segunda-feira, 25 de julho de 2011

Festival de Salzburgo: um discurso censurado



De acordo com uma notícia do DIE ZEIT, Jean Ziegler, sociólogo suiço, na imagem, deveria ter discursado perante o "público abastado" do Festival de Salzburgo, a decorrer entre 27.7. e 30.8.2011. Mas Ziegler foi desconvocado e, atendendo ao conteúdo do seu discurso, o próprio explica que os responsáveis pelo Festival sucumbiram face à "pressão suave" do Crédit Suisse e da Nestlé, apoiantes oficiais do evento.
Convenhamos que as palavras de Ziegler destoariam no meio da encenação de abastança. O discurso inicia-se para confrontar o público com números assustadores: "a cada cinco segundos morre uma criança, de fome, com idade inferior a 10 anos. 37.000 pessoas morrem diariamente de fome ...". Depois de explicar, de forma objectiva, mas expressiva, os estádios de enfrquecimento progessivo da criança até à morte, conclui que não existe, objectivamente, falta de alimento.
Ziegler nomeia, claramente, os responsáveis: "desde os estados que desviaram as suas ajudas para apoiarem o seu sistema bancários em crise até aos «patifes bancários» e os «bandidos especulativos»". Portanto, as palavras não eram meigas.
[Após alguma procura consegui encontrar o texto na íntegra, publicado a 24.7.2011, no jornal Süddeutsche Zeitung.]

Post de HMJ

5 comentários:

  1. Para mim, é um suíço sui generis.
    É dele A fome no mundo explicada ao meu filho que nunca li, mas já ofereci.
    Mas li, há muitos anos, editado pela Perspectivas & Realidades (que saudades!) A Suíça lava mais branco, que me chocou, bem como Os senhores do crime: as novas mafias contra a democracia, um murro no estômago.
    Imagino o contraste: Ziegler e Festival de Salzburgo. :-)

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  2. A Nestlé é umas dessas multinacionais que, no seu trabalho humanitário, fartou-se de matar crianças por esse mundo. Enviava leite em pó para locais onde a água estava contaminada... Queridos!

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  3. Para MR:
    agradeço a informação. Não conhecia Ziegler, ignorância minha. Gostei do discurso e, sobretudo, imaginar um eventual impacto na assistência. Também podia ter sido em Bayreuth, lendo o discurso perante a "Mutti" [= A. Merkel, em alemão]!

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  4. Não sabia disto, mas foi pena. Este homem pensa bem.
    Há dois livros dele que quero ler: um está no monte há talvez dois anos, "L'empire de la honte", e o outro é "La haine de l'occident". Pode ser que "L'empire de la honte" seja o próximo a ser lido.

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  5. Obrigada pela informação e o comentário, Miss Tolstoi.

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