quinta-feira, 30 de junho de 2022

Uso Pessoal 18



Menos que os diários, as agendas de bolso têm normalmente uma função pragmática, muitas vezes de ordem profissional e com breves conteúdos. Enquanto trabalhei, não as dispensava. E, hoje, ainda as consulto em busca de um aniversário, um acontecimento passado, uma direcção ou um número de telefone perdido... 



Terei umas três ou quatro dezenas de agendas e, às vezes, ao desfolhar as páginas relembro encontros e desencontros, almoços e jantares, mas também nomes que já não consigo identificar na voragem dos tempos. Pelo meio, embora mais raramente, deparo-me com surpresas e até episódios pitorescos.

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Compota de cereja



Eram de Resende e ficaram muito boas. O conteúdo da pequena taça de vidro serviu de teste e prova.
Tenho ouvido dos produtores, quer do Fundão quer de Resende, que a safra de cerejas, este ano, foi excepcional em qualidade e quantidade. 
O preço das primeiras que apareceram é que não era muito convidativo: 12 euros, o quilo! Agora, felizmente, já baixou para cerca de metade... 

Wim Mertens, ao vivo em Utreque (Maio 2022)

terça-feira, 28 de junho de 2022

Contiguidades

 

Fernando sempre me foi um nome agradável. Desde tenra idade. E o contraponto feminino, também.
Penso seriamente que a geração espontânea não existe, e a ligação ou associação mental (em arte, sobretudo) é recorrente, fecunda e muitas vezes sugestiva.
O pintor colombiano Botero (1932) e o francês Léger (1881-1955) privilegiaram de algum modo, na sua obra, a obesidade humana ("gordura é formosura", dizia-se...), para além de terem o mesmo nome de baptismo. As luxuriantes e nédias flamengas de Rubens podem também inserir-se nesse excesso carnal.
O pintor inglês William Roberts (1895-1980), sendo mais comedido e nem tendo o mesmo nome, não deixa de os lembrar, neste quadro de 1939. Que a leiloeira Christie's pôs à venda, aqui há uns bons anos, por uma estimativa entre 10 e 15.000 libras.


segunda-feira, 27 de junho de 2022

Citações CDXXXVI


É um idealista: ele nunca gostou de vinho, de amor ou de tabaco.

Jean Cassou (1897-1986), in La Clef des Songes.

domingo, 26 de junho de 2022

Ideias fixas 68


Por entre Setúbal, a Ucrânia e o sequente oportunismo televisivo, no que diz repeito ao género humano, não há lugar para grandes expectativas ou mudanças. E dispensam-se, em absoluto, as nuvens cor de rosa, os psicólogos caritativos, os ex-inspectores reformados da PJ, bem como os ex-ministros venais, pagos à hora, e os comentadores chulos e palavrosos, que se plagiam uns aos outros numa cacofonia desbragada.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

Fisális (Phisalis)



Não fora a Irene que, da sua banca, nos ofereceu 5 fisális do seu quintal, eu desconheceria este pequeno fruto, de sabor ácido, e que parece um tomate pequeno alaranjado, originário da América do Sul.
Detentor de múltiplas propriedades, ao que parece, purifica o sangue, alivia as dores de garganta, fortalece o sistema imunitário e abranda o colesterol. Ainda, segundo a Irene, acelera o funcionamento intestinal.
Que mais havemos de querer, de um fruto tão pequenino?!...

quinta-feira, 23 de junho de 2022

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Mercearias Finas 179



Pequeno almoço e lanche eram, sem dúvida, modestos de conteúdo, mas suficientes (sobretudo para quem tinha muito pouca actividade física diária): chá ou café com leite, uma carcaça e um pacotinho de manteiga, para barrar o pão. A matéria prima era boa e bastava.
Dos quatro utentes do espaço, creio que apenas o Julian (romeno?) era um pouco esquisito com o comer, e demasiado estridente quando falava ao telemóvel. Ismael, o angolano com anterior vivência de Liverpool, era discreto, comia e calava; o alentejano Mário, o mais velho e mais entubado de nós, que trabalhara com granito, na sua vida profissional, nunca se queixou, embora bicasse muito pouco às refeições.
Nada augurava a boa razoabilidade do sustento. Assim, tomei nota das viandas e ementas hospitalares, nos dias em que por lá estive. Segue:

Segunda-feira
Jantar
Sopa de Cenoura
Filete e meio de Salmão com 5 batatinhas novas acompanhado por grelos salteados
Banana, à sobremesa.

Terça-feira
Almoço
Sopa de Legumes
Feijoada de Chocos acompanhada de Feijão Verde
Triângulos pequenos de Ananás, para o final.

Jantar
Sopa de Nabiças
Vitela estufada com arroz, ervilhas e cenouras
À sobremesa: 2 Kiwis.

Na Quarta-feira, como pratos principais, ao almoço, previam-se como opções para os pacientes instalados: Bacalhau à Lagareiro ou Jardineira de Frango - boas expectativas, pelo menos. Eu iria no bacalhau, se não tivesse optado pela alta antecipada e por uma refeição caseira. Com sal e vinho...

Em suma, eu diria que, tirando o muito pouco sal e a falta de vinho a acompanhar, as iguarias simples eram apaladadas e faziam meças a qualquer gastronomia de uma pensão de província. Honesta e sadia.
Remato: o SNS trata bem e recomenda-se.

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Últimas aquisições (40)



Os escaparates de exposição destes livros, editados pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, não são famosos, nem práticos, no interior do supermercado. Obrigam a malabarismos para ler as lombadas e ver se os temas nos interessam. Por outro lado - e isto é um aviso! -, com a ganância dos coleccionadores de marcadores de livros, muitos deles já foram surripiados dos voluminhos. Há que verificar livro a livro.
Mas os assuntos são normalmente bem abordados e por quem sabe, e o preço é módico: 3,15 euros. Hoje, trouxe da média superfície o nº 97 dos Ensaios, sobre As Plantas... (em imagem acima), do biólogo Luís Mendonça de Carvalho, livrinho editado em 2019. Espero vir a gostar de o ler. E de aprender alguma coisa.

sábado, 18 de junho de 2022

Um poema de João Rui de Sousa (1928-2022)



 Piscina

da prancha é o mergulho imaginário
até ser só o tronco ou só os membros
e desfazer em água a morte toda
que em poros transportamos sem sabermos

até que liquefeita a morte toda
possamos não mentir ao declarar
que somos peixes vivos voadores
sabemos destruir e transformar


in Corpo Terrestre (pg.105).

Adagiário CCCXXXVII



A água de Junho, bem chuvidinha, na meda faz farinha. 

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Jean-Louis Trintignant (1930-2022)




Seria difícil excluir o afecto das memórias que Trintignant me despertava, por alguns dos filmes que dele vi. Mas destacaria dois, particularmente: A Ultrapassagem (1962), do realizador italiano Dino Risi, e do polaco K. Kieslowski, o filme Vermelho (1994), com o actor francês, que faleceu hoje.

Uma fotografia, de vez em quando... (160)



Talvez estranhemos, mas acontece. De longe a longe, há um artista estrangeiro que se apaixona por Portugal e nos dedica um afecto duradouro que acaba por alastrar para a sua obra. Foi o caso de Neil Slavin (1941), fotógrafo norte-americano.




De 1968 a 1971, e insistententemente, ele percorreu e fixou o quotidiano português, de uma forma original e talentosa para a época. Ficam estas duas imagens a dizê-lo.

quinta-feira, 16 de junho de 2022

A globalização da Saúde

 


A primeira página do jornal Le Monde, de 3 de Junho de 2022, titulava assim sobre os hospitais gauleses.
As harpias portuguesas lobistas da medicina privada, capitaneadas pelo bastonário da Ordem dos Médicos, é claro que já não sabem ler francês... talvez só americano mascavado. Se soubessem, poupariam, ao menos, na histeria televisiva de criticar o SNS português, bem como a nossa ministra da Saúde.

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Máxima ?

De pouco nos serve o mundo, se o não guardamos no bolso. 

(agradecendo a sugestão a Eugénio de Andrade.)

Desabafo (68)

É com particular emoção que todos os dias vejo algumas instituições da Net proclamar  solene e acrisoladamente o desvelo com que se preocupam com a nossa privacidade e segurança. Ele é o Google, o pimp do Zuckerberg marcano (cujo rosto me lembra sempre aqueles franquenesteins foleiros dos filmes do Ed Wood), ele é o Youtube, o Gmail e toda essa tropa fandanga que nos visita e nós visitamos, às vezes.

É tudo no entanto uma floresta de enganos e de farisaísmo. Ainda hoje, na minha caixa de Gmail, sem que eu desse o meu código ou password me apareceram mensagens de publicidade das seguintes marcas:

- Worten
- Meo com Visão
- Google Ads
- italki
- CUF
- Galp Solar.

Não me dirão como é que estas toupeiras chegaram ao meu email?

terça-feira, 14 de junho de 2022

A falta de rigor das generalizações ou o risco das opiniões ligeiras



Numa recensão ao livro Meia vida, de V. S. Naipaul (1932-2018), o escritor sul-africano J. M. Coetzee (1940) refere, entre outros aspectos:
"A Índia de Naipaul é abstrata, e a sua Londres, um rascunho, mas a Moçambique que ele nos descreve é apresentada de maneira convincente. A Moçambique dos tempos coloniais não produziu escritor nenhum de alguma estatura. O escritor moçambicano mais conhecido dos dias de hoje, Mia Couto, pertence à geração pós-independência, e de qualquer maneira é influenciado demais pela voga do realismo mágico para merecer confiança como cronista do passado do seu país."
A generalização parece-me abusiva e, para contraditá-la, socorro-me de um nome: José Craveirinha (1922-2003). Mas poderia citar ainda Eugénio Lisboa (1930), Rui Knopfli (1932-1997), Alberto Lacerda (1928-2007)...

Scarlatti / Belder

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Info.

 

Objecto de uma avaria, o meu computador apesar de reparado parcialmente, não consegue responder com eficácia às tarefas do dia a dia, desde há cerca de uma semana. É possível que a situação se prolongue. Bem como as sequelas resultantes.

sábado, 11 de junho de 2022

Da leitura (51)


Há uns anos atrás, dizia-me um romancista meu amigo, que toda a ficção que se preze teria de ter alguma palha convencional, sobretudo se a obra quisesse passar do conto ou novela para a consistência e volume de um romance. O problema seria o leitor ter que ultrapassar o frete ou vir a fazer batota na leitura do livro...
No que diz respeito aos romances policiais, a situação é recorrente e muito mais habitual. Se alguns clássicos e autores de primeira água (Conan Doyle, S. S. van Dine...) conseguem evitar os enchumaços na escrita, grande parte dos outros autores secundários não o evitam ou mal o disfarçam.
Aprecio razoavelmente a obra do inglês Nicolas Freeling (1927-2003) cujos policiais são um bom exemplo de divagações frequentes e alheias ao tema central das intrigas. No caso vertente (Uma Vida Perfeita, nº 628 da Colecção Vampiro), são convocados, um pouco a despropósito embora com algum interesse, Graham Greene, Stevenson (pg. 93), o assassinato de Olaf Palme (pg. 97), no ano de 1985.
Bem como, na página 104, estas considerações: "Os maus romances policiais da minha juventude estavam cheios de sustos tornados lúgubres - o efeito divertimento de feira. Comboios-fantasmas, fitas sarapintadas, truques com espelhos, vampiros. Se repararam no padre Brown nas proximidades sem fazer nada, exibir um par de saltos é um bom conselho. Nero Wolfe, ao abrir inocentemente a gaveta para contar as suas cápsulas de cervejas, encontrou uma ponta-de-lança dentro... Hoje em dia, acalentaríamos a esperança de que o pobre diabo não tivesse contraído um resfriado, mas a ideia consistia em pregar um bom susto ao leitor - é isso que o público aprecia."
E, talvez valha a pena dizê-lo, que muitos leitores se calhar nem se apercebem da palha que consomem.

sexta-feira, 10 de junho de 2022

Citações CDXXXV



Perdoa sempre aos teus inimigos - mas nunca esqueças os seus nomes.

Robert F. Kennedy (1925-1968). 

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Do proboscídeo



É um pequeno opúsculo de apenas 12 páginas e custou-me 5 euros. Separata da revista "Ocidente", o texto do reputado musicólogo Mário de Sampayo Ribeiro (1898-1966) deu-me a conhecer o vocábulo olifante, como sendo uma trompa decorada, feita de uma presa de marfim de um elefante. O Houaiss regista: "corneta, de uso na Idade Média, feita de um dente de elefante".

Em jeito de bónus o folheto trazia, no seu interior


, um pequeno cartão com dedicatória de Sampayo Ribeiro ao director do museu regional de Aveiro, A. Manuel Gonçalves.

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Paula Rego (1935-2022)



Príncipes consortes, Arpad Szenes e Victor Willing abrigaram-se à sombra do talento das suas mulheres que cultivavam a mesma arte - a pintura.
Na França, Maria Helena, na Inglaterra, Paula Rego, ganharam estatuto e cotação internacional, situação muito rara para quem nasce português.
Paula Rego faleceu hoje, em Londres.

terça-feira, 7 de junho de 2022

Uma fotografia, de vez em quando... (159)



Nascido na Bielorrússia, território que integrava na altura o império czarista, Boris Ignatovich (1899-1976), cedo se distinguiu como um inovador da avant-garde modernista, tendo sido um dos primeiros fotojornalista da URSS. Só pelos anos 50 começou a utilizar a cor nas suas fotos. Foi também, no cinema, um documentarista estimável.




Integrado no exército soviético documentou abundantemente a tragédia que foi a II Grande Guerra. Mas retratou também, de forma realista e expressiva a vida rural quotidiana da ex-URSS, nos seus múltiplos aspectos.



segunda-feira, 6 de junho de 2022

Revivalismo Ligeiro CCCVI

Bibliofilia 198

 


Sendo muito rara a primeira edição (1619) desta Vida de D. Fr. Bertolameu dos Martyres, de Frei Luís de Sousa (cc. 1555-1632), impressa em Viana do Castelo por Nicolau Carvalho, estes meus dois exemplares da sexta impressão (1850-1853), sendo mais frequentes, são cuidados e muito estimáveis.
A Typographia Rollandiana, que os editou, teve uma actividade meritória e dinâmica, sob a a orientação do impressor-livreiro Francisco Rolland (17??-1814), de nacionalidade francesa, e cujo filho João Francisco Rolland lhe sucedeu, mantendo a oficina, pelo menos até 1850.
Os 2 volumes desta sexta edição custaram-me, em 1976, encadernados, Esc. 276$00, no leilão nº 321 de Arnaldo Henriques de Oliveira. Os dois livros encontram-se em muito bom estado.

domingo, 5 de junho de 2022

Na varanda a Leste



A matriz veio do António, a Norte, há um bom par de anos. A semente pegou bem e todos os anos dá notícia florida e elegante.
Chamámos-lhes "balões de S. João" pois é por aí (finais de Junho) que atingem o seu esplendor máximo.
Mas o nome científico fia mais fino: kalanchoe pinnata. Na Alemanha, chamam-lhe simplesmente: planta de Goethe, talvez para homenagear o grande poeta. 


sexta-feira, 3 de junho de 2022

Filatelia CXLVIII


(Ora vamos lá, humildemente, em nome da aliança velha e luso-britânica, contribuir para a mainstream do momento régio! O grande jubileu isabelino.)

São 70 anos em que o retrato, perfil ou efígie de Isabel II (1926) surge em tudo quanto é selo emitido pelo Reino Unido. Do acesso ao trono, em 1952, passando pela coroação a 3 de Junho de 1953, até hoje , é o mais longo reinado inglês, ultrapassando o da rainha Victoria (1819-1901). E, com certeza, a temática filatélica especializada mais frequente.


Se até aos anos 70 do século passado, de um modo geral, o número de emissões de selos britânicos era comedido, a partir daí a séries dispararam. Não só as comemorativas, mas também as emissões base, através das cores e tonalidades, selos fosforescentes ou não, e variações de produtos filatélicos para coleccionadores. Com o Platinium Jubilee, espero ainda o pior...



quinta-feira, 2 de junho de 2022

Correspondência



As nossas caixas de correio já foram mais frequentadas... Alturas em que raros eram os dias em que não havia correspondência. Agora são mais as facturas e/ou a publicidade.
Mas é uma surpresa bem agradável receber um belo postal como (acima) este com grafismo elegante do checo Alfons Mucha (1860-1939), alto expoente da arte nova, publicitando cerveja. Veio da Bélgica.

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Memorabília (21)

Adagiário CCCXXXVI

 


O figo para ser bom deve ter pescoço de enforcado, roupa de pobre e olho de viúva.