Este conjunto de pequenos textos que constituem um pequeno livro de cerca de 100 páginas foi escrito, sobre Londres, em 1931, por Virginia Woolf (1882-1941), mas uma boa parte dos seus breves capítulos não terá uma idade escrita muito marcante e definida, antes parece ser intemporal. Seleccionei deles duas pequenas passagens (em tradução de José M. Silva), que se seguem:
À medida que subimos o rio em direcção a Londres, vamo-nos cruzando com os detritos que descem da cidade. Barcaças repletas de baldes velhos, lâminas de barbear, restos de peixe, cinzas e jornais - tudo aquilo, enfim, que deixamos na berma do prato ou atiramos para o lixo - despejam as suas cargas neste local, o mais desolado que existe à face da terra. Dessas grandes lixeiras, que servem de abrigo a inumeráveis ratazanas e onde crescem umas ervas grosseiras, repulsivas, elevam-se colunas de fumo, desde há cinquenta anos. O ar é áspero, acidulado. (pg. 23)
O comércio é engenhoso e infatigável, para além dos limites da imaginação. De todos os variadíssimos da terra, incluindo os seus desperdícios, não há nenhum que não tenha sido testado e para o qual não se tenha procurado alguma utilidade. Os fardos de lã que estão a ser retirados do porão de um navio australiano vêm atados, para poupar espaço, com fitas de ferro; mas essas fitas não são deitadas fora, são enviadas para a Alemanha e transformadas em máquinas de barbear. A lã liberta uma espécie de gordura. Esta gordura, que estraga os cobertores, é utilizada, depois de extraída, para fabricar cremes faciais. (pg. 27)
Virginia Woolf, in Londres (Relógio d'Água, 2005).
agradecimentos a H. N., pelo empréstimo.
Interessante e não fazia ideia dessa questão da gordura da lã. Bom dia!
ResponderEliminarTambém eu desconhecia...
EliminarBoa tarde.
Pois ia dizer o mesmo que a Margarida: creme facial a partir da gordura da lã...
ResponderEliminarE as lixeiras já eram um problema...
Boa semana!
A poluição já vem de longe...
EliminarObrigado, igualmente.