domingo, 2 de março de 2014

A par e passo 81


O homem que tem um emprego, o homem que ganha a sua vida e que pode reservar uma hora diária para a leitura, quer o faça em sua casa, ou no autocarro, ou no metro, esta hora é dissipada em assuntos criminais, frioleiras incoerentes, ninharias para dispersar e simplificar grosseiramente os espíritos.
Tudo isto tem por consequência uma diminuição real da cultura; e em segundo lugar, um empobrecimento objectivo da verdadeira liberdade de espírito, porque esta liberdade exige, pelo contrário, um distanciamento, uma recusa de todas estas sensações incoerentes ou violentas que nós recebemos da vida moderna, a cada instante.

Paul Valéry, in Regards sur le Monde actuel (pg. 282).

4 comentários:

  1. Conforme o que se leia. Imagino que no metro não se leia filosofia, mas daí a ser uma hora «para dispersar e simplificar grosseiramente os espíritos». Isto digo eu que leio muito no Metro. :-) E em casa, nunca no autocarro.

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    1. Por vezes, Valéry excede-se um pouco para justificar as suas proposições. Como a MR diz, tudo depende daquilo que se lê.
      Muito embora, hoje em dia, eu quase já não veja telejornais e me pergunte se vale a pena comprar o jornal diário...

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  2. Os jornais diários, a maioria das vezes, parecem a chamada folha de couve. Que lástima!

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