Este Verão sediço transfigurado pelo concreto Outono abafado em temperaturas mornas, com tardes estufadas e amenas, permitiu-me regressar à varanda e acabar, ao ar livre e em duas tardes, a Histoire d'une Jeunesse - La Langue Sauvée, de Elias Canetti (1905-1994), livro que já levava uns bem abonados vinte dias de leitura, embora intermitentes. Lido por inteiro, apesar da luz exterior se ausentar por volta das 19h00, impiedosamente.
Eu creio que uma leitura pode assumir duas formas: ou nos enfronhámos no enredo, em osmose submissa, ou ficámos de fora do tema e o apreciámos à distância. As mais das vezes fiquei de fora, na leitura, até porque o livro é irregular, na qualidade e no ritmo. Embora nos transmita, claramente, a personalidade do autor, pelo menos, enquanto jovem.
Da búlgara comunidade sefardita castelhana que, na intimidade familiar e 400 anos depois do êxodo, mantinha ainda o espanhol como língua de comunicação doméstica; da transumância constante dos primeiros 15 anos de vida de Canetti, entre a Bulgária, a Áustria, a Alemanha, a Inglaterra, a Suíça e de novo a Alemanha, que de algum modo justifica essa Langue Sauvée do título; até aos arroubos e afectos infantis de veemência agressiva, passando pelo bélico diálogo final com a mãe, que prenuncia a independência do futuro adulto, na obra vem prefigurado todo o perfil comum de uma progressiva autonomia e maturidade, humana e natural.
Se vale a pena ler o livro? Eu diria que sim.
Candidato-me a um empréstimo. Li as memórias do irmão, Jacques Canetti, e gostei.
ResponderEliminarDeste Nobel não acabei Auto de fé. Não preciso de ficar com o estômago revolto.
Bom sábado!
Fica reservado, desde já.
EliminarUma boa noite!