terça-feira, 26 de julho de 2011

Osmose (22)


A única mesa vazia do restaurante estava-me ao lado e o par, um pouco distanciado em idades, não tinha outra alternativa. Ela, tão ágil de gesto e passo, dava ideia alta de uma gazela da Núbia, ele, mais setentrional, de boa máscara, bronzeado mas com duas brancas rugas paralelas, no pescoço, como se marcado para ser degolado. Pela conversa breve, dele, percebi que uma viagem os iria separar. Ela estagnava os olhos grandes, abstractos, no espelho em frente e respondia por monossílabos discretos. Foi então que o homem lhe estendeu um pequeno embrulho delicado, e disse: "- Toma!" Vagarosamente, a rapariga sussurrou: "- A minha estima não merecia tanto..." E foi a única frase completa que lhe ouvi, até me ir embora, em direcção à rua. Tinham eles começado a tomar o café.

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