Cedo entendi, com a experiência, que a admiração excessiva leva à cegueira acrítica e pode conduzir, nalguns casos, à implantação ou fortalecimento de tiranias. A credulidade naïf pode trazer o fanatismo e a beatice traz, em si, mesmo que involuntariamente, o dogmatismo exagerado à mistura com alguma hipocrisia. Os franceses têm sobre este tema uma frase muito apropriada: "ce n'est pas amour, c'est rage!"
É muito frequente ver-se, nos nossos cemitérios, epitáfios que incluem a frase: "...com a saudade eterna de..." Sempre me pareceu um equívoco, uma irrealidade ou leviandade humana esta promessa, sem limites. E se estas palavras partem de uma alma religiosa que acredita, será uma ironia - então não se irão juntar na eternidade? onde é que há lugar para a saudade?
Com o Tempo quase tudo se relativiza, infelizmente talvez. A recordação e a saudade dela durarão, no máximo, 2 ou 3 gerações. Das pessoas e dos factos. O afecto não é transmissível, nem o podemos enxertar nos outros seres humanos, com a intensidade com que o vivemos.
Embora eu respeite a data de 5 de Outubro, não a vivo com a intensidade com que lembro o 25 de Abril. Que, por sua vez, para os meus netos (se os vier a ter) será porventura e apenas uma data histórica. Sem mais.
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