terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A idade e o artista - T. S. Eliot


É minha convicção que o melhor da obra de um poeta é feito na sua juventude. Com boa vontade, vou até aos 40 anos. Claro que há algumas excepções (poucas)...que só vem confirmar a regra... Depois, a frescura perde-se, a novidade deixa de ser novidade, esse tom pessoalíssimo de voz vai-se repetindo. Como uma voz singular que nos surpreende, quando a ouvimos pela primeira vez, mas depois se integra na nossa memória de sons - e apenas a vamos reconhecendo uma vez, outra e muitas vezes. Daí talvez que, sendo a obra poética de Eugénio de Andrade uma das que conheço melhor, lhe prefira, da totalidade: "As Mãos e os Frutos" (1948), "Até Amanhã" (1956) e "Ostinato Rigore" (1964); publicados, respectivamente, com 25, 33 e 41 anos, e com certeza com poemas anteriores à data dos livros.
Mas hoje, ao folhear os Ensaios de T. S. Eliot, no dia de aniversário da sua morte, 4 de Janeiro (em 1965), dei por algumas palavras do crítico, que também foi poeta, que talvez ajudem a clarificar o que disse acima. Ou a explicar, como se segue:
"...Tanto quanto posso julgar, a partir de referências, citações e reimpressões em antologia, são os meus ensaios mais antigos que causaram a impressão mais profunda. Atribuo isto a duas causas. A primeira é o dogmatismo da juventude. Quando somos jovens, vemos as questões nitidamente definidas: à medida que envelhecemos, tendemos a pôr mais reservas, a moderar as nossas asserções categóricas, a introduzir mais parênteses. Descobrimos objecções aos nossos próprios pontos de vista, olhamos o inimigo com mais tolerância e às vezes até com simpatia. Quando somos jovens temos confiança nas nossas opiniões, seguros de que possuímos toda a verdade; somos entusiásticos ou indignámo-nos. E os leitores, mesmo os leitores com maturidade, são atraídos por um escritor que está bastante seguro de si. ..." (T. S. Eliot, Ensaios Escolhidos, pg. 237, Cotovia, 1992)

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