domingo, 21 de outubro de 2018

Glosa (14)


Na entrevista de hoje, no jornal Público, Vasco Pulido Valente refere, peremptório : "Os portugueses têm uma segurança que ninguém tem. Inabalável."
Parece-me um clamoroso erro de palmatória. Quando muito, oscilamos. Entre insegurança e confiança em nós mesmos, duvidosos e bipolares. Almejando, do exterior, um apoio incondicional que nos subscreva ou confirme. Esperando, tímidos, um aval externo e simpático.
Que povo haverá no mundo que, em leilões de livros tanto privilegie a temática : Portugal visto por estrangeiros. Ou que, outrora francesismos, presentemente, use tantos anglicismos (e americanismos), para explicar as coisas mais simples... Será por provincianismo endémico? Para, erroneamente, tentar reforçar o que se diz, com um cosmopolitismo parolo? Ou para alardear cultura?
Eu julgo que é por insegurança. Falta de vocabulário e pobreza de imaginação. Ou será por vergonha da sua língua pátria?
Lá nisso, os brasileiros são muito mais criativos e desavergonhados. Honra lhes seja!

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Assim me parece, realmente.
      Bom resto de Domingo, também.

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  2. É natural que sejam os portugueses a privilegiar a temática Portugal visto por estrangeiros. Eu não ando pelos leilões, mas sou leitora destes livros e não me parece que isso tenha a ver com inseguranças (não que eu seja muito segura de mim), mas antes pelo interesse de saber o que dizia (e diz) quem nos vê de fora. Até porque há muitos estrangeiros a dizerem mal de nós, e com muitos erros de avaliação (mesmo históricos).
    Quanto à língua, parece-me que a portuguesa é muito rica, por exemplo quando comparada com a inglesa. Pelo menos é o que os tradutores dizem. A quantidade de francesismos e anglicismos devem ter a ver com o poder que o francês teve no passado e o inglês tem atualmente, sendo os criadores de novas expressões.
    Por exemplo site sei logo o que é; sítio tem de se acrescentar «da internet» (mais uma palavra inglesa), senão levo um bocado a chegar lá.
    Talvez gemine por causa desta entrevista de VPV. Achei graça a outra afirmação dele.
    Boa semana!

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    1. Eu creio, embora com insuficiente conhecimento de causa, que na Inglaterra e na Alemanha, esta preocupação sobre o saber-se o que pensam de "nós" não existe ou, pelo menos, é muitíssimo atenuada. Depois, muitas vezes, os estrangeiros apreciarem um artista português, é a melhor forma de ser aceite e reconhecido, cá na terrinha... O que é significativo. E que prova, pelo menos para mim, a insegurança e falta de sentido crítico, que os portugueses, de uma forma geral, (não) têm.
      E vai-me desculpar, mas pelámo-nos por estrangeirismos, realmente, e de uma forma provinciana e preguiçosa. E as razões já as enumerei no poste. É o nosso provincianismo atávico, que não a pobreza da língua portuguesa. Repare, por exemplo, na grossura dos dicionários de francês: o de Português-Francês é quse o dobro da grossura do Francês-Português...
      O uso imoderado de estrangeirismos, às vezes sem razão nenhuma, é, para mim, simplesmente patético e ridículo. O caso sublime era o do Zeinal Bava e o seu economês de apátrida.
      Força com a geminação!
      Uma boa semana, também.

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