sábado, 28 de agosto de 2010

A Felicidade na Catedral


Evito as grandes superfícies. Sobretudo as desta Las Vegas suburbana. Alguém faz o favor de cumprir, por mim, a obrigação cristã, e semanal. Evito porque, no passado, já dei para o peditório - por necessidade -, e por temperamento. Afasto-me o mais possível destas excursões de fim-de-semana, até gratuitas no transporte, em direcção a estas catedrais de consumo, preferindo-lhes os pequenos oragos, ou capelinhas de bairro, mais rústicas, personalizadas por curas ou curadores, ou merceeiros com gosto, que escolhem a dedo, e em minudência, os artigos que irão pôr à venda para os seus fregueses. Lá encontro o requeijão perfeito, o figo de mel anónimo, o vinho puro e duro de um produtor desconhecido e de pequena produção. O pêssego antigo, com o raro sabor e gosto de infância. É que as grandes superfícies compram a fruta, ainda em pomar - para quem não saiba...
Mas, hoje, não o pude evitar. E lá fui cumprir o santo sacrifício... Carros ajoujados de sumos, monstruosas embalagens de bolos industriais, grades de cerveja deslizam pelos corredores para matar esta fome e sede de séculos de privações e desejos não satisfeitos no ADN português milenar. São conduzidos, normalmente, por criaturas obesas, em traje de praia, transpiradas e decotadas até onde é legítimo e permitido numa catedral. Criaturas com um sorriso estampado no rosto, beatíficos senhoritos, felizes, de quem foi à missa e vem, de regresso, reconciliado com deus, com os semelhantes, e com o mundo. Ámen.

3 comentários:

  1. Que bela descrição!
    Eu que até gosto de ir às compras, acho um inferno ir a uma grande superfície, principalmente porque quando nos habituamos aos lugares das coisas, resolvem mudar os sítios... e perde-se um tempo imenso.
    Também não compro fruta nos supermercados. Não sabe a nada.
    Hoje comprei o requeijão que comi num super (e até é bom) porque num dos dois sítios onde costumo comprar o de Seia informaram-me que só o voltarão a ter em meados de Setembro. Como dantes. No Verão, não havia requeijão.

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  2. Como o Ferrero Rocher...:-))
    Mas entretanto na Ad. Coop. de Pegões tem os seus próprios vinhos mais caros do que no Pingo Doce. Um exemplo : Colheita Seleccionada Branco 2009, no PD, euros 2,99; na Loja da Coop.,4,00 euros - e não tem de esperar 6 meses para o PD lhes pagar. O sistema é perverso, tem de ser mudado radicalmente, para as pessoas respirarem e saberem que há outros mundos. Melhores.
    Em tempo: não consegui comprar o Bruto, Espumante branco- esgotado. Mas trouxe outra coisa, para si.

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  3. Aconteceu-me o mesmo quando fui ao Esporão. Uma coisa estúpida. E portuguesa. Querem ganhar tudo...
    Mmmm...

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