domingo, 23 de outubro de 2016

Filatelia CXVI


Coleccionar pode ser uma actividade mais ou menos passiva de juntar itens ou pode ser acrescida do estudo e investigação desses objectos coleccionados. Os prelúdios ou períodos iniciais de uma actividade rodeiam-se, também, de maior interesse pelos desconhecimentos que, muitas vezes, lhe estão associados. Daí que o período clássico da filatelia (grosso modo, até 1900) mereça e tenha tido estudos de maior profundidade por parte dos coleccionadores. Portugal não escapa nem ao interesse nem à regra.
Em 2007, encontrei à venda, na E-bay, o lote acima em imagem, composto por selos clássicos portugueses, aparentemente em bom estado. O penúltimo selo (do lado direito) da última fila apresentava, no entanto, um carimbo intrigante.
Destes carimbos circulares de pontos, que tiveram curso entre 1853 e 1869, são conhecidos apenas os de Lisboa (1), 7 (Alhandra), 52 (Porto) e 74 (Santo Tirso). O carimbo 12, que corresponderia a Azambuja, não se encontrava registado em nenhum catálogo na minha posse, nem nunca tinha ouvido falar dele.
Licitei, por isso, o lote em que se encontrava este selo de D. Luís (emissão de 1862-64), de 100 réis, lilás, (nº 18, nos catálogos de Portugal) com o insólito carimbo 12. E o lote foi-me atribuído - não foi caro, sequer.
Depois de muita consulta e investigação por livros e artigos da especialidade, consegui chegar a uma hipótese de explicação através de Selos Clássicos de Relevo de Portugal (1983), de Armando Mário O. Vieira (pg. 356). O selo de D. Luís, com o carimbo 12, tratar-se-ia de uma reimpressão de 1928, com carimbo falsificado.
Uma pergunta, no entanto, ficou-me a pairar no ar: que pretenderia o falsificador? Se tivermos em linha de conta que a reimpressão de 1928 é a mais rara e mais cara (230 euros, valor de catálogo), enquanto um exemplar usado do selo de 100 réis valerá apenas 165 euros, pelo catálogo em vigor. Mistérios!?...

6 comentários:

  1. Como diz um diz um amigo comum, há uma diferença entre colecionador e ajuntador. :)
    Eu, na minha juventude, fui uma ajuntadora de selos, de que ficaram uns álbuns. Nessa época era mais fácil ser ajuntadora ou colecionadora porque escrevia-se mais e as cartas vinham seladas.
    Bom domingo!

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    1. O período clássico é um mundo! De interesse e de descoberta, mas levam-se muitos anos até descobrir isso. Coleccionar o moderno, não vale mesmo a pena. Além de acabar por ser mais caro.
      Boa tarde de Domingo!

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  2. E o mistério continuará ?
    Infelizmente, não sei explicar.

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    1. Sem dúvida, embora haja hipóteses de explicação.
      Até determinada altura da filatelia, puristas havia que só consideravam meritório coleccionar selos usados (hipótese provável, por exemplo, para carimbar a reimpressão).

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  3. Caríssimo, o selo e o carimbo são ambos falsos. O selo é conhecido como "falso italiano".
    Nunca vi, não conheço quem o tenha observado e não me recordo de qualquer artigo que prove a existência do carimbo de pontos n.° 7. O n.° 74 existe, resultante da alteração do carimbo de barras de 20 barras (6:8:6).

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