sábado, 11 de dezembro de 2010

Os lugares cativos


Que os cegos são, por vezes, transaccionados já eu sabia, porque José Cardoso Pires o escrevera num conto. E também me tinha apercebido de um "pastor" de cegas, que chegou a ter duas: uma loira e outra morena. Mas agora, quando o vejo, anda sempre sozinho. Se calhar, trespassou-as...
Mas hoje, de manhãzinha, apercebi-me de uma velha, de "paupérrimas feições" (G. Rosa), que perseguia, com ar ameaçador, uma cigana romani, gritando-lhe:"- Vai-te embora, vai-te embora!, que tu não és daqui!" A cigana, ainda jovem e de olhar atrevido, apressava o passo, afastando-se.
Já de tarde, vindo eu da rua Anchieta, ao passar pela Igreja dos Mártires, vi de novo a velha pedinte (?), com nariz de bico de papagaio. Estava sentada nos degraus do lado direito e ameaçava, em surdina, um pedinte (?) louro, ainda novo, que se preparava para sentar do lado esquerdo. Dizia-lhe:
"- Deixa, deixa, que alguém há-de vir fazer-te a folha!..."
Pois é, hoje em dia, tem que se defender o posto de trabalho, e lutar por ele.

4 comentários:

  1. Com a crise não sei, mas dizia-se que alguns destes "postos de trabalho" rendiam bom dinheiro.

    ResponderEliminar
  2. O dos arrumadores é garantido. Tenho acompanhado um, nos últimos 7/8 anos, que vinha a pé para o "trabalho", depois comprou uma bicicleta e, agora, já comprou carro em 2ªmão - autêntico e verdadeiro, Miss Tolstoi.

    ResponderEliminar
  3. Há anos vinha com amigo na Rotunda do Relógio, onde havia um daqueles tipos a emporcalhar-nos o vidro do carro. Disse o meu amigo: «-Este tipo ganha mais do que eu!»
    Tinha visto uma reportagem na televisão em que ele dizia quanto "ganhava" naquela função e que não procurava emprego devido ao bom rendimento que tinha.

    ResponderEliminar
  4. Um relato verídico para completar os comentários anteriores:
    1 - Embora a Polícia Municipal declare, por escrito, que não tem verificado a existência de "arrumadores" na rua onde se situa o Teatro de S. Luís, eles, de facto, existem;
    2 - quanto ao "modo" de operação, ele segue o seguinte esquema:
    2a) à chegada e, frequentemente, nas barbas do funcionários da EMEL, inutilizam os parquímetros, inserindo as cápsulas das latas de bebidas que vão restando da noite;
    2b) junto dos seguranças do Teatro Municipal de S. Luís vão buscar os pilaretes para "barrar" os lugares vazios com o fim de extorquir mais dinheiro;
    2c) recebem ou vão buscar as chaves do automóveis de "residentes referenciados" que lhes entregam a sua viatura - a troco do que quantia ? - para se livrarem do pagamento do estacionamento.
    3 - A polícia - PSP ou Municipal - ignora todo este esquema porque não quer saber.
    4 - A maior parte dos "cidadãos" gosta deste "serviço" terceiromundista, não se importando de um tratamento de "tu cá tu lá" com os "empresários da rua" que vão enriquecendo à custa do erário público com a conivência de residentes e autoridades diversas.
    Parece que ninguém entende que semelhante gente é, de facto, um impedimento à livre circulação do cidadão - direito constitucional - pelo facto de impedirem o estacionamento a quem não se submeta à fiscalização pública - e abono indevido - de semelhantes indivíduos.

    ResponderEliminar