sábado, 22 de março de 2014

Da Janela do Aposento 44: Uma Escola de delatores



Sempre defendi, e persisto nesse propósito, que a Educação e a Escola deviam concentrar-se no essencial, i.e., pensar e fazer pensar no sentido mais amplo. Infelizmente, e olhando para o passado e o presente do respectivo Ministério, a estratégia, se alguma vez existiu de forma explícita e consistente, não escolheu esse desígnio como prioridade a atingir.
E assim, em deambulações várias, chegamos à presente desgraça em que se promove, com pompa e circunstância, uma Escola de delatores. Pensar sobre a Escola, e ofendendo uma disciplina chamada Sociologia, passou a fazer-se com recurso ao método de trabalho de “espreitar pelo buraco da fechadura para dentro de uma sala de aula”. A “análise” da “socióloga” responsável baseia-se, então, em relatos encomendados, eufemistamente chamados “diários”, ou seja, numa linguagem simples, a denúncia institucionalizada.
Também não falta, claro está, o “patrão”, quiçá futuro empregador dos alunos, a achar “inovadora” e atractiva uma teoria, embora às avessas das Ciências Humanas, que lhe prepara o trabalho de recrutar, não apenas submissos, mas “exímios agentes” ao serviço da paz empresarial.
Pensava eu que a Inquisição, com os seus métodos e “Róis”, era fenómeno do passado !
  

Afinal, a Escola passou a ser o “centro de formação” dos novos agentes de informação, assegurando-se, desta forma, a acefalia dos futuros contribuintes e utilizadores dos serviços públicos como, aliás, as últimas campanhas “cívicas” demonstram. Aos prémios para os mais audazes cumpridores, lançados pelo Ministério das Finanças, juntam-se, agora, as ameaças dos Transportes de Lisboa.
Só a crassa ignorância do passado histórico poderá explicar a completa ausência de revolta cívica perante semelhante ataque à democracia e aos valores mais nobres da convivência humana. Enganam-se aqueles que pensam que um Estado policial garante o futuro de governos fracos.

Post de HMJ


8 comentários:

  1. Isto é o cúmulo!!!
    Então é assim, com a falta de validação de bilhetes, que a Carris e o Metro nos querem explicar a diminuição de utilizadores nos transportes púbicos?! Nunca vi nada de tão baixo nível, nem quando nos querem impingir detergentes.
    Desenganem-se que as pessoas não são tontas e, ao contrário destes idiotas que mandam fazer e aprovam esta publicidade, andam de transportes públicos e têm olhos na cara para ver.
    Eles acham que os desempregados andam de transportes públicos? Para quê? Com que dinheiro? E os reformados? Basta andar no Metro (que é o que eu utilizo frequentemente) para ver que há muito menos pessoas da chamada 3.ª idade a andarem de Metro.
    E que dizer do aumento do passe de Lisboa (só sei deste) que aumentou de €36,65 para €42,00, ou seja mais de 14% numa altura em que os ordenados e pensões diminuem drasticamente?
    A falta de vergonha tem limites!
    E é mesmo: a delação, a mexeriquice e a inveja estão na massa do sangue dos portugueses. A Inquisição foi a pior coisa que aconteceu a este país e ainda não nos livrámos dela. Um país de 'brandos costumes' que vai ver, em festa, pessoas a serem esturricadas em praça pública...

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  2. Para sim e MR:
    agradeço os comentários e a partilha.

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  3. Quando cheguei aqui não tinha lido o comentário final de MR. E o que estava a pensar escrever já lá está escrito. Os portugueses adoram denunciar, deve ter sucesso!

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    1. Para JAD:
      o mais abjecto, para além da questão de fundo, é o uso e abuso de determinadas "criaturas", no chamado ambiente escolar, promovendo-as a "actores" de denúncia com proveito para a responsável do chamado "estudo". Nada disso é sério, nem científico. Usar a fragilidade e dependência de pessoas, espiritualmente ainda indefesa,
      é perfeitamente inaceitável. E o Ministério da Educação a "fazer de conta". Quem autorizou semelhante "invasão" ?

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    2. Para JAD:
      ainda bem que o consegui, porque a revolta interior é enorme.

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