Do final dos anos 40 do século XX até meados dos anos 70, as edições de livros de viagens, por parte de escritores portugueses, foram muitas. Revelando talvez uma abertura e curiosidade em conhecer o estrangeiro e viver uma liberdade que não existia em Portugal, nessa época. Do resto da Europa até às Américas, podem referir-se testemunhos de Ilse Losa, Agustina, Torga, Urbano Tavares Rodrigues, Natália Correia... Que também deram a conhecer outros mundos, aos seus leitores.
Igualmente Joaquim Paço d'Arcos (1908-1979) deixou um extenso volume (436 páginas), que foi editado pela Guimarães Editores, das suas deambulações pelos Estados Unidos da América, entre 1952-53, e de que vou transcrever a página 211. Como se segue:
El GRAN CAÑON DEL COLORADO
Este golpe fundo que rasga a superfície da terra numa extensão de 217 milhas e numa largura que, em certos pontos, atinge as 20 milhas, foi descortinado a primeira vez por gente branca em 1540. Foi um coquistador espanhol, Don Lopez de Cardenas, o primeiro a desvendar-lhe o estranho segredo. Depois, por mais de dois séculos, o ignoto, prolongado e fundo talvegue voltou a guardar, inviolável a olhos de gente civilizada, seu terrífico mistério. Voltaram a descobri-lo os missionários espanhóis em 1776.
Hoje estamos aqui, sentados à beirinha do seu maior precipício, um australiano ainda novo, de grandes e já desusados bigodes negros, o senhor Dekker e a respectiva cara-metade, vindos de Amsterdão até este fim do mundo, e nós, vindos da beira-Tejo. O australiano regressa à pátria, de volta de Inglaterra. Deve tomar, dentro de dias, o avião em Los Angeles, para o grande salto sobre o Pacífico. Fez este desvio da rota para ver o que vale bem a pena ser visto. O senhor Dekker anda em viagem de negócios e no caminho vai fazendo turismo por conta da firma holandesa. Nós viemos até aqui por simples e bem compensada curiosidade de viandantes.
À nossa frente abre-se a cova desmedida, comprida demais para simples cratera, abrupta demais para simples vale. Abre-se em degraus e em cada um deles a rocha toma configuração e cor diversas. Foram as águas do rio Colorado que rasgaram, ao longo da eternidade dos séculos, esta garganta monstruosa, prodígio quase absurdo da Natureza e afinal simples malefício da erosão. As águas das chuvas, desgastando as rochas, o calor e o frio extremos, dilatando-as e contrariando-as, o vento do deserto, varrendo-as, e a corrente do rio, dilacerando-as, foram os agentes do fenómeno, tão persistente que nunca, em milhões e milhões de anos, interromperam o infatigável trabalho.
Um dos sítios que gostaria de visitar. Bom dia!
ResponderEliminarÀ partida, parece único e espectacular!
EliminarBoa tade