domingo, 7 de setembro de 2014

A par e passo 105


As últimas páginas (cerca de 50) do volume "Variété II", de Paul Valéry, são dedicadas a Mallarmé, de quem foi próximo e amigo. "Variété III" inicia-se, em sequência, com o capítulo "Je disais quelquefois à Stéphane Mallarmé". É por aqui que começamos a seleccionar e traduzir alguns passos:

Estas propriedades sensíveis da linguagem têm também uma notável relação com a memória. As diversas formações de sílabas, de intensidades e de tempos que se podem combinar são irregularmente favoráveis à sua conservação pela memória, como o são, por outro lado, à emissão de voz. Poderíamos dizer que umas terão mais afinidade que outras pelo misterioso apoio da recordação: cada uma parece afectada por uma probabilidade própria de restituição exacta, que depende da sua figura fonética. (...) E isto porque a poesia diz respeito e radica, sem dúvida, num qualquer estado humano anterior à escrita e à crítica. Eu encontro, por isso, num verdadeiro poeta, um homem muito antigo; ele bebe ainda nas fontes da linguagem; ele inventa "versos", - muito próximo daqueles seres primitivos mais dotados que criaram as "palavras", ou os antepassados das palavras.

Paul Valéry, in Variété III (pgs. 18/9).

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