quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Recuperado de um moleskine (9)


As nuvens intercaladas mais parecem gretas milenares de um vulcão extinto e silenciado. Mas face a esta laranja afogueada, que vai nascendo, crescendo e subindo, de Leste, haveria que contrapor-lhe alguma música mais suave, para poder entrar no dia, mais devagar.
Para a direita, a Arrábida está envolta numa neblina de algodão macio, e o Seixal ribeirinho vai pelo cinzento azulado, com as águas. As aves fazem silêncio e nem se vêem. Nuvens glaucas apagam, por momentos, o incêndio solar. E um azul, lavado e claro, vai-se caldeando no pós-cénio e ataviando o dia para entrar.
É então que, surrealmente e à la Serna, me vem à voz e do fundo de mim mesmo, perante estas mudanças, no horizonte, uma definição de molusco: simbiose de gelatina e músculo, visível ao lusco-fusco.
Inexplicavelmente...

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