quinta-feira, 17 de abril de 2014

Romarias


Num determinismo e previsibilidade fatais, começaram já as visitas intensivas e contínuas aos postes, no Arpose, com imagens de quadros da crucificação de Cristo (Dali, Memling, Grünewald, Mantegna) e das cavacas (Páscoa), bem como, embora menos, ao 25 de Abril - é um facto que este seguidismo atávico se repete todos os anos, como a comprovar a teoria de Pavlov...
De tal modo que, este ano, nem sequer tenho vontade de vir a celebrar estas datas, de forma a não banalizar, ainda mais, os acontecimentos e a romaria.
O primeiro é o autêntico e verdadeiro: o 25 de Abril foi aquele que vivemos e como o vivemos, há quase 40 anos. E, há que dizê-lo, foi uma experiência emocionante que não é possível retransmitir e recriar. Muito menos, aos mais novos, sobretudo porque, no ponto em que nos encontramos, hoje, quase não dá para acreditar na bondade das intenções antigas. E, se chegámos aqui, foi por laxismo e comodismo, complacências diversas, porque as elites, em grande parte, se venderam à Finança, pagando com silêncio e cedências o seu prato de lentilhas. E o vazio foi ocupado pelos homens dos números e pelos mercenários políticos, cá, como por toda a Europa. 
Não se pode dizer, se formos realistas, que o balanço é positivo, nem eu quero terminar com esperançosas palavras moralistas de misericórdia cristã. Porque também Cristo, inalterável e simbolicamente, vai morrendo todos os anos... Para exemplo de uma certa inevitabilidade trágica e humana.

4 comentários:

  1. Porquê "seguidismo atávico"? Não publica para ser lido? Espero que não se ofenda com a minha dúvida, mas de vez em quando escreve essas coisas e eu, como seu leitor regular (e feliz com o que leio), acabo a sentir-me um pouco esquisito...

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    1. Claro que escrevo para ser lido, meu caro A. C., mas procuro, sempre, dar a minha opinião pessoal e testemunho autêntico - evito copiar, mesmo que simples sugestões. Vivemos numa época bastante acarneirada em que, grande parte das pessoas, para (ou por) não pensar, seguem a corrente maioritária, alegre e superficialmente, numa "insustentável leveza de ser".
      Sempre me incomodou, e incomoda, o estereótipo banalizado da "mainstream", que reproduz, cegamente, as palalvras e imagens dos outros, sem se questionar, seriamente, sobre aquilo que realmente pensa. Por preguiça. Daí o sucesso de muitos comentadores televisivos e os milhões de portugueses que, muitas vezes, frequentam vídeos indigentes, num frenesi acéfalo.
      Uma opinião original, mesmo que pobre, é mais importante que o rebuscado quitche de um plágio ou o cumprir de uma data - para parecer bem, ou politicamente correcto. Julgo que, com este arrazoado, me tenha feito entender, de forma clara.
      Desejo-lhe, cordialmente, uma boa Páscoa familiar!

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  2. Errata:
    onde escrevi "palalvras", deve ler-se - palavras.

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  3. Fez-se entender perfeitamente. Eu só quis dizer que é natural que os seus textos sejam procurados por muitos, e não necessariamente para os reproduzir (por muito que o mereçam).
    Para si, uma Páscoa igualmente aquecida pela companhia dos que lhe são próximos!

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