quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Onírica e burlesca


Esta chuva contínua de ontem, este cerco líquido, este dilúvio em redor das casas, talvez ambicione, em si, um cenário interior de defesa, o ambiente e os ingredientes necessários para, entre paredes, contar ou ouvir histórias. Mas estamos no princípio de Setembro e o tempo propício às narrativas eu costumo situá-lo, com mais propriedade, nas longas noites de Inverno.
O pior, no entanto, é que esta imemorial vontade narrativa, pela água excessiva e exterior, acaba por exsudar para o sonho ou, neste caso mais próximo, para um pesadelo que, como em quase todos, eu conto e faço viver a mim próprio. E em que não controlo o desenvolvimento, nem prevejo o fluxo narrativo e nem sequer tenho poderes para abortar a acção, ou dela sair.
Imagine-se um gueto hostil, onde há dois mensageiros benéficos que me vão aconselhando, duvidosos, tudo isto num cenário que parece de velhas metalurgias abandonadas. Vou descalço, num chão viscoso e escorregadio. Procurando, obstinado, um táxi livre que não há, por um dédalo de ruas estreitas e sombrias. Preciso urgentemente de transporte, para seguir para um casamento de quem não sei, nem os noivos, nem a hora, nem mesmo o local, talvez à volta de Belas...
Que o sr. Freud me dê uma ajuda! Ou me faça chegar, a tempo, à boda!

2 comentários:

  1. :)
    Este setembro parece o da minha infância: quente e chuvoso.

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  2. Apesar de tudo, tenho uma memória diferente dos meus setembros passados. Mais estáveis e de temperaturas amenas.

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