sábado, 8 de outubro de 2016

Da leitura (17)


É frequente, ao lermos memórias de infância e juventude de um escritor, encontrarmos ressonâncias das nossas próprias recordações dos primeiros anos de vida. Das provas de lealdade, das traições e das mentiras, dos amores ingénuos mas fiéis, das amizades sinceras e fortíssimas, das impressões indeléveis e sentidas. Mas também de cheiros originais ou de atmosferas que, de tão intensos e singulares, dificilmente conseguiremos traduzir por palavras.
Ora, há um cheiro a fumo abafado e denso, que me vem de 1951, quando uma noite, uma boa parte do Mosteiro da Costa (em Guimarães) ardeu. Vi as labaredas da janela da sala de jantar e foi o primeiro grande incêndio a que assisti. Nunca mais o esqueci, nessas imagens trémulas e nocturnas, com sirenes de bombeiros, intermináveis, a tocar. E a grande aflição geral.
Lembrei-me disso ao ler Canetti (1905-1994), quando narra o seu primeiro fogo: "Ce spectacle que je n'ai jamais oublié..."
Quem não se lembrará, mais ou menos intensamente, do primeiro incêndio que presenciou?
Em 1977, calcorreei a parte ardida do Mosteiro de Sta. Marinha da Costa, e lá colhi amoras, porque o espaço era um matagal ou silvedo múltiplo entrelaçado e desleixado.
Fizeram, entretanto, obras cuidadosas e conformes. Hoje, há lá uma pousada - cara, mas ilustre. Quem se lembrará ainda desse monstruoso incêndio de há 65 anos. Só os séniores vimaranenses, por certo...

Nota: por razões técnicas informáticas não será possivel assegurar, pelo menos nos próximos dias, a regularidade e constância de postes, no Arpose.

4 comentários:

  1. Acho que o primeiro incêndio que assisti foi o do Chiado, pela televisão - e fiquei horrorizada. Bom fim-de-semana!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O do Chiado também assisti via TV, mas estava na Alemanha..:-(

      Eliminar
  2. N-ao me lembro qual foi o primeiro incêndio. Mas lembro-me de uma trovoada em setembro, em Sevilha, era eu muito pequena. Da janela do quarto do hotel via-se a trovoada sobre os telhados da cidade. Parecia fogo-de-artifício, mas metia medo.
    Problemas informáticos... é mau.
    Bom fim de semana!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tenho o ecrã super-cego e o bicho a funcionar mal..:-(
      Trovoadas dessas lembro-me de muitas, na infância, com falta de luz e grandes estrondos luminosos...
      Retribuo os votos!

      Eliminar