Diziam que tinha sido advogado, mas que deixara de praticar porque tivera um desgosto, mas de concreto quase nada se sabia dele. Vinha inesperadamente, mas as crianças, na praia, sabiam que ele vinha sempre, pelo Verão. De Norte a Sul, pelo litoral, de Vila Praia de Âncora até à Figueira, pensava eu, até que soube que a Alice Vieira também o conhecera em Cascais: era o Catitinha. Sempre aperaltado de cerimónia, à torreira do sol, tantas vezes, sempre de gravata, bengala de castão de prata, cabelo crescido e espesso, todo branco, já nos anos 40 do século passado. Parecia um Pai Natal, fora de época, e sem barbas. Tez queimada pelo sol marítimo e, sempre, com o seu longo apito de metal que tocava, sincopado, para anunciar a presença. Chegou a comer lá em casa, pelo menos, uma vez, tinha modos urbanos e palavra serena, mas não me lembro da conversa desse almoço.
As famílias costumavam convidá-lo para comer e dormir, porque era pessoa educada e de bons costumes. Mas o seu terreno ideal eram as praias, onde multidões de crianças o seguiam em algazarra feliz, ao longo do litoral das barracas, em paralelo ao mar. E ele sempre apitando, a espaços. De vez em quando o grupo parava para a fotografia da praxe. O Catitinha era muito fotogénico e posava, com ares profissionais, de modelo habituado. Fazia o percurso das praias, de norte a sul, por comboio, ao que se dizia. Também constava que o seu amor pelas crianças se devia à morte da única filha, que fora atropelada, muito jovem ainda. Nunca soube donde ele era e julgo que ninguém sabia, ao certo.
Tinha os seus mistérios de intimidade que ajudavam a fortalecer o seu carisma natural. Mas todas as crianças tinham nele uma confiança inabalável, e segura. E os pais, também. A sua figura, alta e forte, parecia a de um profeta bíblico, de cabelos ao vento...
Também me lembro do Catitinha, mais do nome do que da figura.
ResponderEliminarAinda tenho mais duas ou três fotos, mas esta pareceu-me a melhor.
ResponderEliminarLembro-me do Catitinha de Fato Branco a Jogar Golfe, na Praia da Póvoa, e a catraiada ir buscar a bola de volta.
ResponderEliminarDessa parte é que já não me lembro...
ResponderEliminarMais de 1 ano depois (21/7/13), alguém, com imensa falta de imaginação e sem assunto mental suficiente, descobriu e resolveu pôr no seu feicebuque esta foto e respectivo poste.
ResponderEliminarE logo a carneirada acéfala e pasmada começou a vir aos magotes (hoje e até agora já vai em mais de 34...). Assim vai o mundo dos pobrezinhos!