domingo, 30 de setembro de 2018

Considerações sobre o ritmo


Aqui há uns anos, um amigo ofereceu-me um pedómetro. Se é certo que eu já andei mais depressa, se quiser, posso medir pelo pequeno aparelho, ainda hoje, o ritmo dos meus passos e as distâncias percorridas nas minhas deambulações diárias, com alguma exactidão.
Quanto a leituras, a situação acaba por ser mais complicada de avaliar. Quando a leitura é aliciante, creio que lemos mais depressa; sendo fastidiosa o ritmo abranda, certamente. Alguém dizia que, ao longo de uma vida, talvez fosse possível ler entre 4.000 a 5.000 livros.
Não gabo a sorte do juiz Ivo Rosa (1966). Nos próximos tempos, e para bem documentar-se, vai ter de ler 21.954 páginas, distribuídas por 55 volumes, extensão total do Processo Marquês. Para ajuizar se o caso vai a julgamento. Ser-lhe-á possível? E quanto tempo levará?

Uma voz quase a morrer, mas para lembrar com afecto - Leonard Cohen (1934-2016)

Citações CCCLXX


Para entrar na melhor sociedade, hoje em dia, o pretendente terá que dar comer a algumas pessoas, diverti-las, ou então de as escandalizar.

Oscar Wilde (1854-1900), in A Woman of no importance.

sábado, 29 de setembro de 2018

Uma fotografia, de vez em quando... (111)


Não haverá muito a dizer sobre a fotógrafa alemã Sibylle Bergemann (1941-2010), nascida em Berlim, e que passou uma grande parte da sua vida na parte oriental da cidade. Começou por trabalhar para jornais e publicações da RDA, mas acabou por alargar a sua colaboração às publicações da RFA, tais como a Stern e a Geo.


Foi uma das fundadoras, depois da reunificação alemã, da Ostkreuz, agência que englobava, num tipo especial de cooperativa, vários profissionais de fotografia. A sua obra incidiu, predominantemente, sobre cenas do quotidiano de Berlim Leste e arredores.


Em relação aos seus trabalhos, S. B. disse: "Interesso-me pelas periferias do mundo, não pelo centro."

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Música e Poesia LXXI



Quase me apetece dizer, simplesmente, e como na infância: Que lindo!
Como só Fellini conseguiria conceber, neste seu E la Nave va.
Aqui fica, para o lembrar.

Blasfémias


À falta de melhor, vamo-nos entretendo com as telenovelas marcanas que inundam os blogues e as redes sociais desmioladas e nacionais. Repisam, remoem, simulam escandalizar-se, e os comentários vão no mesmo sentido indigente aprovador e ofendido, hipócrita.
Mark Felt (1913-2008), o garganta funda do Watergate, não resistiu, 4 anos antes de morrer, a revelar que tinha sido ele o informador. Remorso ou tentativa de passar por herói? Francamente, não sei, mas inclino-me mais para a segunda hipótese. Como aqueles velhinhos que se perdem a falar de conquistas passadas e de aventuras que já não podem repetir...
Um pouco da mesma forma com que as e os mitús vem contar, publicamente, 30 ou 40 anos passados, os abusos de que foram vítimas. Se não tiveram coragem, na altura, porquê este exibicionismo de agora? Serôdio, no mínimo, para não dizer: hipócrita.
Corajosa, quanto a mim, foi Catherine Deneuve (1943) que, ao contrário da corrente, foi capaz de denunciar, publicamente esta hipocrisia chunga dos politicamente correctos, que pagam ou se vendem por cinco minutos de fama, ressuscitando o passado ou apoiando causas mortas.

As palavras de hoje (34)


Apenas um pequeno extracto, mas conviria ler esta crónica de António Guerreiro, na integra, que faz parte da  ípsilon, no jornal Público de hoje. Segue a transcrição:

(...) Quem tomar atenção aos pequenos e grandes sinais, com olhar de analista, descobre facilmente que a escrita jornalística, mesmo nos jornais que gostam de se reclamar como "de referência" (algo hoje tão inexistente como o unicórnio), se inclina cada vez mais - num gesto que se vai naturalizando e tornando-se mimético - perante este ambiente, induzindo uma audiência e afastando progressivamente o público mais exigente. (...)

Pinacoteca Pessoal 139


Nascido na Alemanha, mas a viver presentemente em França, o gráfico e pintor Jan Peter Tripp (1945) tem uma obra pouco conhecida, para lá das fronteiras destes dois países. Foi através do escritor W. G. Sebald (1944-2011), de quem foi colega na Escola Primária, que tomei conhecimento dele, através das páginas que aquele lhe dedica em Campo Santo.

As referências giram em torno de um retrato de Kafka, que Tripp projectou do escritor checo, em idade mais avançada, a que não chegou. Pertencendo à escola realista, a obra do pintor centra-se sobretudo em naturezas mortas e retratos muito bem executados. Que mereceriam uma maior divulgação e conhecimento, pela qualidade da sua arte. O segundo retrato é de Sebald a jogar bilhar.

Creio que não seria necessário dizer que a última imagem retrata Pablo Picasso. Que Tripp adornou com indumentária que o aproxima de Lutero... Porque o considerava o grande revolucionário, também, mas da pintura europeia do século XX.
Curiosidade, ou não, é interessante saber-se que ambos pertenciam ao signo astrológico do Escorpião.

Desabafo (38)


As gentilezas da democracia e a complacência em relação às artes não dão, seguramente, muito bons resultados.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Revivalismo Ligeiro CCXXXV



Em sequência, naturalmente...

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Outro lado


Felizmente que as camisas havaianas berrantes, os chanatos chineses de plástico rasca e os calções desengonçados, que deixam à mostra as pernas branquelas e anémicas dos turistas aos molhos, não chegaram ainda a Canide, a Lavadores, nem sequer à Afurada. Os turistas pack-chapa-zero ficam-se pela Lello e pela torre dos Clérigos, e por aí se babam de pasmo incontinente e fotos sucessivas.
Deixaram-nos os areais limpos e o azul cobalto das águas, o silêncio maravilhoso da paisagem natural e o conforto de os olharmos, tranquilamente.
E, depois, com quatro sardinhas a cada um, uns nacos de broa e um branco da casa, fresquinho, na esplanada da tasca modesta, só ouvíamos falar português. Com moderação e sem selfies...
Ainda há outros mundos, felizmente, não poluidos de todo.

para A. de A. M., com grato reconhecimento, e em memória.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

As palavras de Eugénio, pelas ruas do Porto


Numa esplanada da rua de Sta. Catarina, releio, à sombra, o luminoso prefácio Excessivo é ser jovem, que Eugénio de Andrade (1923-2005) escreveu para a sua antologia sobre Coimbra, Memórias de Alegria. Trouxe o livro da rua Formosa, juntamente com Martha Quest, de Doris Lessing, que já só irei ler em Lisboa.
Sta. Catarina está transformada numa babel de vozes, entremeada de uns pindéricos cantores de rua que, não sendo romenos, de anglo-saxónicos têm apenas a sujidade e a desafinação pelintra. Tudo isto afinal não difere muito de Lisboa, no fundo. E, se não fosse a força encantatória das palavras de Eugénio, eu ficaria submergido de mediocridade turística, por todos os lados.
...Era uma alegria antiga que se repetia, embora em rigor nunca fosse igual, este crescer, este subir, este fluir - pois para que serviria a música, se não nos levasse nas suas pequenas e sucessivas vagas ao tempo orvalhado e sem mácula?...
Fecho o livro, pago a despesa, levanto-me da mesa, e ao ritmo e lembrança das palavras de Eugénio, vou ligeiro, que tenho um encontro amigo e aprazado para a rua Sá da Bandeira...

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Regionalismos ilhavenses (4)


No prosseguimento da iniciada relação de regionalismos da zona de Ílhavo, seleccionada da obra já aqui referida, anteriormente, damos conta de algumas palavras e expressões locais, começadas por d.

1. Dado e arregaçado - de graça e em quantidade.
2. Dá-me um abalo ò pífaro que me estrangalha a gaita - é-me completamente indiferente.
3. Dar-le uma berde c'uma madura - não dizer a verdade toda; misturar verdades com mentiras.
4. De rastatulha - de roldão, sem cuidado, de qualquer maneira.
5. Deitono - restos que caíam dos cereais durante a ceifa e que depois eram procurados e recolhidos.
6. Deixar tudo d'ança p'ra pandulho - deixar tudo desarrumado.
7. Desingre - coisa demasiado singela, sem beleza, desconsolada.
8. Duas lampanas - desculpas fáceis, aldrabices.

domingo, 23 de setembro de 2018

Divagações 134


Esta linha semi-circular de luzes ribeirinhas, por cima dos telhados defronte, traz-me sempre uma paz muito singular e pessoal, à noite. Depois, há esse triângulo agudo, cavado, por entre os prédios altos  que permite ao meu olhar ver o Tejo e, mais ao longe, a silhueta semi-iluminada do castelo de Palmela. Fernão Lopes acaba por ser convocado à memória. E as almenaras que D. Nuno, em finais do séc. XIV, fez acender da Outra-banda, para dar ânimo ao Mestre, cercado em Lisboa, pelos castelhanos.
Mas, hoje, há Lua Cheia, o rio é um espelho reflectido de luar. E o Verão, preguiçoso em despedir-se, parece augurar, em temperaturas, um S. Martinho à maneira... Ora, tudo isto recusa, liminarmente, essa melancolia dourada de que o Outono gosta, quase sempre, de se acompanhar. E que também nos inunda, quer queiramos ou não, tantas vezes. Ganha-se assim, benevolamente, um compasso de espera, bem-vindo e inesperado. Assim seja!

Foi o que se pôde arranjar...



Como quase toda a sua obra, Ítaca é um bom poema de Constantino Cavafy (1863-1933).
A legendagem, em português, parece-me uma versão satisfatória*. Sugiro que a vão lendo, com o vídeo.
Quanto a Sean Connery, ainda bem que não dedicou a sua vida a declamar poesia, porque, com aquele acento escocês cerrado, faz-me lembrar um beirão, com sotaque regional a ler "A Tabacaria" de Fernando Pessoa...
O Vangelis está a mais, no vídeo. Um bom poema tem sempre música própria. E ritmo, bastante.
Mas foi o que se pôde arranjar...

* Em tempo: com a passagem do vídeo para o Arpose, a legendagem em português desapareceu. Lamento...

sábado, 22 de setembro de 2018

A virtude recompensada


Louve-se o conselho de notáveis de Serralves! Que acabaram por transformar a Casa numa espécie de peep show democrático e gentil, sobretudo para os tripeiros curiosos e sedentos de cultura incorrecta.

Memória 124


O Stencil teve grande uso e voga até, pelo menos, meados dos anos 90. Mais barato que as fotocópias, na altura, e de fácil reprodução em quantidade, fazia as vezes de jornal político clandestino para as organizações de extrema-esquerda e maoístas, principalmente. Mas também era usado como arma de arremesso e denúncia anónima de instituições laicas.


É o caso deste O Escândalo das Letras (EoL), de Abril de 1989, que se destinava a incomodar a nossa república literária, ou beliscar, mordaz, alguns bonzos ou figuras instaladas em certas instituições literárias. Com 12 páginas stencilizadas, este pasquim interessante, é hoje, certamente, um documento raro. Não haverá, por aí, muitos exemplares sobreviventes que possam vir a ser consultados.


Por essa razão, aqui deixo algumas imagens do exemplar nº 0, para se fazer a ideia de uma época e das motivações, efémeras, que o justificaram, na sua origem panfletária.

com envoi fraterno para A. de A. M..

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Em nome da claridade, ou da clarificação


Sabiamente, os antigos foram equânimes a olhar os géneros, no seu tempo. Criaram, assim, a rua do Poço dos Negros e a rua das Pretas, em Lisboa.
Mas, reflectindo melhor sobre o tema, eu estou a ponderar enviar um abaixo-assinado à Câmara de Lisboa, no sentido de clarificar melhor a sua toponímia lisboeta.
Porque afinal em que ficamos: Preta (o)? Ou Negro (a)?
É que isto faz-me imensa confusão...
E já não sei que termo devo usar.

Retro (100)


Especialmente dedicado aos hipocondríacos da nossa praça...

P. S.: uma chamada de atenção para o Papo Sêco e para o Moléque. O primeiro, termo hoje em desuso, para significar o ultra-elegante; o segundo, que se integra na nossa campanha contra os puritanos inquisitoriais e fastidiosos infantis do politicamente correcto.

Liszt / Bellini /Hamelin : Hexameron (transcrição de I Puritani)

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Um sonho


                                                                                   Num meio-dia de fim de primavera
                                                                                   Tive um sonho como uma fotografia...

                                                                                            Alberto Caeiro


Ora acontece com os sonhos, o mesmo que com os versos, subitamente nascidos: ou os escrevemos logo, ou eles desaparecem, para sempre da nossa frágil memória. Vindos do inconsciente, se não os reproduzimos, conscientemente, eles apagam-se.
Há dias, sonhei com o poeta W. H. Auden (1907-1973), num episódio de grande nitidez. O cenário inicial era a sua casa, improvável e em Portugal. Na sala de estar, ao canto e em ângulo, duas estantes, com livros: a da esquerda, só com volumes de poesia; à direita, apenas livros sobre arte.
Auden estava de abalada para os E. U. A. e eu, antes de sairmos, peguei, de empréstimo, da estante, os seus Selected Poems. Depois, dirigimo-nos, a pé, para uma rua estreita da Cova da Piedade, para ele se ir despedir de Maria Antónia Palla. Foi aí que ele disse que ia dar todos os livros desta sua biblioteca, a quem os quisesse. Não tencionava levá-los para a América. E eu candidatei-me.
Feitas as despedidas, regressamos a casa do Poeta. Para minha surpresa, as duas estantes dos livros estavam completamente vazias. Alguém levara todos os livros de poesia. E os livros sobre Arte tinham sido levados pela minha estimada confrade de blogue, Margarida Elias, do Memórias e Imagens.
Fiquei assim e apenas com os Selected Poems, de Auden, na mão.
E acordei...

para Margarida Elias, e em memória de W. H. Auden.

Da leitura 28


Está-me no sangue e não consigo evitá-lo.
Quando alguém à minha frente, num transporte público ou numa sala de espera, lê um livro, não descanso enquanto não descubro o título e/ou o autor. É uma espécie de coscuvilhice nobre, eu sei...
Mas também, ao entrar numa casa em que há livros, não resisto a tentar decifrar nas lombadas o nome dos escritores que se arrumam nas estantes alheias. Mais ainda, se eles estão à disposição total para serem lidos.
Foi o que me aconteceu, recentemente, durante alguns dias, em que tive, à frente, uma boa biblioteca de um amigo, donde seleccionei três títulos para ler. Um sobre escolas e estilos de arte, em francês. Uma Outra opinião: ensaios de história, de Rui Ramos, que se me revelou decepcionante. Finalmente, O Culto do Chá, de Wenceslau de Moraes (1854-1929), que andava para ler há muito tempo, e me deu grande prazer de leitura.

com agradecimentos a H. N..

Citações CCCLXIX


Todos os caminhos vão dar a Roma e é por isso que muita gente nunca lá vai.

Gilbert Keith Chesterton (1874-1936).

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Pequena história (52)


A morte toca, quase sempre, a rebate. Menos a nossa. Mas a daqueles que nos dizem alguma coisa. Ainda que a agonia se prolongue e nos anestesie, o súbito desenlace provoca-nos um frémito de emoção redobrada, inesperado.
O funeral de Victor Hugo teve uma multidão de acompanhantes. Por cá, o mesmo se passou com os cortejos fúnebres de Guerra Junqueiro e João de Deus. Mas não são só os poetas que despertam a comoção genuína dos povos.
Há um gesto bonito acontecido com os últimos dias de Verdi (1813-1901). O compositor estava hospedado em Milão, no Grande Hotel, quando sofreu um AVC, a 21 de Janeiro. Esteve acamado até 27/1, data em que faleceu. Os milaneses, logo que souberam e entretanto, instalaram-se na rua do hotel e avisavam todas as carruagens para que não buzinassem. E atapetaram o empedrado com palha, para que as patas ferradas dos cavalos, ao passar, não perturbassem o sossego do Compositor moribundo.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Ideias fixas 17


Tenho grande dificuldade em ler textos extensos em blogues. Até porque, em certa medida, são barrocos de cabeça e/ou estilo. Um pouco conversas da treta, habitualmente. Ocos, por dentro.
O mesmo se passa com postes excessivos em imagens - passo-as a correr, muitas das vezes, porque não tenho paciência visual. Reservo-a, e bem, para museus, ou livros. Locais menos virtuais, em suma.
Que me perdoem a grossaria!

Interlúdio 63




É uma mera tentativa de teste, este Interlúdio, de Pascal Comelade, que vou lançar no Arpose. Depois das alterações parvas criadas pelos yuppies serôdios do Youtube. Será por isso, também, uma homenagem a esses palermas marcanos.
De qualquer forma, o título da canção pode relacionar-se com Osmose 96, em que falei da Europa, recentemente. O lado anarca de Comelade, que marca toda a sua obra, compagina-se bem com a estratégia errática, desconcertante e desnorteada das instâncias de Bruxelas. Que mais parece aquilo que denominamos, para o efeito, de : albergue espanhol. Pese embora, Pascal Comelade ser basco. E francês.

Passear as obrigações votivas


Os gatos, embora gostem de conservar as distâncias, não exigem muito dos seus donos. Bastam-se, domésticos, pelo interior das casas, e com alimentação pontual.
Mas também há famílias exigentes que não prescindem do seu passeio exterior, ao fim-de-semana. Motorizado ou pedestre, para apanhar ar.
Os cães, porém, obrigam, necessariamente, os seus donos a 3 ou 4 saídas, todos os dias, ao menos pelas suas necessidades básicas.
Quando vejo estes cães a passear os donos, lembro-me sempre de Dino Risi (1916-2008) e da sua "A Ultrapassagem", quando Gassman e Trintignant entram em Roma de carro, de manhã , e se cruzam com um passeante de cães. E Gassman grita, tonitruante: "Liberta-te, escravo, solta os cães!"*

* Como se segue, no vídeo.

Nota pessoal: as novas manipulações do Youtube obrigaram-me ao desdobramento do poste: em texto e vídeo, seguinte.

Il sorpasso, 1962. Campo lungo (www.cinescuola.it).

Mais um poema de Manoel de Barros


Garça


A palavra garça em meu perceber é bela.
Não seja só pela elegância da ave.
Há também a beleza letral.
O corpo sônico da palavra
E o corpo níveo da ave
Se comungam.
Não sei se passo por tantã dizendo isso.
Olhando a garça-ave e a palavra garça
Sofro uma espécie de encantamento poético.


Manoel de Barros (1916-2014), in Poemas Rupestres (2004).

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Jorge Dias, sobre os portugueses


... O português é menos exuberante, ruidoso e expansivo que os outros meridionais. Um só espanhol, numa carruagem de comboio, abafa com a sua voz a de todos os portugueses. Além disso o português é inibido por um forte sentimento do ridículo. Como é muito sensível e dotado da faculdade de se aperceber do que vai nos outros, receia ser vítima da ironia e da crítica trocista tão comum em Portugal. ...

Jorge Dias (1907-1973), in Os elementos fundamentais da cultura portuguesa (1955).

Diatribe


Nunca desdenhei confrontar-me com argumentos diferentes dos meus, ou ler coisas contrárias ao que penso, até para fortificar melhor as minhas convicções ou esclarecer as minhas justificações, ao tomar partido por um dos lados das questões, de forma mais reflectida.
Foi o caso recente, em que perdi umas horas de leitura com um historiador ligeiro e in, que por aí perora, em foruns da especialidade política de jornais online. Que agora é observador e, antes, naturalmente, fora independente.
E cheguei à conclusão que, mal por mal, eu antes preferia as ficções históricas do falecido embaixador Franco Nogueira. Que sempre tinha mais consistência. E outro estilo literário e razões de casta...

domingo, 16 de setembro de 2018

Osmose 96


Dou por mim, num destes extremos ocidentais, olhando o areal por onde, aqui ou mais além, há cinquenta anos, mais mês menos mês, rastejei, um dia, como um cão, em exercícios militares, seguramente estúpidos e humilhantes. A raiva era consoladora, nessa altura, mas não podia ter expressão muito visível. A prática, posterior, indiciava já, no entanto, quer nas repartições castrenses quer nas paradas marciais, a agonia de um regime.
Olhando o areal da foz do rio Grande (em 1968, era o Lizandro), dou-me a pensar, inexplicavelmente, na Europa. E o mesmo sentimento me assalta, como outrora. Talvez, também, pela mediocridade das chefias. Ainda que os povos, arregimentados, se resignem, é ao velório da Europa a que estamos a assistir. Tal como a conhecemos, como união dos povos ocidentais, numa solidariedade que se vai desagregando, mais e mais, inexoravelmente.
Amém.

sábado, 15 de setembro de 2018

Comic Relief (143)


Legenda : There's probably no God. Now stop worrying and enjoy life.

Tradução : Provavelmente, Deus não existe. Por isso, deixem de se preocupar e gozem a vida.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Mercearias Finas 133


Tenho vindo a constatar que, de uma forma geral, a qualidade do serviço, na restauração e nos últimos anos, tem vindo a piorar, assustadoramente. Bem como a competência profissional dos empregados que servem às mesas. Parece ser fraca ou nula a aposta na formação adequada.
Não sou excessivamente esquisito, mas considero que há regras mínimas de atendimento que devem ser observadas e, é evidente, que o meu grau de exigência tem em conta e sobe, quando um estabelecimento tem ambições e preços altos.
Um caso flagrante de desequilíbrio e de amadorismo indesculpável é, por exemplo, o que se observa no restaurante Bica do Sapato (Lisboa). Em que o lado estético e modernaço das empregadas e empregados contrasta imenso com a sua deficiente formação profissional e competência. Embora a cozinha seja boa e os preços acima da média.
Um dos últimos Le Monde abordou este tema e avançava uma razão para esta decadência da qualidade de serviço, na restauração. Segundo o jornal francês, nos últimos tempos, ter-se-á sobrevalorizado a cozinha de autor e o papel dos "chefs" - que até vêm às mesas explicar a confecção dos pratos - em detrimento da proletarização e menorização do serviço de atendimento geral.
Será que Le Monde tem razão? Eu tenho dúvidas que seja só isso...

Shostakovich - Piano Concerto No. 2: II. Andante

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

A democratização da glória


O nosso tempo está carregado de pressa e sofreguidão. Não se compadece com as minudências do rigor nem com o olhar desapaixonado da distância. A reflexão ponderada, para muitos, é pura perda de tempo e uma inutilidade dispensável.
E a própria e prestigiada colecção La Pléiade, da Gallimard, começa a parecer-se, cada vez mais, com os panteões e os nóbeis, que entraram num processo acelerado de banalização democrática.
O escritor português António Lobo Antunes (1942) vai integrar, também, La Pléiade. Não sei se fico contente... Mas, pelo menos, Fernando Pessoa não ficará sozinho, nas estantes da Gallimard, a falar com os seus botões ou com os seus heterónimos, em português. E Pessoa merece tudo. Mesmo as más companhias.

Filatelia CXXV


É sabido, pelo menos de alguns, que na Inglaterra se podem encontrar, em grande quantidade, muitos selos do período clássico e cartas circuladas de Portugal. A explicação é simples: o comércio entre os dois países sempre foi intenso, sobretudo no domínio do Vinho do Porto. E muitos desses arquivos de casas comerciais sendo vendidos, incluem uma parte significativa de peças filatélicas do nosso país. Na Grã-Bretanha comprei e/ou de lá me vieram alguns dos selos mais interessantes da minha colecção de Portugal e ex-Colónias.

Nos anos 70, 80 e 90 do século passado, eu costumava receber alguns catálogos de leilões de casas filatélicas inglesas que, normalmente, tinham alguns lotes portugueses. Por aí licitava, uma vez ou outra, e com frequência era bafejado na arrematação, com sucesso. A partir do século XXI, grande parte dos catálogos, com a difusão da Internet, passaram a estar apenas online, e eu desinteressei-me.
Inesperadamente, há dias, recebi um luxuoso catálogo da Mayfair, de um leilão que se vai realizar a 14 de Outubro de 2018, com um acervo rico e de grande qualidade.
Embora não tenha nenhum lote exclusivo de selos portugueses, o catálogo anuncia a venda de um selo muito raro inglês. É o famoso 2 e 1/2 p., do Silver Jubilee (1935) de Jorge V, na variedade de cor prussian blue. Com valor de catálogo (Stanley Gibbons, nº 456a) de 13.750 libras esterlinas, o lote 811 tem uma estimativa (inicial) de venda entre 6.000 e 7.000. Um acontecimento, para quem coleccione selos ingleses...

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Do que fui lendo por aí... 22


Com os anos, fui resumindo, pragmaticamente, as leituras que vou fazendo, em dois tipos: as que me enriqueceram e aquelas que me fizeram perder tempo. No primeiro dos casos, está Campo Santo, de W. G. Sebald (1944-2001). Não só é um livro, apesar de póstumo, bem pensado e bem escrito, estimulante pelas reflexões que nos provoca, mas também pelas muitos informações culturais que nos fornece.

Desde várias descrições, algumas das quais históricas, sobre a Córsega, a obra aborda também a literatura alemã do pós-guerra, assim como as repercussões psicológicas do conflito nos alemães que por ele passaram. O livro fez-me também vir a conhecer a pintura de Peter Weiss (1916-1982), que tem um quadro, provavelmente, inspirado na célebre Lição de Anatomia, de Rembrandt.


E foi, pelo menos, curioso saber que o médico representado no quadro se chamava Nicolaes Tulp. E o corpo exposto era o de um ladrão de Leyden, de nome Aris Kindt, que sofrera a pena capital. O que me permitiu concluir que a tela de Rembrandt se baseou numa realidade objectiva.
Pormenores e miudezas - dirão alguns. Eu acho que não.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Desabafo (37)


Contra mim falo, infelizmente. Razão tinha Pacheco Pereira ao dizer que quem dava, realmente, notícias em tempo útil, embora no meio de miudezas e dislates intencionais, era a CMTV, porque os outros canais generalistas se limitavam a papaguear, em cacofonia sobreposta, aquilo que já todos sabiam.
E, para minha pena, terei que destacar também alguns vídeos e textos com interesse que o site do Observador, às vezes, publica, pelo meio da palha direitista e bafienta que lhe encomendam e pagam. Chamaria a atenção, por exemplo, para um recente, sério e magnífico artigo do historiador Luís Filipe Thomaz.
Com a probidade científica, que todos (creio) lhe reconhecem, o texto esclarecedor intitulado Por um Museu dos Descobrimentos, foi editado a 6/8/2018, no Observador. E faz parecer uma redacção infantil o abaixo-assinado que por aí circulou, subscrito por um punhado de puritanos e puristas politicamente correctos, mas ignorantes e fanáticos.
Que se me perdoe este elogio, em desconto de alguns, poucos, pecadilhos que terei cometido à esquerda...

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Revivalismo Ligeiro CCLXXXIV

Na boa sequência tabágica do poste anterior, aqui fica esta popular e antiga interpretação de Tonicha. Eu iria jurar que Amália também chegou a cantar este "Tu és o Zé que fumas...", mas não consegui encontrar o vídeo. Por isso, e embora com deficiente registo, relembremos a canção popular.

Humor negro (10)


Por aqui (imagem) se pode ver a alta qualidade da propaganda anti-tabágica. Tal como a indigência de pensamento e a proficiente capacidade profissional da agência publicitária que a produziu. A habilidade canhestra e paroquial do fotógrafo que foi contratado, para o efeito. Mas também a craveira mental, o inestético mau gosto e o lado foleiro dos elementos da comissão europeia que aprovaram ou deram origem a  esta campanha ridícula, politicamente correcta.
Quem quiser deixar de fumar, não é por aqui que chega lá, certamente...

domingo, 9 de setembro de 2018

Produções


Se é certo que não viramos ainda, este ano, a página das vindimas portuguesas, já se vai noticiando que a  colheita será das menores de sempre. No Dão, com certeza. Boa justificação para subir os preços, que não estão nada baratos, a não ser nos vinhos regionais que, dizem os entendidos, muitos deles são feitos com uvas de fora... Há, pelo menos, que confiar nos de região demarcada.
Ao que parece, a França não se queixa, nem de uma coisa nem de outra. E L'Obs até traz, no seu último número, algumas sugestões de vinhos com preços diversos, mas numa escala moderada.
Não serei isento, porque gosto muito do Alvarinho Deu-la-Deu, da Adega Cooperativa de Monção.  É sobretudo uma garantia, ano após ano, de boa qualidade e preço justo. Pois o sítio do costume tem-no em promoção, neste momento, ao preço imbatível de 4,49 euros. Vale a pena aproveitar...

sábado, 8 de setembro de 2018

Divagações 133


Os nossos limites físicos são, normalmente, fáceis de constatar. Até por provas de resistência a que o dia a dia nos obriga. Quanto à capacidade de resistência psicológica, a situação fia mais fino, e é muito difícil prevê-la. À dor, à exasperação ou indignação, a uma vivência atormentada, à estupidez excessiva, ao tédio da banalidade. Relativamente a tudo isso, a juventude é muito mais liberta, pela sua condição natural, ainda alheia a códigos de comportamento e regras atávicas. Que rompe, com aparente facilidade, resistindo ou abandonando. Sempre que não está de acordo.
Será que também ela estará a mudar? Por vergonha, submissão e cobardia de conforto, ou pela pressão do politicamente correcto da mainstream
Depois, há a moral. E os tabus, que se incrustaram como lapas ou carraças, no nosso cavername entristecido...

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Literal


Os desígnios de um poema ou os motivos de criação de uma pintura podem ter origens muito diversas, que não a banal, abstracta inspiração. Bem como as leituras ou descodificações podem ser abusivas por serem de explicação alheia. Em última análise, só os próprios autores é que poderiam confirmar, ou não, a legitimidade da interpretação. Em 1866, Gustave Courbet (1819-1877) pintou  o quadro L'Origine du Monde, por encomenda do diplomata turco Khali-Bey, obra que foi provocando alguns escândalos e polémica, posteriormente, mas que está, hoje, exposta no Musée d'Orsay, serena e tranquilamente, desde 1995.
Ao ouvir, recentemente e pela enésima vez, o belo poema e canção de Léo Ferré (1916-1993), Cette Blessure, associei-a de imediato à famosa tela de Courbet. Poderei estar errado, mas mantenho a ideia e afirmação. A fonte de inspiração (?) terá sido a mesma ou, pelo menos, próxima ou idêntica...

P. S.: amigavelmente, e a quem o merece, aconselho o acompanhamento e uma leitura atenta do lindíssimo poema de Léo Ferré.





* para meros efeitos estatísticos, aqui fica registado ser este o poste número 10.000, do Arpose.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Realce energético


Não fosse Le Monde (31/8/2018), circunspecto e isento, a dizê-lo, e talvez tivessemos dúvidas. Portugal é o terceiro país europeu, depois da Áustria e Suécia, que melhor capta a sua energia, limpa. Uma feliz conjugação e aproveitamento da luz solar, da água e dos ventos, fazem o resto.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Regionalismos ilhavenses (3)


Colhidas na obra Palabras co bento no leba, de Domingos Freire Cardoso, já por aqui referida, damos notícia seleccionada de algumas palavras e expressões utilizadas, regionalmente em Ílhavo, e começadas pela letra c. Assim:

1. Cabadice - acto de se gabar.
2. Cabeça-de-ôirêgo - pessoa que pensa pouco.
3. Caga na saquinha - pessoa medricas, triste, frágil, indecisa.
4. Cagana - pessoa de pouco valor mas de muito paleio.
5. Canau das migas - aparelho digestivo.
6. Capolim - pequeno peixe usado como isco na pesca do bacalhau.
7. Casa do carronhas - casa onde cada um faz o que quer; casa sem rei nem roque.
8. Cheira-bufas - pessoa intrometida e que gosta de saber as novidades da vida dos outros.
9. Colhampras - homem muito magrinho e com calças demasiado grandes.
10. Comer pelo cu da guerguina - citar, numa discussão, uma opinião alheia como se fosse sua. 

Citações CCCLXVIII


Não são os melhores de nós que têm um pensamento colectivo; é a diferença de opinião que origina as corridas de cavalos.

Mark Twain (1835-1910).

Andrea Gabrieli (1510?-1586)

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Freud, Eça, ambições, fogos e património - uma outra miscelânea...


Os Pêerres, todos eles, é suposto dizerem qualquer coisa, mesmo que circunstancial, quando um grande incêndio nacional lhes bate à porta. Não fugiu à regra o PR brasileiro, com gel, e cagança hipócrita, ao pronunciar-se sobre a tragédia que, lambeu pelas chamas, uma considerável parte do Património do nosso País Irmão, no Rio de Janeiro.
Em tom menor, e medíocre como é habitual, dei hoje pelo Eusebiozinho (vide Os Maias) nacional, que escreve, com barba por fazer, no jornal Público, às terças, quintas e sábados, a desafiar o nosso mais ocupado e frenético diplomata, sobre o tema candente (?) da recondução ou não, da nossa inefável PGR, joaninha. A ver se o embaixador lhe resiste... Ao bochechudo.*
O processo é corriqueiro e muito conhecido. Desinquietar os famosos, para ganhar espaço e visibilidade. Até o nosso eterno e putativo Nobel adiado o usou, nas suas primícias juvenis. Ao desinquietar Vergílio Ferreira. Que não lhe ligou peva, acertadamente.
(Abstenho-me, naturalmente, de citar os nomes dos peões de brega...)

* Em tempo (7/9/2018): o Embaixador não resistiu...

Bibliofilia 164


O livro, cuja primeira edição (1629) é rara, e cara se a quisermos adquirir, tem um título do tamanho da légua da Póvoa (como se costuma, popularmente, dizer). Para que conste, aqui vai: Miscelânea do Sítio de Nossa Senhora da Luz de Pedrógão Grande: aparecimento da sua imagem, fundação do seu Convento e da Sé de Lisboa, com muitas curiosidades e poesias diversas. O seu autor, Miguel Leitão de Andrade (1553-1630), escreveu a obra e publicou-a no final da vida.


O livro, cuja segunda edição (1867) possuo, é de leitura agradável e proveitosa. Dividido em vinte capítulos abordando os mais diversos assuntos, a obra traz uma descrição minuciosa da batalha de Alcácer Quibir (1578), de que Miguel Leitão de Andrade foi testemunha presencial, e em que morreu o rei D. Sebastião.
Comprado o volume, por volta de 1990, em Lisboa, dei por ele Esc. 8.800$00. Encadernado em meia-francesa, o livro está em muito bom estado de conservação. Em 1993, a IN/CM publicou, em edição fac-similada, a terceira edição desta obra.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Mote e glosa (13)


Heidegger não pensa "sobre algo", mas pensa algo.
...
... a capacidade de nos surpreendermos perante o que é simples (...) e tomar como ponto de partida este sobressalto.

Hanna Arendt (1906-1975), in Revista de Occidente (nº 84, 1970).

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O tempo desocupado por inteiro pode, nalguns casos e após um período neutro de transição (as férias não são o suficiente...), levar-nos a questionar as coisas mais simples, os factos dados como encerrados, os saberes adquiridos, as frases feitas. O tempo, dito, de reforma ou de aposentação pode, por isso, ser portador de novas curiosidades e descobertas. Criando assim um espaço de reflexão inesperado, natural.
Se a idade, necessariamente, nos faz desaprender, até pelos saberes que fomos esquecendo com o tempo, devido a não os usarmos, esse novo espaço livre pode vir a ser uma fonte fresca e seara de conhecimento, desde que o tomemos como ponto de partida para esse sobressalto.

Uma fotografia, de vez em quando... (110)


São suficientemente conhecidas as fotos que Alberto Diaz Gutiérrez, mais conhecido por Alberto Korda (1928-2001), tirou, com a sua Leica, a Che Guevara.  A sua obra, aliás, constitui a mais completa iconografia da Revolução Cubana, sobretudo no seu período inicial, áureo e idealista.



Mas este cubano dedicou-se, inicialmente, à publicidade e à fotografia de Moda, para ganhar a vida. Até que a História se cruzou com ele...