamente, para o fim-de-semana. Mas a greve dos veterinários fez gorar o meu sonho. O talhante desculpou-se mas prometeu-a, para breve. Assim, a couve-flor, que entretanto já fora comprada, vai acompanhar um bife de alcatra, que apesar de vir a ser bom, é um pobre substituto da língua de vitela estufada, do sonho que eu acalentara...
E as ervilhas recolheram-se ao congelador.

6 comentários:

  1. O vinho. Fale-me do vinho, que deve ser excelso e abundante, a julgar pela prosa. Pois começa no cabrito e passa ao anho. E as ervilhas confundem-se com a couve-flor. Por acaso não estará, como eu, em pleno festejo do campeonato? Aaaaaaaaa.....

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    1. Se fosse a língua estufada, eu estava a imaginar um Dão tinto brando.
      Mas, como estava calor e foi bife, dei-me à bizarria de um "Silvaner" monocasta, branco, de Cochem (Alemanha), que se portou muito bem.
      Não estou a festejar, mas congratulo-me com a sua alegria. E por aqui, foi um sossego (sepulcral) ameno: não houve gritos, nem vuvuzelas, nem excessos cervejais... Deus haja! e que vá conservando o Pinto da Costa ao leme dos Dragões.

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  2. Torci o nariz ao ler o título, porque associo imediatamente ao coração e figado da galinha, mas depois fala no belo rim e no delicioso figado de vitela e tive que destorcer o nariz :-)
    Bom dia!

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    1. Os hábitos gastronómicos de infância perpetuam-se, quase sempre. No meu caso, privilegio a língua de vitela estufada, entre outros.
      Boa semana.

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  3. De miudezas, só gosto de rim de vitela. Em tempos também apreciava língua de vaca estufada.
    Miolos e fressura sou mesmo incapaz de comer.
    Boa semana!

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    1. A língua e as iscas de cebolada têm a minha aprovação. Mas também não desdenho uns bons rins grelhados...
      Bom dia.

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