segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O dia, às avessas


Eu sei que não consegui explicar ao Zé Carlos a alegria que ainda sinto, quando olho este Augusto Gomes, de 1953, quase "botticelliano" - como gosto de o adjectivar. Estes traços, a tinta da China, provavelmente indecisos de propósito, ajudaram-me, muitas vezes, em dias mais pesados, desde Janeiro de 1976 (data em que o comprei), a encarar a luz ou o dia seguinte. E, isto, não se consegue transmitir, facilmente, encostado ao balcão de um bar, com CR&F à mistura, tendo por cenário, ao fundo, um vale verdejante, minhoto, delimitado por pinheiros altos.
Falávamos dos preços de Resende (Júlio): óleos e aguarelas, e dos anos mais procurados - cinquentas, sessentas. E eu chamei-lhe "marchand", mas com amizade. O Sáa sorria, o Paulo, sempre muito sério, abanava a cabeça, e o Fernando, meu primeiro grande amigo ( e mais antigo), na sua autenticidade, apoiava-me convicto. Já a Ró tinha feito, loira e cordial, uma visita guiada, excepcional, ao Museu Alberto Sampaio - onde eu aprendera muitas pequenas coisas.
O Carlos S., maestro deste encontro, circulava pelas mesas, imenso de gratidão à vida, e aos amigos que tinham vindo, pelos seus recentíssimos 70 anos. Foi bonito! Até com desgarradas...
O que é que eu posso fazer?, senão mostrar em regozijo manso e funda alegria, esta rapariga simples e contente, talvez um pouco marota, de Augusto Gomes, neste Outono de melancolia, semeado por gotas intensas de chuva...

P. S.: para Carlos S., em Guimarães. E para a Maria José.

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