Mais de duas mil e seiscentas páginas de leitura, e o convívio renovado com as palavras escritas de François Mauriac (1885-1970), que foi um dos meus prosadores preferidos nos anos 60 do século passado, permitiram-me restaurar a empatia humana e confirmar a qualidade das suas reflexões. Os 5 Bloc-notes que andei a ler nestes últimos seis meses, e que acabei anteontem, clarificaram, à saciedade, a perseverença de duas enormes fidelidades do romancista francês: ao catolicismo e ao exercício político de Charles de Gaulle (1890-1970), cuja acção quase sempre apoiou.
Deste V e último tomo, destaquei alguns excertos, de que vou transcrever, traduzindo, apenas dois. Assim:
"Os mortos que não esquecemos e de quem celebramos os aniversários deveriam recordar-nos aqueles que nós esquecemos. Regozijo-me que, cinquenta anos após a sua morte, Guillaume Appolinaire se mantenha tão vivo na memória, mas aflige-me que, hoje, trigésimo aniversário da morte de Francis Jammes, nenhuma voz o tenha lembrado e que a sombra se adense sobre uma obra, mais que revolucionária talvez para os poetas da minha geração, mas não para os mais jovens como a de Apollinaire." (pg. 135/6)
"Nada me pode dar maior prazer do que o anúncio de um novo volume do Bloc-notes preparado pelo meu editor. Será o quarto se não me engano. De uma forma ou de outra, eu conto com este testemunho que deixarei. Não sei o que acontecerá ao Noeud de Vipères, a Thérèse Desqueyroux ou a Un Adolescent d'autrefois. Pelo contrário, conto com esta obra, que não é somente a história vista através de um temperamento, mas que se confunde com a minha vida mais pessoal. Isto constitui uma experiência singular que eu creio ter sido o único a ter tentado." (pg. 347)
(Não estou muito seguro de que François Mauriac tenha acertado nesta sua última previsão...)