quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

arte menor (3) : bestiário renano


1. Três vezes subi ao ninho. Por três vezes, também, os melros jovens insistiram nesse voo inábil ao findar do dia. Quando partiram, o último, mais frágil, adormecera para sempre sobre o leito frio. Eu tinha-o escolhido para a parábola silvestre. Contrariou-me o destino, ou os pais apressados em abandonar o ninho, sobre a trave queimada.

2. Lebre lhe chamava, láparo seria.
Ou fora apenas ave que, perdida
no ar procurava a sombra de nuvens
na raíz mais núbil das cenouras
soterradas.

3. Subiu a rosa por amor de si. Orgulho por entre o pavor das vespas e a minúcia ordenada por abelhas. De morango e leite, lembrava-me a cor. O suor nupcial da manhã. Ao cimo da jarra azul na tarde.

4. Desperta-me a criança na janela. No silêncio da manhã, pergunta-me coisas simples: como nasce um rio?, de que cor é a chuva? Descubro que envelheci, ao responder - os bolsos vazios perderam-se do paraíso. As dúvidas ao fim do sono. Melhor: as maçãs escavadas pela febre das vespas.

Mk., Ago. 90/ Sb.-Lx., Jan. 93-Jan. 11

P. S.: para HMJ.

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