domingo, 18 de novembro de 2018

Pinacoteca Pessoal 141


Talvez pouco conhecido a nível nacional, e circunscrito mais a um âmbito regional, Abel Cardozo (1877-1964) foi, porém, um pintor vimaranense estimável e de mérito. Ainda o conheci de vista, pelas ruas de Guimarães, com o seu ar garboso, embora envelhecido pelos anos.
Quando em 1969, cinco anos após a sua morte, a Sociedade Martins Sarmento resolveu celebrar a sua obra e memória, os promotores da exposição comemorativa viram-se em dificuldades para reunir cerca de 60 dos seus quadros, que se encontravam, sobretudo, na posse de famílias de Guimarães. Mas também dispersas pelo Porto e Lisboa, sobretudo.
Na altura da inauguração da mostra, o também pintor Carlos Carneiro (1900-1971) traçou-lhe assim o perfil:
" Logo a sua figura me impressionou muito; um Homem enorme, forte, atlético, com uma barba moira, um olhar luminoso e um sorriso que nos entrava logo no coração. Recordo-o como se fosse hoje, - o seu chapéu negro de abas largas, a sua gravata romântica, à Lavalière, hábito que guardava dos seus tempos de Paris, e a sua pele rosada e fresca como a dos meninos... Uma boca carnuda, rósea, e uma simplicidade extrema, essa rudeza feita de pureza dos homens autênticos! "


Nascido em Guimarães, Abel Cardozo frequentou a Escola de Belas Artes do Porto e tendo acabado o curso, com cerca de 20 anos, rumou a Paris onde veio também a inscrever-se na Escola homónima parisiense. Aí tomou contacto directo com os impressionistas, que não o terão influenciado muito. Ainda esteve no Brasil, regressando depois à sua cidade natal, onde se fixou e exerceu a sua profissão de professor, primeiro na Escola Industrial e, depois, no Liceu. Mais tarde, e como professor, exerceu em Lisboa, também, durante cerca de 16 anos. Aposentado aos 70 anos, voltou a Guimarães, onde viria a falecer, com 87 anos de idade.
A sua obra, embora não seja a de um inovador, revela bons dotes de retratista, de que eu destacaria o retrato a carvão de Martins Sarmento, executado por volta de 1900. Mas também pintou excelentes paisagens como as Dunas, em 1923, fixando um cenário da região de Viana do Castelo.

Na Sociedade Martins Sarmento (Guimarães) poderá encontrar-se e ver-se uma parte significativa do acervo da obra do Pintor.

6 comentários:

  1. Não conhecia e achei interessantes as obras que aqui publicou - sobretudo a do homem a ler. Bom dia!

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    1. O leitor ocasional do jornal era o relojoeiro José Clemente Jácome Guimarães, também vimaranense, e um profissional muito conceituado.
      Também acho o retrato muito bem conseguido.
      Bom Domingo.

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  2. Recentemente estivemos em Castelo Branco a visitar a cidade e Museus, de que gostámos imenso, para além de termos sido muito bem recebidos pela Isabel, do blogue "Palavras Daqui e Dali". e ficámos bem curiosos sobre a obra deste pintor, que é convidativa a uma viagem à cidade berço.
    Quando vejo os segundos dedicados pela nossa informação à cultura e os minutos dedicados pelos jornais à mesma, cada vez sou mais leitor de certos blogues.
    Votos de um bom domingo!

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    1. A província esconde segredos insuspeitados.
      Aqui há 50 anos, Guimarães tinha mais museus (3) do que Braga (1), que era capital do distrito. Hoje, além do magnífico Museu Alberto Sampaio (já falei dele no Arpose) e do Museu do Paço dos Duques de Bragança, conta com o Museu Martins Sarmento, que vai vivendo com alguns constrangimentos financeiros, e o novel Centro de Artes de José de Guimarães, implantado, e bem, no antigo Mercado da cidade- que sofreu ligeiras adaptações arquitectónicas. Se se hospedar no Hotel Residencial S. Mamede, é só atravessar a rua...
      E o chamado Centro Histórico de Guimarães é uma maravilha - vale a pena lá ir.
      E já que está escuro: uma boa noite!

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  3. Como neto deste pintor vimaranense fico feliz com este artigo. Bem Haja

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    1. Conimbricense nascido embora, vivi os primeiros 17 anos em Guimarães.
      Foi um gosto.

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