O tema do renovo é recorrente, em poesia, desde a Antiguidade clássica, mas teve uma particular importância sobretudo no Renascimento (... e tudo o mais renova, isto é sem cura. Sá de Miranda). Hoje, o nosso tempo-consciência mantém algumas referências de luz e sombra, juventude e velhice que se pautam pelas estações, mas também por várias dicotomias, como por exemplo: férias e trabalho, prazer e obrigações.
Setembro marca, para muitos, o final do lazer (férias) e o recomeço da rotina laboral. E, se para mim, em tempos de extrema juventude, era o mês do campo (Briteiros) que se seguia ao Agosto da praia ( Póvoa), a diminuição da luz, no dia, a transformação do verde no castanho ou dourado da natureza, anunciavam-me também o fim da aventura ou, pelo menos, a proximidade (Outubro = Outono) de um tempo de responsabilidade (Escola) inexorável.
Com os anos, porém, essas diocotomias simples foram adquirindo novos contornos e significado, talvez mais amplo:
Vai sendo tempo de largares o verão
soltá-lo no caminho mais estreito
à boca do outono ou numa praia
onde já não passe mais ninguém.
O real dos factos encarrega-se de fazer implodir a fantasia. A esperança tem de ir para outras coisas, como disse um poeta inglês, avisadamente. Mas é bom que vamos em boa companhia. Ao menos.
Para A. de A. M., amigo de muitos anos, e por variadíssimas razões, afectuosamente.