sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Osmose (3)


São figurações interiores. Factores quase indistintos e situações que se respiram, imperceptíveis, mas que dificilmente consentem expressão exterior. Por pudor, por temor no erro de avaliação, por dúvida sobre a clarividência intuitiva. Regressam, assim, silenciosamente à memória. Pela impossibilidade racional de as justificarmos.
Há quase uma certeza, mas como a dos oráculos metafóricos, ou como a generalização abstracta dos astrólogos: não ousamos torná-la exterior e concreta. Porquê a semelhança do rosto de Thomas Moore e a face de Lawrence Olivier? É evidente que estamos perante uma irrealidade e a única coincidência é que eram ambos ingleses.
O ponto de partida foram dois corpos debruçados sobre o mesmo assunto. O retrato pintado por Holbein, que encima este poste, é apenas uma derivação, embora o tenha colocado por associação.
Essas figurações, de que falava no início, podem vir duma expressão do rosto, de um cheiro longínquo, de um tom de voz que parece mais quebrado do que o costume. Por um gesto que surpreendemos, ou pela posição de dois corpos que se debruçam sobre o mesmo assunto, e se ajustam, paralelos, em consentida harmonia.
Como dizia José Régio: "há mais mundos".

3 comentários:

  1. Assim de repente não vejo grande parecença com Lawrence Olivier. Vou olhar melhor para o actor.

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  2. Miss Tolstoi:
    não é este o retrato de Thomas Moore, de Holbein. O nome deste quadro de Holbein é "Cavalheiro com Luvas". Mas acho que vou por o outro, em novo poste.

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  3. Realmente não conhecia este retrato como sendo de Thomas More (dá-me mais jeito tratá-lo assim), mas... Não reparei que era "apenas uma derivação". Leituras apressadas...

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