Andaram-me pelos olhos e pelas mãos três livros de poesia deste século, ultimamente. Um, em releitura, que, se não fosse o posfácio de Eugénio de Andrade, não se salvava de todo. Os outros dois deixaram-me um desconforto frio, sobretudo pela arquitectura pobre sobre que foram construidos.
Também hoje se usa, na prosa, o recurso forçado à ficção autobiográfica, bem como prosear à custa de glosar clássicos ou autores já firmemente ancorados nas histórias literárias. Na poesia, é o excesso ao quotidiano que, se poderá atrair um incauto e pouco experiente leitor pelo realismo dos cenários, não deixa de ser um artifício bem mediocre. Que não permite que o poema suba às alturas, sacrificando-o à vulgaridade mais banal.
Li, algures, que, em França, cerca de 1/3 da tiragem dos livros publicados acabam guilhotinados. Será que voltamos ao terror e ao lixo? E quem subsidia estas editoras incontinentes? Será a Banca? Que depois pede ajudas ao Estado, para não se afundar?
Mal ou bem, acabamos sempre por ser envolvidos.
Mal ou bem, acabamos sempre por ser envolvidos.
A LEYA quando adquiriu a ASA permitiu-se guilhotinar EDIÇÕES DE LUXO !
ResponderEliminarConsidero um crime cultural.
Dessa não sabia eu, mas tive conhecimento que, na "Caminho", quando esta foi absorvida pela "Porto Editora", foram guilhotinados Saramago, Maria Velho da Costa... É uma lógica que me escapa! Embora eles digam que é para poupar no espaço de armazenamento!??...
EliminarDurante mais de uma década trabalhei numa editora e tenho conhecimento dessa prática, embora nunca tenha assistido, segundo me contaram primeiro lançavam uns baldes de tinta, depois eram guilhotinados, perante um representante oficial e depois abatia-se nos impostos. Pessoa amiga conseguiu salvar uns livros condenados que me interessavam muito e apesar de já terem tinta, paguei-os, feliz, de acordo com as regras.
ResponderEliminarLamento saber que no país da célebre guilhotina isso suceda, no entanto continuo a gostar bastante deles, porque continuam a publicar quase tudo em Poche/bolso a preços convidativos e depois há sempre o livro de "occasion" a preços ainda melhores para o leitor, a conviverem lado a lado com o novo (isto na cadeia livreira Gibert Joseph).
Muito boa tarde e boas leituras!
O primeiro livro que comprei de Eugénio de Andrade (Antologia, da Delfos, 1961), em 1966, num alfarrabista lisboeta, tinha umas linhas de tinta roxa na sobrecapa e nalgumas páginas interiores (4 ou 5), que seriam, talvez, de inutilização para venda. Mas nessa altura ainda livrarias e editoras, que se prezassem, tinham fundos antigos preciosos... Hoje, o livro é mera mercadoria, e assim é tratado. Por outro lado publica-se muita porcaria, que nunca deveria ser editada.
EliminarUma boa noite e um bom início de semana.