sexta-feira, 1 de julho de 2011

Relances cínicos


De manhã, e ao princípio da tarde, já eu tinha ouvido, felizmente ao longe outrabandista, a música pimba pelas exéquias do Angélico, mais os gritos histéricos das e dos adolescentes lumpen: até meteu polícia de choque (ao que dizem as notícias) que, provavelmente e também comovidos, derramaram lágrimas sinceras... Esperava, numa esperança idealista, que a Capital, ao fim da tarde, me restabelecesse o equilíbrio. Infelizmente, não.
O serviço n'"A Brasileira" continua abaixo de cão (cada vez pior, MR!): lentíssimo, desatento, tosco e ao nível de uma tasca ronceira de província aqui há 50 anos (só os estrangeiros não percebem), no seu melhor de rudeza rural.
Mas, próximo, o Largo do Picadeiro estava cheio, de primas e tias, de ruanos e alfacinhas. Vi um Marquês ( de Marialva?), largamente obeso, mai-lo seu escudeiro, magríssimo, de repas esparsas e calva muito avançada, que o seguia canina e obsequiosamente. Lembrei-me de Francisco Manuel de Melo...Também dei por uma Viscondessa (da Luz?), mais a sua aia, muito atenta aos mínimos desejos da nobre dama.
Sentados na esplanada, ouvíamos Bizet. Uma ruana alfacinha embalava, à africana, a sua cria recém-nascida (3?, 4 meses?), oscilando o corpo pesado aos acordes da "Carmen". Que fazer?, desta Lisboa à noite, na perspectiva de um Natal à meia-luz e a 50%? 

5 comentários:

  1. Que fazer quando o primeiro acto público da novel Secretaria de Estado da Cultura foi um comunicado sobre esse grande vulto da cultura chamado Angélico?
    Gostei desta sua crónica, APS.

    ResponderEliminar
  2. Para MR:
    Parece que se vão acumulando os "tiros no pé" da cultura.
    Como me chamou a atenção um amigo comum, o ME, Nuno Crato "axa" (foi assim que vi a ortografia da palavra noutro dia !): que duas medidas podem ser "ambas as duas", desconhecendo, certamente, o termo redundância;
    ontem, o M. Finanças, ao querer falar de excedentes, trocou por "excesso".
    E agora o Angélico !

    ResponderEliminar
  3. Obrigado,MR.
    Nunca fui muito à bola com o Viegas...
    APS

    ResponderEliminar
  4. MR,
    não percebe que o Viegas estava a pensar que o pintor Angelico, o italiano, andava por aí? E anda mas nas nossas cabeças. :-)

    hmj,
    ah o Nuno Crato "axa"! E "axa" o quê? "Ambas as duas"?! Lindo!
    Desconfio que este também tem um escritor fantasma. Ou um bom revisor.

    ResponderEliminar
  5. Não sabia, MR, dessa estreia auspiciosa do Viegas, com "microfone" de prata...

    É uma sequência naquilo de que melhor nos habituou o Santana/Chopin, Miss Tolstoi.

    Que mais nos irá acontecer?

    ResponderEliminar