segunda-feira, 14 de maio de 2018

Chinesices, orientalismos, modas


A moda tem, por vezes, origens misteriosas e inexplicáveis que desafiam a imaginação. E concita seguidores gregários que lhe dão vida, normalmente, por ausência de gosto próprio e pessoal.
A casa-museu do escritor francês Pierre Loti (1850-1923), em Rochefort, de interiores barrocos e orientalistas, integrou recentemente o Loto du Patrimoine, uma espécie de lotaria cujos lucros se destinam à recuperação de edifícios e monumentos significativos do passado gaulês. Encerrada em 2012, está ser recuperada da acentuada degradação em que se encontrava.
Julgo que foi na segunda metade do século XIX e inícios do XX que o exotismo das coisas do Oriente começou a ocupar a agenda e a curiosidade dos europeus. As chinoiseries ganharam, então, uma visibilidade inesperada.
De Salammbô (1862), de Flaubert, à ópera Madame Butterfly (1904), de Puccini, passando por Madame Chrysanthème (1887), de Loti, bem como pela decoração de várias casas da alta burguesia e pelos Cafés da moda que também integraram esse gosto marcado e insólito.



Por cá, foram bons exemplos o Café Chinês, inaugurado em 1861 (encerrou em 1936 e foi demolido dois anos depois), na Póvoa de Varzim, e os interiores do Café Oriental, em Guimarães, que, como todas as modas, tiveram apenas o seu tempo breve de glória e fama. Como o próximo casamento régio britânico, pelo menos na Caras, Nova Gente e CMTV, há-de ter capas efémeras de mau gosto kitsch e os prime time, neste caso por poucas semanas, satisfazendo, assim, a ligeira e leviana coscuvilhice dos leves e róseos de espírito.


Sic transit gloria mundi...

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Vou sintetizar, pois o comentário anterior não ficou bem e
    tive de o remover. Aproveitando a sua referência à ópera
    Madame Butterfly fui ouvir https://youtu.be/jeLBloAFfhE
    e pareceu-me ser apropriada para partilhar. Aproveito para
    lembrar os palestinianos assassinados. Espero não ter sido
    intrusiva. Peço desculpa. Desejo-lhe uma boa noite.

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    1. Não consegui lá chegar, com o código que me indicou..:-( , mas como conheço razoavelmente essa ópera, que é das que mais gosto de Puccini, não fará mal.
      Acompanhei com enorme preocupação, via tv, o que poderá ser a 3ª Intifada que já provocou 52 mortos e mais de 700 feridos...
      Tudo isto com o beneplácito do ogre norte-americano.
      Uma boa semana, para si.

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  3. São tantos os acontecimentos que eu pessoalmente já não tenho
    paciência para acompanhar seja o que for. Só a música consegue
    dar-me alento e encher a minha alma.
    Gostei, e achei graça à palavra "ogre", muito bem aplicada sem dúvida.
    O código do youtube está correto. Tenho a certeza que conhece, mas é
    tão lindo que é sempre bom ouvir. Desejo-lhe um bom fim de tarde.

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    1. Tenho quase sempre azar com os códigos... provavelmente porque os transcrevo mal. Mas tive o pressentimento que pudesse ser a ária "A Bocca Chiusa". Agora consegui lá chegar, e era (tenho-a arquivada no Arpose, a 22/12/2010). É lindíssima!
      Uma boa noite.

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