terça-feira, 6 de setembro de 2016

Apontamento 90: A LENTA degradação da imprensa escrita


#Os Cursos EFA são, por isso, um instrumento basilar
para a prossecução dos objectivos definidos pelo XVII Governo
Constitucional para as políticas de educação e formação,
no qual assume particular destaque a generalização
do nível secundário como patamar mínimo de qualificação
da população.#
[citação de um diploma legal para jornalista tolhido pelo calor dos dias]

Após mais um pequeno “encontro espiritual amigável”, depois das férias, em que, entre outros muitos assuntos, se abordam, com alguma frequência, as fraquezas e a impreparação intelectual e falta de ética da imprensa, tanto nacional como europeia, não consigo calar-me perante mais uma destas “peças jornalísticas” menores.

Sob o título de “Os novos analfabetos” circula por aí, e num jornal semanal de responsabilidade, mais uma peça dedicada à educação, em que o referido semanário gosta de “meter o bedelho”, porque não tem mostrado preparação para uma discussão séria da educação e cultura no país.

Nem sequer discuto o desvario de meter, no mesmo propósito, cidadãs, aparentemente analfabetas, de 70 ou 29 anos actualmente, estes últimos com escolaridade obrigatória de nove ou doze anos, instituída após o 25 de Abril.

Recordar a circunstância de haver, sobretudo em meios piscatórios, idosas ainda com vontade de aprender a ler, faculdade matricial do ser humano que lhes foi negada durante décadas, merece apenas o consentimento de alguém que espera que a imprensa cumpra o seu essencial: informar sobre a situação social, cultural e política do país em que se insere.

Quando depois se começa a falar dos “novos analfabetos” – funcionais (?) ou outros (?) – falando de uma criatura de 29 anos, numa “mistura de vergonha e garra” por não saber ler nem escrever, entramos no terreno inclinado de uma imprensa que, cada vez mais, resolve, com o “modo fala barato de feira”, abordar, pretensamente, assuntos sérios da sociedade. Ora, a seriedade não resulta do discurso final, mas da ética e do saber profundo com que alguém se dedica à sua profissão.

De facto, os jornalistas não sabem, de todo, do que estão a falar, nem podiam, alguma vez, imaginar o que uma tal “criatura de 29 anos” – SOFREU – para que lhe ensinassem a ler e escrever, para além das aulas normais, com: aulas de apoio, programas especiais – de que já não me lembro de todos os nomes que se foram inventando para repescar meninos desviados – porque os infelizes eram, de facto, todos aqueles que insistiam, diariamente, em aplicar semelhante sofrimento em nome da Humanidade e do Estado de Direito que decretou a Lei de Bases do Sistema Educativo.

Se tenho simpatia pela senhora de 70 anos, com enorme vontade de aprender, abomino jornalistas impreparados – porque também me passaram pelas mãos sem nenhuma capacidade para formularem sequer uma ideia ou uma frase correcta – e parece-me altura para denunciar uma imprensa de espectáculo, sem critério ou um mínimo de preparação funcional, nem ética.

Post de HMJ

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