terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Osmose (6)


Teriam vindo de ouvir as transcrições da "Norma", no arranjo de Liszt? Não sei dizer, mas seria o cenário perfeito. Ela vinha de preto alto, no seu casaco esguio, esvoaçando ao vento de Março, e deixando adivinhar o vestido branco. Ele, mais velho, tinha passo ligeiro e botas negras. Os pombos, muito entretidos, a debicar o chão, nem se afastaram quando o par passou. Elegantes, ambos, mas um pouco separados, no passeio estreito, embora lado a lado.
Subitamente, ela meteu-lhe o braço, num movimento inesperado. E o antebraço do homem cingiu-lho, com força, de forma quase imediata. Parecia uma dança grave, na quietude da rua, onde um melro escuro atravessou, em diagonal. Depois, ultrapassei-os devagar, mas não olhei para trás. Havia silêncio e ternura no ar. Mas não posso afirmar que fosse das folhas tenras de Março...

2 comentários: