quarta-feira, 16 de outubro de 2013

60 anos


Não fora o TLS dar a notícia e eu teria dificuldade em acreditar que Le Livre de Poche, francês, cumpriu este ano 60 anos de edição. Em casas onde se saiba francês, é quase impossível não encontrar, na biblioteca, vários exemplares desta popular colecção de preços módicos, cujo número 1 (Koenigsmark, de Pierre Benoit) foi posto à venda a 9 de Fevereiro de 1953. 
Até 31 de Outubro, no Boulevard Saint-Michel, a exposição Une Vie à Lire (Espaço literário Louis Vouitton) celebra este notável acontecimento e a longevidade rara de uma colecção prestigiada.

René Aubry, do último álbum


Regionalismos transmontanos (10)


1. Arolas - ditos tolos, parvoíces. (Conheço também com o significado de mentiras)
2. Artajeiro - indivíduo troca-tintas.
3. Arteiro - desembaraçado, desejoso, interessado, predisposto.
4. Asagre - uva verde.
5. Assisadeira - mulher de má língua, murmuradeira.
6. Atajadeiro - lisonjeador, lambe-botas.

Lembrete 10


Foi um acaso feliz, embora com atraso, eu ter-me lembrado, hoje, da História do Futuro, do Padre António Vieira, que, ontem, acompanhava o jornal, ao preço de 5,95 euros. Até porque a obra, nas edições normais e antigas, não é nada fácil de encontrar.
Felizmente, a tabacaria ainda tinha 2 exemplares - ficou só com um. Aqui fica o lembrete, para quem goste de Vieira. Na próxima terça-feira (22/10/13), sai  Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio, mas esse já não o comprarei porque o tenho, embora numa edição vulgaríssima.

Acidentes domésticos e afectos


A derrocada inesperada de uma prateleira, por demasiado cheia e excesso de peso, provocou a deslocação oblíqua da secção de literatura espanhola que, só não caíu, porque ficou suportada, do lado direito, pelos livros franceses, da prateleira de baixo.
HMJ, sempre mais prática do que eu, rapidamente lá escolheu uma nova estante, que mandou vir e montar. Abrindo assim um novo espaço de arrumo, bem necessário, pelo despontar ameaçador de várias "colinas" literárias, de montículos diversificados, que se iam erguendo pelo escritório...
Houve, então, o transvazar. E foi deste modo que os afectos, naturalmente, vieram à tona. Porque escolhi, para o lugar mais nobre da nova estante, por esta ordem, os livros estrangeiros: Juan Ramón Jimenez, Quevedo, René Char...

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Apontamento 25: "Pronunciei-me", glosando Almeida Garrett



Por detrás de pretensos discursos explicativos sobre a inevitabilidade de medidas castradoras, previstas no código do sistema neo-liberal e dirigidas àqueles que vivem do esforço do seu trabalho, e não aos que praticam a usura, descobrem-se cada vez mais os jogos do poder económico, comprometendo o poder político e, sobretudo, os que se põe a jeito como é a CDU da Senhora Merkel.
Já o Senhor Kohl, de quem nunca gostei, viu-se envolvido em escândalos de financiamento ilícito do seu partido, i.e., a CDU. Agora, pouco depois das eleições da Alemanha, em que a Senhora Merkel anda há semana “em conversações” para constituir um governo, a CDU recebeu um presente “inesperado”: 690.000,00 de euros da família Quandt, detentora da empresa que fabrica os carros BMW ! Coincidência suprema ! Não é que a EU está a querer, contra a firme oposição da Senhora Merkel, legislar sobre os limites de COnos veículos automóveis.
Para quem ainda não percebeu o motivo da resistência merkeliana a tamanha iniciativa, já se tornou clara a sua oposição: “Favor com favor se paga”
Certamente, a oposição da Senhora Merkel relativamente à supervisão bancária no espaço da EU esconderá outras moscambilhas, cujo preço social e cultural ficamos a saber hoje. Segundo o dito popular: “Quem cabritos vende e cabras não tem, dalgum lado lhe vem.”
Perante isto, o “nosso” Zé Manel, que deve ter tido uma abrangente passagem adminstrativa nas cadeiras que implicavam o domínio do direito constitucional e das instituições, não se pronuncia.
Fizeram bem os poucos resistentes, democratas e europeus, que lhe fizeram lembrar os princípios da Constituição Europeia que ele jurou. Certamente, já não se lembrava muito bem como o nosso exemplar, o esquecido belenense.
E perante todos os interesses ocultos resolvi pronunciar-me, tal como A. Garrett, esperando pelo engrossar do “sopro” patriótico que tarda a surgir perante tanta humilhação social e cultural.


Post de HMJ

Citações CLV


A poesia inferior ganha em ser declamada, aumentada nos ouvidos, não nos olhos. A superior perde assim; ganha lida em silêncio com os olhos.

Juan Ramón Jimenez (1881-1958), in Estetica y Etica Estetica (Aguilar, 1967).

Revivalismo Ligeiro LXXVIII : Simon & Garfunkel


Retratos 11 : retrato do artista enquanto velho


Eu sei que vou consumir, magoar ou afligir algumas almas boas, piedosas e cristãs, mas que diabo!, este Blogue nunca se propôs espalhar, apenas, bem-aventuranças e, muito menos, a concórdia universal... Disparemos, então, com misericordiosa contenção. As almas sensíveis que se precatem!
Todos os dias, ele cai sob os meus olhos (porque todos os dias, atávico, eu compro o jornal), na sua cada vez mais infantilizada (a idade não perdoa, só ofende e agrava...) coluna. E, às vezes, custa-me ver esta degradação mental acentuada, este estreitamento doméstico de horizontes, porque o rapaz já foi pioneiro e inovador a escrever (embora inteligente e oportunista - basta ver o título de alguns dos seus livros, para deslumbrar e iluminar pategos...). Mas, hoje em dia, tudo se resume ao romance da coxinha, o tidesco folhetim de antanho, a comida (Freud diria...), ou o Estrangeiro (normalmente marcano) das mil delícias...
Portugal parece não existir, ou não lhe interessa. O homem parece um selenita, nunca fala daqui, num monarquismo soberano e diletante. A verdade é que ele só é meio português, mas que diabo!, então o ar que respira?, este solo que pisa? a miséria que (não) vê? Porque também é este miserável país que lhe paga (bem?) a distracção sobranceira e a sobrevivência razoável e diária.
Hoje, no entanto, redimiu-se um pouco, perante mim - disse uma verdade, pequenina é certo, sem grande importância, mas real. A benefício de inventário, citemos, da sua crónica, no jornal Público: "Hoje até os mais competentes críticos literários anglo-americanos incluem um resumo integral dos romances e dos contos sobre os quais escrevem. ..."
O que ele deve ter suado para chegar aqui!

Retro (37)


Os anúncios datam do ano de 1933. Mas creio que, ainda hoje, estes hóteis cumprem a sua função, dignamente, pelo menos, o Avenida Palace Hotel, junto à Estação do Rossio, e que, durante o período da II Grande Guerra, porque em terreno neutro, era um coio de espiões, sobretudo britânicos e alemães.

O Aterro


O Aterro, também chamado Grande Aterro ou Aterro da Boa Vista (do nome homónimo da praia fluvial ali existente), foi obra grande da engenharia portuguesa do século XIX, que teve como objectivo principal a construção do novo ou moderno porto de Lisboa, ordenando, humana e artificialmente, a margem direita do Tejo. As obras de conquista de terras ao rio, com pedras da região de Marvila, permitiram, também, a construção da Avenida 24 de Julho.
Dei-me conta, há dias, da diminuta quantidade de autores portugueses que se estudam no ensino secundário, se comparados com os escritores que eu tive de estudar, na minha juventude. Soterrados ficaram, entretanto, os Cancioneiros, medievais e Geral, Sá de Miranda, Francisco Manuel de Melo, grande parte do séc. XVIII, Nobre, Camilo... E a actualização dos nossos dias incorporou mais, e apenas, Pessoa, Sttau e Saramago.
Com esta rasura e aterro, nem sequer se construiu (em jeito de metáfora) nenhuma útil Av. 24 de Julho... E eu bem gostaria de saber porquê? Ou em nome de que alto espírito e intenção.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Apontamento 24: Conciso, oportuno e claro



Zona de desastre
por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES


Dois relatórios recentes, de duas instituições conhecidas pela sua independência e dedicação às causas mais nobres e humanitárias, a saber, a OXFAM e a Cruz Vermelha, traçam uma imagem do horror social a que nos tem conduzido a liderança política da crise europeia. Em Berlim, em Bruxelas, em Frankurt, mas também nos palácios dos regedores nomeados para Lisboa ou Atenas, estes relatórios serão deitados para o lixo, sem serem lidos, com um esgar de indiferença. Os ideólogos são assim. Não deixam que a realidade os surpreenda. A ideologia é confortável, pois crê que a nossa representação do mundo substitui o seu conhecimento. A ideologia conduziu ao Holocausto e à Guerra Total do nazismo, ao Gulag estalinista e maoísta. Agora, parece estar a conduzir à implosão da Europa às mãos dos fanáticos que acreditam na bondade de mercados financeiros autorregulados. Quando, depois de 2008, foi preciso injetar 4,5 biliões de euros dos contribuintes para salvar o sistema bancário europeu, levando os Estados a acumular dívida pública, esta gente trocou as causas pelos efeitos, ao responsabilizar os povos pela ganância de muitos banqueiros e governantes. A austeridade coloca centenas de milhões a pagar os desmandos de alguns milhares, ameaçando devastar a UE e sacudir o mundo. Os relatórios mostram que a Europa é o único continente onde a pobreza cresce, ameaçando um quarto da população num futuro próximo! A riqueza concentra-se cada vez mais nas mãos de poucos. Milhões de famílias, mesmo trabalhando, não conseguem sobreviver com salários miseráveis, ditados pela "flexibilidade do mercado laboral". A cidadania está sufocada pela difusão do poder efetivo em estruturas que fogem ao escrutínio democrático. A humilhação e a pobreza alimentam a revolta. O tempo escasseia para arrepiar caminho.

Post de HMJ

Outro poema de Manoel de Barros


Poderoso pra mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre
as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.

Interlúdio 38 : ex cathedra


Plagiando Pessoa: tão jovens, que jovens eram!...
Há que procurá-los do centro para cima.
Um olha para baixo, para a terra, o outro, para o reino dos céus...

com agradecimentos a A. de A. M..

Franz Liszt / Martha Argerich


A par e passo 61


A poesia francesa difere musicalmente de todas as outras, chegando ao ponto de ser olhada, por vezes, como se fosse privada dos encantos e recursos que se encontram noutras línguas à inteira disposição dos poetas. Creio, no entanto, que há por aqui um erro; mas este erro, como acontece com frequência, é uma dedução ilegítima e subjectiva de uma observação exacta. É a língua, em si mesma, que é preciso considerar para definir a singularidade fonética; esta, desde que bem determinada, poderemos tentar explicá-la.
Três características distinguem nitidamente a língua francesa das outras línguas ocidentais: o francês, bem falado, não canta quase nunca. É um discurso de registo pouco amplo, de palavras mais lisas do que as outras. De seguida: as consoantes em francês são predominantemente temperadas (adoucies); nada de figuras rudes ou guturais. Nenhuma consoante francesa é impossível de ser pronunciada por um Europeu.
Finalmente, as vogais francesas são numerosas e cheias de nuances, formando um raro e precioso conjunto de timbres delicados que oferecem aos poetas dignos desse nome valores pelo jogo dos quais eles podem compensar o registo temperado e a modulação geral dos acentos da sua língua. (...)

Paul Valéry, in Regards sur le Monde actuel (pgs. 137/8).

domingo, 13 de outubro de 2013

Pinacoteca Pessoal 60


Não sendo dos mais citados pintores da Renascença, o florentino Mariotto Albertinelli (1474-1515) é referido por Vasari.
Esta obra de laica religiosidade, poderia representar apenas o encontro de duas boas amigas, na sua linearidade simples e clássica. Sabemos, no entanto, que se trata da "Visitação" da Virgem Maria a sua prima, Santa Isabel. E há nele um rasgo de extrema originalidade pictórica no aperto de mão familiar, entre as duas mulheres, que julgo ser único na pintura europeia.
O quadro de Albertinelli, de 1503, pertence ao acervo dos Uffizi, em Florença.

Em jeito de gestão participativa...


                                                              Ocorrem-me em revista exposições, países:
                                                              Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!

                                                                       Cesário Verde, in O Sentimento dum Ocidental

De vez em quando, fez-se-me hábito dar, aqui no Arpose, conta de perspectivas gerais, search words insólitas ou parvas, números de visitantes, percentagens genéricas sobre a vida interna do Blogue. Cabe hoje a vez à intensidade das visitas, por países, desde a fundação, em Novembro de 2009. Aqui vão os 10 mais:

Portugal - 256.756 visitantes
Brasil - 132. 444
Estados Unidos - 36. 276
Rússia - 20. 712
Alemanha - 13. 367
França - 8. 077
Holanda - 3. 685
Espanha - 2. 994
Reino Unido - 2. 579
Ucrânia - 1. 304.

Confesso que me surpreende a 4ª posição da Rússia, com tantas visitas, porque a 3ª posição dos Estados Unidos é devida à frequência diária que o Google faz, por sistema, ao Arpose, bem como os coscuvilheiros da NSA. Também estranho que a Ucrânia consiga arrebatar a 10ª posição, no ranking. Pela negativa, só a Espanha, país aqui ao lado, que se queda numa humilde 8ª posição...

sábado, 12 de outubro de 2013

Divagações 57


Se um poema breve pode provocar, num leitor atento, um coup de foudre instantâneo e fulminante, um extenso poema, se for bom, é como uma flor que se vai abrindo, lentamente, e nos vai conquistando, pouco a pouco, pela sua beleza. É o caso, por exemplo, de Anabase, de Saint-John Perse, ou do fragmento inacabado de  Endymion ("A thing of beauty is a joy forever..."), de John Keats.
Li, hoje, para alguém muito jovem, e em voz alta, o poema Tabacaria, de Fernando Pessoa. Eu próprio fui sendo envolvido nos seus versos, apesar de já o ter lido muitas vezes. E o poema envolveu, também, a juventude de quem o ouviu. Mesmo que o Dono da Tabacaria (com maiúsculas iniciais, no original) seja Deus (como alguns sugerem), não é por isso que este longo poema de Pessoa nos conquista. Algo de mais profundo se insinua, apesar do dramático final:

                                                                      "..., e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu."

Brian Crain : "Song for Rome"


Comic Relief (75)


Como, hoje, o Blogue, via adelphia. net (Colorado Springs), já teve 4 visitas soezes da NSA, vem a propósito esta cuidada e inteligente prudência do nosso PR...

grato reconhecimento a AVP.

Pequena história (25)


A informação colhi-a no TLS (nº 5765), a propósito da tradução dum livro (Italian Identity in the Kitchen) de Massimo Montanari. E, se a primeira informação peca por demasiado generalista, a história sequente é, pelo menos, interessante.
Assim, o articulista refere que a gastronomia tradicional italiana tem dois contribuintes primitivos e maiores: os romanos, com o pão, o vinho e o azeite; e os bárbaros, que trouxeram a carne, o leite, a manteiga e o toucinho.
A historieta também é simples. Conta-se que Cavour (1810-1861), aquando da reunificação de Itália, ao ser tomada a Sicília - grande produtor de laranjas -, mas faltando ocupar e conquistar Nápoles (pátria regional do macarrão), terá dito para os seus companheiros: "As laranjas já estão na mesa, já podemos comê-las. Quanto ao macarrão, temos de esperar mais um pouco, porque ainda não está cozinhado..."

Matsuo Bashô (1644-1694)


Arde o Sol, arde
sem piedade - mas
o vento é já de Outono.

...
Ando e ando, se
hei-de cair, que seja
por entre os trevos.

...
Que agradável é assim
não ver o Monte Fuji
 cerrado em neblina.


Nota: nascido em data incerta do ano de 1644, Matsuo Bashô terá morrido a 12 de Outubro de 1694.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A abulia e Cioran


Os extremos da abulia! Para lhe escapar, leio de vez em quando algum livro sobre Napoleão. A coragem dos outros serve-nos, por vezes, de tónico.

E. M. Cioran (1911-1995), in Cahiers 1957-1972 (pg. 16).

Ludovico Einaudi : "O voo dos grous"


A estética e a galeria Presidencial


Há opções que só dignificam quem escolhe e que evidenciam o bom gosto. Quando Mário Soares escolheu Júlio Pomar para lhe pintar o retrato, demonstrou não só uma vontade de ruptura com o passado, mas também que tinha um apurado sentido estético de modernidade. Jorge Sampaio não era tão ousado - uma espécie de Paulo VI, depois do revolucionário João XXIII - e, por isso, optou por Paula  Rego. Confere. Porque, às vezes, os militares têm gostos insólitos: quem é Francisco Lapa que, além de amigo, pintou o retrato de Spínola, exposto em Belém?
Teófilo Braga e Teixeira Gomes escolheram o melhor: Columbano. Justificando exigência, bom gosto estético e cultura. Confere, também, e da melhor forma.
O actual PR deve andar em bolandas metafísicas, porque já é tempo de escolher quem o retrate. O problema é que Eduardo Malta, que pintou o Gen. Craveiro Lopes, já morreu. Henrique Medina, também. Pode ser que haja, por aí, algum pintor-de-domingo que não se importe de o modelo ser paupérrimo... Em último caso, há sempre um manequim de madeira, da Rua dos Fanqueiros, para simular a post-modernidade. E que, exposto com jeito, causará algum espanto, aos visitantes do Palácio de Belém, no futuro.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Apontamento 23: A sangria do Sul em benefício da Alemanha


Se o Tempo, “esse grande escultor”, não existisse, teria que ser inventado para explicar a amnésia, por parte da Alemanha, na “má-formação congénita” do Euro. Ao que parece, a moeda única foi o “isco” lançado pelo chanceler na altura, Helmut Kohl, para sossegar os vizinhos, perante uma reunificação da RDA com a RFA, e no sentido de afastar o “papão” da GRANDE ALEMANHA.
Com efeito, a “má formação” tem dono e acarreta responsabilidade, contrariando a “aparente” amnésia histórica dos actuais dirigentes alemães que, de forma insuportável, abusam da paciência dos cidadãos com a sua sobranceria perante os povos da Europa.
Sucede, no entanto, que os dados sobre a literacia dos europeus, em idade activa, i.e. até aos 65 anos, aconselham prudência e humildade. A Alemanha fica abaixo da média europeia, juntando-se aos analfabetos funcionais dos EUA e ficando pouco acima de  Chipre que alguns incautos teimam em citar como maus exemplos.



O facto de Portugal não constar da estatística da OCDE, e ao que consta por falta de verba (!), tem pouca importância, porque não se pode comparar o incomparável. Ou seja, uma Alemanha com uma escolaridade obrigatória até, pelo menos o 8º ano, com um país “salazarento” que, em 1974, acusava uma das taxas de analfabetismo real – e não funcional – mais elevada da Europa. O esforço do país, e sobretudo o investimento nas últimas décadas em educação, estão à vista! A sangria do país em benefício dos países do Centro da Europa, designadamente da Alemanha, é uma lástima e uma factura pesadíssima para o futuro. Perante os seus “analfabetos funcionais”, claro está que a Srª Merkel quer “emigrantes qualificados”, rejeitando os desgraçados de Lampedusa. Pudera ! A crise até lhe oferece “pessoal”, sem custos para o destinatário, saído das Universidades.
E, no final, uma pequena fábula, partindo, como acontece sempre no mundo da efabulação, do real para explicar às crianças – ou alguns imaturos ou apoucados – factos e vivências.
No pequeno mundo do “milagre alemão” sucedia, com frequência, que o honesto operário perdia a cabeça e se metia em altas cavalarias, tornando-se “empresário” e candidato a um estatuto social superior. Um desejo legítimo, desde que não fosse acompanhado por uma postura infeliz de “amnésia histórica pessoal”, malefício que costuma desaguar na sobranceria como artifício de anular a própria raiz. No entanto, tais criaturas tinham, por vezes, um empecilho grande. Os filhinhos eram burros e não chegavam a concluir os estudos na escola pública. Ala, com eles, para um internato/externato privado para os fazer doutores ou engenheiros !
Moral da história. Antes de acusar outros países da Europa de certificar, indevidamente, uma formação profissional ou académica, como acontece com alguns alemães convencidos, bastava que olhassem para a estatística da literacia da Alemanha acima reproduzida e começar a pensar, seriamente, no próprio mal em vez de apontar o dedo aos outros, sobretudo quando necessitam deles como “carne para canhão” da indústria.

Post de HMJ


A. M. Couto Viana (1923-2010)


Houve tempo em que, de jornais perecíveis e fugazes, muito diversos, eu recortava e guardava aquilo que me dizia alguma coisa ou de que gostava. Isto, sobretudo, nos idos de 60 e 70, principalmente.
Na altura, e da página literária do Diário de Notícias, gostei deste poema de Couto Viana (1923-2010), bom declamador e estimável poeta, que era acompanhado por um desenho de Mário de Oliveira.
Hoje à tarde, reencontrei o recorte, semi-perdido, por entre as páginas de um estudo sobre Fernando Pessoa. E aqui o deixo, para que se não perca, de vez.
É só clicar, por cima, para aumentar. E ler.

Marcadores (10)


De fina execução estética, os dois marcadores, em presença, vieram de Itália. Ambos reproduzem iluminuras. Um deles, representando S. Francisco, veio da Assis, oferta das Edizioni Daca. O outro, com simbologia do signo astrológico de Peixes, é um detalhe dum Livro de Horas do séc. XV, da Toscânia. E veio de Florença.

Pelo bicentenário do nascimento de Giuseppe Verdi (1813-1901)


Por uma vez, os italianos parecem moderados e discretos na comemoração e divulgação de um dos seus geniais compositores: Giuseppe Verdi, nascido a 10 de Outubro de 1813.
Para o lembrar, aqui fica uma ária de I Vespri Siciliani, interpretada por Maria Callas.