domingo, 31 de março de 2024

Assim amanheceu...



 ... o Domingo Pascal, na região outrabandista.

Aproveitamos para renovar os nossos melhores votos pascais para os Amigos e  Comentadores. E visitas.

Johann Kuhnau (1660-1722)

sábado, 30 de março de 2024

Apontamento 162: Em Louvor de Olaf Scholz, contra a ignorância mais que atrevida, i.e. a completa menoridade de leitores




É costume, na Alemanha, haver manifestações pela PAZ por altura da Páscoa, ainda bem!

Ao mesmo tempo, é o Chanceler que transmite uma mensagem de paz e tranquilidade aos cidadãos, alguns ainda tão habituados a tempos de Guerra.

Desta vez, e como é costume do Chanceler Olaf Scholz, ele fez uma intervenção curta, sucinta, muito objectiva e explícita, para caracterizar o momento histórico e os desafios das democracias na defesa das liberdades. Sublinho, também com orgulho, que me identifico, em pleno e com os tempos que correm, com o registo deste Chanceler HANSEÁTICO !

Verdade seja que a maioria da imprensa, e outras forças menores, não entendem a elevação do seu magistério! Sinais do tempo que também nós por cá já conhecemos.

Ora, tendo acompanhado a intervenção do Chanceler através do semanário DIE ZEIT, jornal que acompanho com eventuais desvios menos objectivos para o DER SPIEGEL, não descendo, obviamente, a patamares inferiores de credibilidade jornalística, não encontrei nenhuma complexidade na mensagem emitida.

Para não haver dúvida sobre a sobriedade da intervenção, pode consultar-se o discurso aqui:

https://www.bundeskanzler.de/bk-de/aktuelles/kanzler-kompakt-ostern-2024-2268040

Depois de ouvir o discurso do chanceler, de uma clarividência sucinta, breve, mas completamente acessível, desci para os “infernos” dos comentários. Eis não quando dou com um infeliz analfabeto, que até se identifica como “bávaro”, dizendo que não percebeu o discurso, qualificando-o de “pouco claro” (?)

Ficou o incómodo, CÍVICO, DEMOCRÁTICO, CULTURAL, que motiva este “poste”.

Com a revolta perante um leitor do DIE ZEIT, que  não percebe uma mensagem simples de Páscoa do Chanceler Olaf Scholz de ca. de 1,5 minutos, mas que se acha no direito de empestar contra os órgãos eleitos pelas regras de democracia em vigor, confesso que cada vez tenho menos paciência e tolerância para a burrice.

Post de HMJ

Mudança de Hora

 

Na madrugada deste Domingo de Páscoa (31/3/2024), os relógios deverão ser adiantados sessenta minutos, da 1h00 para as 2h00, iniciando-se assim o horário oficial de Verão.

Boa Páscoa, para todos os que por aqui passem!

Rimsky-Korsakov (1844-1908)

sexta-feira, 29 de março de 2024

Apontamento 161: Episódio com final feliz

 


Durante vários anos, e por motivos familiares, deslocava-me com frequência de avião, utilizando, entre outros, o aeroporto de Bruxelas, Zaventem.

Um dia, sentada na área de espera para o embarque para Lisboa, saíram os passageiros do avião que acabara de chegar, quase todos apressados, excepto uma figura, de estatura mediana, a circular com vagar a olhar para os presentes, visivelmente interessado em ser reconhecido.

Tentei identificar a criatura com uma pessoa publicamente conhecida, sem sucesso na altura. Posteriormente consegui ligar a imagem ao político Paulo Rangel, também por alguns devaneios que a imprensa divulgou, esquecendo-se, contudo, rapidamente do caso como costuma ser regra na actual comunicação social. Rápida em lançar iscos, pobre em pescar algo que se veja.

No entanto, este episódio, no aeroporto de Bruxelas, teve agora um final feliz. Tanto andou a pessoa a viajar que, daqui em diante, terá o seu emprego assegurado a deslocar-se agora pelo mundo em representação do país. 

Post de HMJ

quinta-feira, 28 de março de 2024

Ideias fixas 85

 
Até às 19h35 de hoje, um hacker mecânico e apalermado, aparentemente oriundo de Singapura, já tinha visitado por 199 vezes o Arpose. Nunca percebi o que é que estas bestas acéfalas cá vem fazer, e o que ganham com isso. Agora imagine-se o que é que a tão falada Inteligência Artificial não fará de melhor, neste particular?!...

Uma fotografia, de vez em quando... (181)



O fotógrafo britânico, nascido na Birmânia, Chris Steele-Perkins (1947) integra a agência Magnum desde 1979, por mérito próprio e qualidade da sua obra.
Estáticos, naturalmente, os seus instantâneos têm quase sempre por subentedido o movimento.






Sendo, no entanto, também um notável retratista de gente comum. 



terça-feira, 26 de março de 2024

Antologia 18



Tenho dúvidas se os livros de Wenceslau de Moraes (1854-1929) serão ainda hoje procurados e lidos. Para quem queira ter uma ideia do Japão antigo, as suas obras serão, no entanto, imprescindíveis. Mas depois dum ressurgimento, merecido, da sua pessoa devido ao diplomata Armando Martins Janeira (1914-1988) e da reimpressão dos seus livros, nos anos 70 do século passado, pela Parceria A. M. Pereira, creio que o escritor terá entrado num certo limbo de apagamento.
Para contrariar um pouco esse esquecimento, vou aqui deixar um pequeno extracto pitoresco repescado duma antologia organizada por A. M. Janeira para a Portugália Editora , em 1971. Segue (pgs. 198/9):




"Eu tenho aqui um galo e três galinhas, de raça anã, vulgar neste país (Japão); quase do tamanho de pombos. Nem eu poderia passar sem ouvir, todas as madrugadas, cantar o galo, em minha casa. Porquê? Difícil de explicar. Um sentimento herdado, presumo. O cantar do galo sugere-me miragens de um mundo de delícias - alacridades campesinas, alegrias de aldeia, vida serena no lar, com esposa e muitos filhos... - Eu devo ter tido algum remoto avô, que nunca viu o Oceano, que nunca sonhou com viagens e em países de exotismo, que viveu feliz na sua aldeia, rodeado de família, entretido na lavoura, escutando o boi de trabalho mugir cerca, os cães de guarda em seus latidos, os galos a cantarem; e dessa orquestra rústica de vida simples, enlevo do velho parente ignorado, ficou-me, talvez, o amor pelo cantar do galo, ao alvorecer."

segunda-feira, 25 de março de 2024

Citações CDLXXXVI



A nossa esperança de imortalidade não vem de nenhuma religião, mas quase todas as religiões provém dessa esperança.

Robert G. Ingersoll (1833-1899).

domingo, 24 de março de 2024

Vontade

 
Sempre quis que o Arpose não fosse um blogue demasiado fútil, repetitivo e desmiolado, nem excessivamente sério e grave, ou seja, que também se pudesse rir, de forma saudável, de si mesmo...

sábado, 23 de março de 2024

Maurizio Pollini (1942-2024)

Mercearias Finas 198

 

Não tenho a menor dúvida na opção, por entre atum e espadarte, prefiro um bife deste último. Ainda para mais estavam os dois peixes ao mesmo preço: 22,50 euros o quilo, na banca do mercado. E frescos.
Batatas fritas e grelos salteados, como acompanhantes dos bifes de cebolada.
Havia que fechar  com chave de ouro: escolhi bem, um Alvarinho de Monção 2017 - esplêndido!
Tive foi que o decantar, 7 anos para um branco é muito tempo de adega...

sexta-feira, 22 de março de 2024

Publicar, ou não

 

Será sempre uma questão interminável, essa que divide leitores e críticos conscientes: se se deve ou não publicar livros que um escritor deixou inacabados. Póstumos e não revistos pelo autor, a dúvida permanece, se se justifica ou não editá-los.
Eça, Sena estão aí para exercício e juízo de quem queira pronunciar-se.
O útimo caso foi a publicação recente de "Vêmo-nos em Agosto", romance póstumo e inacabado de Gabriel García Márquez (1927-2014) que os filhos do Nobel da Literatura de 1982 resolveram editar.
Descontando o habitual acriticismo mediático português, que sempre bate palmas a estas coisas, apoiado provavelmente pela editora lusa que publicou a obra, ao contrário o jornal alemão Die Zeit fez uma abordagem negativa do facto. Mas também Le Monde des Livres (15/3/2024) se pronuncia criticamente assim: "... le livre présente des défauts et incohérences, et la chute laisse le lecteur sur sa faim." Embora atenuando depois: "Mais l'extraordinaire puissance narrative est là, de même que la fulgurance de certaines images, drôles, piquants, ou l'art de mêler truculence et délicatesse."
Enfim, não há nada como ler esta obra de García Márquez, para se fazer um juízo pessoal ainda que subjectivo.

quinta-feira, 21 de março de 2024

2 Haiku, no dia da Poesia

 

Este dia tão longo
bem pequeno embora
para o cantar da cotovia.
...
Aos amantes da lua
as nuvens, às vezes,
oferecem uma pausa.


Matsuo Bashô (1644-1694)

quarta-feira, 20 de março de 2024

AELIS - La Quinte estampie réale (XIII° siècle)

Citações CDLXXXV



O ódio não é senão um defeito da imaginação.

Graham Greene (1904-1991).


terça-feira, 19 de março de 2024

Uma boa notícia



Depois do erro grosseiro de um qualquer funcionário de Cultura (?) português, que permitiu que um quadro maior de Domingos Sequeira (1768-1837) fosse levado para o estrangeiro, para ser vendido, é uma boa nova saber-se que a Fundação Lello tivesse comprado a obra e a venha a depositar num museu nacional, talvez no Norte, para a expor e ser vista pelos portugueses. Nem sempre as histórias acabam mal...

segunda-feira, 18 de março de 2024

Apontamento 160. Quando a ignorância roça a indigência

 


Quando, há dias, li, no Jornal DIE ZEIT, uma notícia, confesso que não acreditava em
tanto atentado ao bom senso, ignorância e completo despudor perante os valores
universais de respeito pelo património material e espiritual.
Ao que parece, o ditador Putin, elegeu, como seu orientador espiritual, o filósofo
Immanuel Kant, pelo facto de ter nascido em Königsberg, actual enclave Kaliningrad,
ocupada pela potência russa.
Ora, a manipulação dos pobres espíritos que, cá e lá, vai fazendo a sua marcha lenta,
obriga-nos a levantarmo-nos em peso perante a humilhação, por completa ignorância e abuso
de poder, dos nossos pensadores e cidadãos do passado que, infelizmente, já não se podem
defender de tanta devassa.
Cá estou eu para repor a verdade dos factos.
Existe um texto, ESPLÊNDIDO, para os tempos que correm, acessível através do:
The Project Gutenberg EBook of Zum ewigen Frieden, by Immanuel Kant.
A contribuição, excelente, de Immanuel Kant: Zum Ewigen Frieden, 1795, logo pelo
prefácio, anula por completo, as pretensões de um labrego russo com pretensões de grande
senhor. Coitado, nem lhe devia servir para engraxar os sapatos !
E para os mais incautos, resta consultar um Atlas Histórico – já que os atlas costumam
ser vendidos a preço de saldo – para saber que a cidade onde nasceu Immanuel Kant se
chamava Königsberg, fazendo parte, na altura do seu nascimento, do território designado
Prússia de Leste e pertencente à Prússia.
Pena é que estes fanfarrões nem sequer passam da leitura do prefácio em que o filósofo
define bem os maus políticos pelo facto de “nunca se saciarem das guerras” !

Post de HMJ

3 frases de Doris Lessing, não localizadas

 

Imperdoavelmente, tinha anotado as frases seguintes da escritora Doris Lessing (1919-2013), sem a devida indicação da obra de proveniência. Ainda assim, aqui ficam registadas:

1. O talento é algo bastante corrente. A inteligência escasseia, o que falta é a constância.

2. A biblioteca é a mais democrática das instituições, porque nada em absoluto pode dizer-nos o que ler, quando e como.

3. Eu só possuo uma das menos importantes qualidades necessárias para escrever: a curiosidade.

domingo, 17 de março de 2024

Mercearias Finas 197

 

Creio que nos últimos trinta anos conheci e provei muitas variedades de peixes que nunca tinha experimentado antes. Julgo que isto decorreu, em parte, das restrições impostas à pesca de algumas variedades de pescado, que obrigou a arte e os profissionais a virarem-se para outras qualidades menos conhecidas e mais numerosas quanto à existência marítima.
Se só nos anos 80 comi pela primeira vez Peixe-galo, em filetes, no restaurante 1º de Maio, ao Bairro Alto, o Rascasso veio já muito mais tarde à minha mesa, bem como o Cantaril, e o Lúcio que não é muito frequente aparecer à venda nas bancas do mercado. Quaisquer deles colheram a minha aprovação gastronómica e gosto de favoritos na alimentação.
Desta vez, dominical e assado, veio à mesa, em primícias nossas, um bodião, que dizem os compêndios é peixe que, com a idade, pode mudar de sexo. O que, nos tempos que correm, não é coisa anormal. Tendo sido acompanhado, e muito bem, por um Dão branco Vinha Maria Premium 2017 (Encruzado, Bical e Malvasia-Fina), nos seus 12,5º bem amadurecidos e saborosos.



 

sábado, 16 de março de 2024

Pinacoteca Pessoal 201

 

É um quadro a óleo pintado em madeira de carvalho, por Pieter Bruegel (1525?-1569), o Velho, que se encontra bem integrado no acervo do harmonioso e exemplar Museu Mayer van den Bergh, em Antuérpia. Numa visão desatenta, a figura central (Margot la folle) pode quase passar despercebida. E a obra é dificil de datar (1563?), embora seja do século XVI, pela sua autoria comprovada.



A personagem, figura popular ou folclórica do imaginário da cidade flamenga, à frente de um grupo de mulheres, prepara-se para saquear o Inferno, segundo a história local e lendária. O que não deixa de ser uma interpretação deveras curiosa...

sexta-feira, 15 de março de 2024

Da leitura (56)



Será talvez um livro sem pretensões*, o do japonês Satoshi Yagisawa (1977), mas que se lê bem, este Os meus dias na Livraria Morisaki (2023). E não deixa de ser interessante que a obra tenha no final um breve glossário que nos dá a conhecer o significado de algumas palavras japonesas. Como por exemplo:
Ayu - peixe de rio, de carne bastante doce.
Futon - cama tradicional japonesa.
Yukata - quimono de algodão.

* embora aureolado com a classificação editorial de bestseller na capa e a indicação de 2ª edição...

quinta-feira, 14 de março de 2024

quarta-feira, 13 de março de 2024

Bibliofilia 211

 

Serão hoje de pouco uso os dicionários e enciclopédias, facto visível até pelo baixo preço que atingem em leilões e alfarrabistas, e pelos sites muito diversos que os foram substituindo nas novas tecnologias. Rafael Bluteau (1638-1734) e António de Moraes Silva (1755-1824), no entanto, ainda são nomes importantes e respeitados, sendo que o dicionário iniciado pelo primeiro, e reformado e acrescentado pelo segundo, editado em Lisboa, no ano de 1789, por Simão Thaddeo Ferreira, merece ainda crédito por ter sido a primeira sistematização moderna do léxico da língua portuguesa.
O meu exemplar em perfeito estado de conservação foi comprado por Esc. 8.500$00, em finais dos anos 80 do século passado, na rua do Alecrim, nº 44, ao sr. Tarcisio Trindade (1931-2011). Embora os dois volumes, juntos, não estejam encadernados, estão capeados em papel da época e de fino gosto, como se pode ver, abaixo.



terça-feira, 12 de março de 2024

Apontamento 159: Pé ante pé, minando a democracia, até à desgraça final

Um partido de extrema-direita alemã, que dá pelo nome enganador de “Alternative für Deutschland” [ou seja, Alternativa para a Alemanha], com sigla AFD, tem, no Parlamento Alemão, 79 deputados, a saber, o correspondente a 10,61%.

Ora, o que se revelou, recentemente, é que os eleitos da AFD já contrataram, 100 elementos de vários grupos da extrema-direita alemã para os seus serviços de apoio.

Com efeito, a infiltração da extrema-direita no sistema já se iniciou, basta alargar a influência para, lentamente, continuar a minar a democracia.

Lá como cá, os seus apoiantes são desejosos de restaurar regimes totalitários – comunista ou fascista – porque, infelizmente, o seu horizonte mental não ultrapassa o muro da quintarola, incapaz de viver com liberdade e em democracia. Não aprenderam o benefício da autonomia do pensamento, o alcance e a abertura de espírito do livre arbítrio.

De facto, e parafraseando Camões: "Quem não sabe a arte, não na estima"!

Obviamente, quem não aprendeu o benefício da liberdade e da democracia, não a pode estimar. No fundo, são pessoas que têm medo da democracia e, por isso, querem acabar com o papão que os parece ameaçar, elegendo figuras sinistras preparadas e disponíveis para minar o sistema e a democracia por dentro.

Pobres criaturas, pobres países !

Os antigos e novos ditadores estão à espreita, agradecendo a ingenuidade de certos princípios democráticos que favorecem o seu objectivo final. i.e., a instabilidade permanente e o caos das sociedades com regras democráticas, com o fim da vivência plena das liberdades civis.

 Post de HMJ

 

Godowsky / Lozinskis

segunda-feira, 11 de março de 2024

Produtos Nacionais 28

 

Há quem lhe chame coçador, que me parece curto para identificar o objecto. E "mãozinha de madeira para coçar as costas", sendo óbvio, parece-me excessivamente comprido para nomear. Também desconheço se ainda se fabricam em território nacional, mas dantes vendiam-se bem e davam jeito para coçar a retaguarda, em vez de esfregar as costas nalguma esquina de parede, o que era, normalmente, incómodo e difícil.
Felizmente, ainda tenho um destes úteis objectos. E dou-lhe bom uso.

domingo, 10 de março de 2024

Votar

  

Completam-se este ano 55 sobre o meu primeiro voto, no ano de 1969, ainda em ditadura. Falhei uma única vez as eleições, nos anos 80, por estar doente. E nunca dei para o peditório dos nulos ou brancos, que me parecem uma bizarria inútil. Muito embora o meu voto deste ano me não despertasse um grande entusiasmo, sobretudo pelos causadores destas eleições antecipadas: os agentes menores (MP) e o fala-barato-mor (PR).
Votámos cedo, seriam umas 8h25 da manhã. E agradou-me muito ouvir a Presidente rejubilar para os companheiros da mesa (quando me devolveu o cartão de cidadão, depois de eu votar), dizendo: "Já temos 5%!"

sábado, 9 de março de 2024

As palavras do dia (54)

 
"Na verdade, quem defende esta nova forma de ignorância agressiva e de deslumbramento tecnológico não são os novos ignorantes, mas os antigos ignorantes, a quem as redes sociais dão uma ilusão de igualdade e uma presunção de saber que transporta todos os preconceitos da ignorância com o ressentimento em relação ao saber e ao esforço do saber. São a forma actual do anti-intelectualismo travestido de modernidade, cujos estragos na educação, no jornalismo, na sociedade, na cultura e na política são desvastadores."

J. Pacheco Pereira, in jornal Público de 9/3/2024.

sexta-feira, 8 de março de 2024

Revivalismo Ligeiro CCCXXVI

Desabafo (86)

 
O nível estético das imagens, sobretudo de paisagens - que os desenhos são simplesmente pueris - do Google (a abrir programas) lembra-me o dos postais turísticos bonitinhos e parolos de 3ª classe, que se vendem por aí.
God bless America!

Divagações 192

 

Já uma vez por aqui referi que Maigret era bem frequentado, por alguns dos nossos escritores. Na colecção da Bertrand (49 volumes?) Georges Simenon foi traduzido, ao menos, por António Barahona da Fonseca (nº 9 e 39), Vasco Pulido Valente (nº 11), Maria A. Menéres (nº 26) e Ana Luísa Amaral (nº 27).
Pela colecção Vampiro, da Livros do Brasil, tinha já acontecido uma situação muito semelhante. Até Alexandre O'Neill traduziu Simenon. Sempre considerei este facto como uma hipótese de virem a existir versões portuguesas de melhor qualidade pelo trabalho destes escritores. Uma ou outra pequena dúvida no texto português, eu decidia-a a favor do tradutor e contra mim.
Embora as traduções de Simenon para alemão também não foram, na altura, bem apreciadas pela crítica, apesar do trabalho ter sido efectuado pelo poeta Paul Celan.
Mas a última discrepância deixou-me sem solução à vista. Tratava-se da palavra Strand (pgs. 115 e 147), traduzida no livro "O revólver de Maigret" (nº 39 da Bertrand) como masculino, por A. Barahona da Fonseca. Do meu ponto de vista, deveria ser feminina. Strand é, de significado base e linear: praia, margem, em português. Até justificável, em si, pela rua ser paralela ao Embankment do rio Tamisa, que corre nas proximidades. E, por sua vez, rua, em português, é também substantivo feminino. Daí a minha dúvida sobre esta versão portuguesa, masculina.
Mas lá afirma a sabedoria popular: No melhor pano cai a nódoa.

quinta-feira, 7 de março de 2024

Apontamento 159: O PAÍS à espera

 ?

Cadê da promessa de apresentar o NOVO GOVERNO DA REPÚBLICA ?

De um golpe de publicidade, que entretanto deixou de ter importância, porque os jornais não funcionam por memórias, aqui ficamos nós, à espera do PAINEL de convocados !



Post de HMJ


Para MR,

 


estas anémonas, de Raoul Dufy, que virtualmente lhe endereçamos, para alindar o seu aniversário, com os nossos parabéns afectuosos!

quarta-feira, 6 de março de 2024

Pioneiro e atrevido

 

Foi o primeiro dos muitos (cerca de 40) brotos do limoeiro da varanda a Sul a desabrochar e ver a luz de Março, ainda que parcialmente virado para a parede da casa. A ver vamos se sobrevive até ser um fruto perfeito.

Mendelssohn/ Gabetta/ Chamayou : Cello Sonata No. 2, Op. 58/MWV Q 32: III. Adagio

terça-feira, 5 de março de 2024

Pablo Anadón (Cordoba - Argentina, 1963)

 

Final del Día

Assim devia ser, como de súbito
a pomba levantasse voo
e fosse um breve aplauso de si mesma


P. A. in El trabajo de las horas, 2006.

segunda-feira, 4 de março de 2024

Parece que Magritte andou por cá...

 

... ou uns hipocampos, quase desvanecidos, se foram apagando, de Norte para Sul no céu de Lisboa.

Olisipografia



É vastíssima a temática sobre Lisboa, sob amplas perspectivas. E vem de longe, talvez anterior a Francisco de Holanda (1517-1585) com a sua Da Fabrica que falece à cidade de Lisboa (1571). Júlio de Castilho, Norberto Araújo e Pastor de Macedo são alguns destacados olisipógrafos. Marina Tavares Dias (1962), uma das mais recentes. Esta colecção, de que se apresentam duas imagens, acima, aborda as freguesias de Lisboa e o programa prometia abranger 53. De forma sucinta, em livrinhos quase de bolso e que permitiam guiar os viandantes de forma útil em passeios informados, a obra data dos anos 90 e teve a colaboração da Sociedade de Geografia de Lisboa.

sábado, 2 de março de 2024

Leituras paralelas 1

 

Do final dos anos 40 do século XX até meados dos anos 70, as edições de livros de viagens, por parte de escritores portugueses, foram muitas. Revelando talvez uma abertura e curiosidade em conhecer o estrangeiro e viver uma liberdade que não existia em Portugal, nessa época. Do resto da Europa até às Américas, podem referir-se testemunhos de Ilse Losa, Agustina, Torga, Urbano Tavares Rodrigues, Natália Correia... Que também deram a conhecer outros mundos, aos seus leitores.
Igualmente Joaquim Paço d'Arcos (1908-1979) deixou um extenso volume (436 páginas), que foi editado pela Guimarães Editores, das suas deambulações pelos Estados Unidos da América, entre 1952-53, e de que vou transcrever a página 211. Como se segue:



El GRAN CAÑON DEL COLORADO

Este golpe fundo que rasga a superfície da terra numa extensão de 217 milhas e numa largura que, em certos pontos, atinge as 20 milhas, foi descortinado a primeira vez por gente branca em 1540. Foi um coquistador espanhol, Don Lopez de Cardenas, o primeiro a desvendar-lhe o estranho segredo. Depois, por mais de dois séculos, o ignoto, prolongado e fundo talvegue voltou a guardar, inviolável a olhos de gente civilizada, seu terrífico mistério. Voltaram a descobri-lo os missionários espanhóis em 1776.
Hoje estamos aqui, sentados à beirinha do seu maior precipício, um australiano ainda novo, de grandes e já desusados bigodes negros, o senhor Dekker e a respectiva cara-metade, vindos de Amsterdão até este fim do mundo, e nós, vindos da beira-Tejo. O australiano regressa à pátria, de volta de Inglaterra. Deve tomar, dentro de dias, o avião em Los Angeles, para o grande salto sobre o Pacífico. Fez este desvio da rota para ver o que vale bem a pena ser visto. O senhor Dekker anda em viagem de negócios e no caminho vai fazendo turismo por conta da firma holandesa. Nós viemos até aqui por simples e bem compensada curiosidade de viandantes.
À nossa frente abre-se a cova desmedida, comprida demais para simples cratera, abrupta demais para simples vale. Abre-se em degraus e em cada um deles a rocha toma configuração e cor diversas. Foram as águas do rio Colorado que rasgaram, ao longo da eternidade dos séculos, esta garganta monstruosa, prodígio quase absurdo da Natureza e afinal simples malefício da erosão. As águas das chuvas, desgastando as rochas, o calor e o frio extremos, dilatando-as e contrariando-as, o vento do deserto, varrendo-as, e a corrente do rio, dilacerando-as, foram os agentes do fenómeno, tão persistente que nunca, em milhões e milhões de anos, interromperam o infatigável trabalho.




Sergei Prokofiev (1891-1953) : Prelude - Op. 12 No. 7

sexta-feira, 1 de março de 2024

Apontamento 159: Em defesa da democracia é urgente reavivar a memória


 

Ora, numa altura em que começam a sair uns “esqueletos” dos armários, apostados na manipulação do eleitorado, convencidos da insanidade e amnésia da sua memória, convém repor, em defesa do rigor e objectividade da História, os factos que se pretendem esconder debaixo de um tapete ideológico, pretensamente liberal, mas de ameaça encoberta dos valores da democracia plena.

Ora, para as pessoas com memória, lembram-se que Vasco Gonçalves, quando discursou numa colectividade da Cova da Piedade, encontrava-se, de facto, a uma pequena distância da residência do camarada “Zé Manel” do MRPP, poiso outrabandista que a mudança ideológica posterior convinha apagar.

Ora, o que não se consegue apagar, embora as fotos não se conservem como gostaria no registo da memória individual, é o facto de o dito cujo camarada “Zé Manel” tenha sido do MRPP e com um discurso bem mais esquerdista do que o citado Vasco Gonçalves.

O que sublinho como estratégia pobre é o facto de os “esqueletos” saírem com argumentos alheios ao mal que fizerem ao país e às pessoas.

O pafunço falou dos imigrantes, esquecendo-se da sua responsabilidade  no empobrecimento do país.

A Cristas fala das mulheres para omitir o desastre em que se tornou o centro da cidade com a lei Cristas que merece ter o seu nome. Acabou com os estabelecimentos tradicionais, de serviço, de cultura, etc., empenhada numa cidade “Disneylândia”, certamente inspirado e ao gosto da sua família e dos filhinhos.

A “azeda-leite” também não falhará, como o ressabiado, mas bem aconchegado com os aposentos do Estado, e outras manhas mal esclarecidas.

Deus nos livre !

Só nos faltam as “conversas em família” e a bênção da Igreja.

Post de HMJ

Releituras

 

Foram leituras gratificantes as que fiz, no passado, do francês Maurice Genevoix (1890-1980). Os bestiários, Terno (1989) e Encantado (1991) vertidos para português, na Cotovia, em boas traduções de José Dinis Fidalgo (1960). Mais tarde vim a ler, na edição original, das Éditions du Seuil, uma singular autobiografia Trente mille jours (1980), do escritor.



Aqui deixo, do primeiro destes singulares bestiários, um pequeno extracto do texto sobre a garça-real, que estive a reler:

" - La Fontaine descreve-a correctamente, «sobre os seus longos pés deslocando-se não sei para onde, a garça-real de bico comprido encabado num comprido pescoço». Porém, a garça-real sabe muito bem para onde se dirige. Mesmo se lhe acontece engolir um caracol, não foi por a pesca ter redundado num vergonhoso desaire, é que o seu apetite hereditário pela carne da carpa ou do lúcio (ainda continuo a tomar La Fontaine por referência), não a impede de modo algum de apreciar a carne untuosa do caracol. Que pensariam disto os apreciadores de caracóis?" (pg.53)

Do belo livro, eu destacaria ainda, por impressivos, os pequenos capítulos dedicados ao Castor, ao Javali e ao Matadouro, bem como os que falam do Ouriço-cacheiro e do Vairão.

Adagiário CCCLXIII



Quando Março sair ventoso, o Abril sai chuvoso.