segunda-feira, 5 de setembro de 2016

E sobre as pombas


Tudo me parece lento no requebro das pombas. Ou sensual, quase diria. É certo que os pombos, em namoro, enchem o peito de ar e perseguem as fêmeas a uma velocidade razoável para as suas curtas pernas, mas tudo isso é momentâneo e arrulhante de empáfia.
Porque, ao que dizem, o seu horizonte de visão é muito curto. Daí só se desviarem dos obstáculos e dos perigos no último instante, e em voo aflitivo. E também vermos as pombas mortas nas ruas e estradas, atropeladas pelos carros. Mesmo assim multiplicaram-se nos útimos anos.
Porque são o ai Jesus! de velhinhos e velhinhas que não podem ter, em casa, animais de estimação. Deixam-lhes água em estranhos recipientes, normalmente de plástico, onde amoleceram, antes, pão ressesso e duro. E já ninguém as caça para a alimentação, ou persegue com malvadez, senão as crianças pequenas ou adolescentes jovens com instintos lúdicos ou perversos. Ganharam estatuto, enfim.
O seu voo é quase sempre errático e tenho grande dificuldade em caracterizá-lo. Parecem aterrar e voar com a mesma sem razão com que param para, curiosas, se interessarem por qualquer coisa que é atirada para o chão, seja comestível ou não. Até uma beata apagada ou um pequeno grão de areia, que irá fazer de mó na sua moela de animais sem dentes. 

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