De Eça de Queiroz (1845-1900), um dos primeiros livros que eu li, terá sido "O Primo Bazilio" (1878), por um daqueles grandes volumes da Lello, da edição do centenário, que repousavam na biblioteca tranquila do meu Tio Jorge. Reli-o depois mais vezes, mas por volumes mais maneirinhos. Anteontem, peguei-lhe de novo e não resisto, pela "receita", a uma transcrição bem saborosa (embora talvez cruel e tenebrosa, para quem goste muito de cães). Aí vai:
"Havia cinco annos que D. Felicidade o amava. Em casa de Jorge riam-se um pouco com aquella chamma. Luiza dizia: Ora! é uma caturrice d'ella! Viam-na córada e nutrida, e não suspeitavam que aquelle sentimento concentrado, irritado semanalmente, queimando em silencio a ia devastando como uma doença e desmoralisando como um vicio. Todos os seus ardores até ahi tinham sido inutilisados. Amára um official de lanceiros que morrera, e apenas conservava o seu daguerreotypo. Depois apaixonára-se muito ocultamente por um rapaz padeiro, da visinhança, e vira-o casar. Dera-se então toda a um cão, o Bilro; uma criada despedida deu-lhe por vingança rolha cozida; o Bilro rebentou, e tinha-o agora empalhado na sala de jantar. A pessoa do conselheiro viera de repente um dia, pegar fogo áquelles desejos, sobrepostos como combustíveis antigos. Accacio tornara-se a sua mania:... "(pg. 43)
Ora, eu já não me lembrava que uma simples rolha, embora cozida, pudesse ter usos tão funestos!?...
Coitado do cão. O meu livro preferido de Eça é a Cidade e as Serras, bem mais pacífico. Boa tarde!
ResponderEliminarÉ verdade...
EliminarEu vou continuando fiel a "Os Maias". Que também tem o seu quê de dramático.
Bom fim de tarde!
Leituras antigas, com uma escrita antiga. Não sei
Eliminareleger nenhum dos livros que li, pois gostei muito
de todos. "O mandarim" é uma história deliciosa.
E enchia o comentário com muitos mais títulos.
Eça de Queiroz é um dos maiores escritores portugueses,
e fez um retrato de uma sociedade, já tão diferente da actual.
Desejo-lhe um bom fim de semana.
Dos mais conhecidos, eu descartava, apenas, "A Ilustre Casa...", que reli há pouco e me decepcionou...
EliminarA sociedade portuguesa é realmente diferente, mas muitos dos tiques atávicos mantêm-se semelhantes, adaptados a outras circunstâncias.
Retribuo os seus votos, cordialmente.
O primeiro Eça que li foi A cidade e as serras, de que não gostei muito. Hoje é o meu segundo livro preferido de Eça, a seguir a Os Maias.
ResponderEliminarBoa tarde!
Eça é tão rico, que cobre gostos diversos.
EliminarAté os romances secundários, ainda hoje dão gosto ler: "Alves & Companhia", "A Capital", por exemplo.