domingo, 18 de junho de 2017

Algumas considerações de Scorsese sobre o Cinema como Arte


O antepenúltimo TLS (nº 5957) dedica a sua temática semanal e as suas primeiras oito páginas ao Cinema. A razão desta escolha reside - julgo eu - na pertinência de um depoimento (Illuminations), a abrir, do realizador norte-americano Martin Scorsese (1942), escrito de propósito e a convite do director do jornal literário inglês (Stig Abell). Com o objectivo de responder a uma recensão crítica, publicada anteriormente no TLS, e não inteiramente favorável, sobre o seu último filme "Silence", baseado numa novela do escritor japonês Shusaku Endo. O texto de Scorsese pretende, sobretudo, defender a profissão do filmmaker como Arte, independentemente dos meios utilizados.



O realizador, referindo quatro imagens emblemáticas de outros tantos filmes e realizadores (o carrinho de bebé pelas escadas de Odessa, de Eisenstein; a maré de sangue jorrando, em Shining, de Kubrick...), chama a atenção para a memória redutora destas imagens, que podem fazer esquecer que há um antes e um depois, nos trabalhos de filmagem. Como se, de uma ópera, fixássemos apenas uma ária, embora cheia de beleza, em detrimento da obra no seu conjunto. E Scorsese acrescenta:
"Anos e anos, cresci habituado a ver o cinema desvalorizado como arte, por uma série de razões: ser contaminado por considerações comerciais; não poder ser arte porque, na sua realização, há demasiadas pessoas envolvidas; ser inferior a outras artes porque «não deixa nada para a imaginação» e simplesmente captura, só por algum tempo, e por feitiço (spell) o olhar do espectador (no fundo, o mesmo - nunca referido - que acontece com o teatro, a dança ou a ópera que requerem, também, intermitentes momentos da atenção interior, mais acentuados, no tempo.)..."

6 comentários:

  1. A discussão sobre o que é ou não é arte, ou Arte, é bastante estéril. Eu creio que qualquer ideia, criação intelectual ou artefacto é "arte". Um filme de Scorsese (mais as centenas de pessoas que trabalharam nele) é uma criação artística, tanto como uma ponte em betão de Edgar Cardoso ou um romance de Manuel Arouca. Pode ser criada com um intuito utilitário ou fútil-estético, e aí podem fazer-se distinções. Mas ser mais ou menos ao gosto de certas camadas "instruídas", quanto a mim, importa pouco para distinguir a Arte do Ofício.

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    1. Do meu ponto de vista, a sua afirmação "que qualquer ideia,...é «arte»", parece-me excessivamente alargada e permissiva. Mas não sou elitista: os bonecos de Rosa Ramalho, por exemplo, considero-os arte. Ao alargar o conceito demasiado, corremos o risco de alinhar com aqueles paizinhos que ficam extasiados com os rabiscos e "versinhos" que as criancinhas, naturalmente, vão fazendo.
      Mas, e apesar disso, concordo com uma boa parte das suas reflexões.

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  2. Não vi Silence, mas sou uma grande fã de Scorsese e sobre este tema em particular veja-se o documentário «Uma Viagem com Martin Scorsese pelo Cinema Americano».
    Esta semana vou ver «Uma Dicussão com 50 Anos» sobre The New York Review f Books.
    A discussão até pode ser estéril, mas há realizadores desde os geniais até à bola preta, como em todas as artes e em tudo na vida.
    Bom domingo!

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    1. Vi o documentário que refere e também o achei muito bom.
      Em matéria de arte e cultura, não gosto de ser canónico, mas também evito ser muito benevolente. Mas guio-me quase somente pelo meu gosto pessoal. Será a minha circunstância, porventura.
      Retribuo os seus votos, MR!

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  3. Concordo com quase todas as considerações dos
    comentários anteriores. O cinema é considerada a
    7ª arte. Sem dúvida que o gosto de cada um, sendo pessoal
    limita a classificação de bom ou mau, seja para que
    arte for. Boa semana.

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    1. Foi assim reconhecida a sua importância, na Modernidade, e bem.
      Uma boa semana, também!

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