Por uma daquelas razões singulares, ou coincidência frutuosa, encontro-me a ler, em locais diferentes, dois diários da mesma época (1939-1945), escritos por dois intelectuais (Gide e Jünger), em França. Se nas notas do ocupante alemão predomina uma atmosfera de tranquilidade, apenas interrompida por alguns sonhos perturbantes, que ele descreve ao pormenor, nas palavras sobre o dia a dia do francês ocupado (Gide) perpassa uma fina angústia que o leva a abordar circunstâncias dramáticas do passado (curiosamente, ainda hoje actuais), sobre a liberdade. Vou assim dar a palavra ao escritor francês, em dois pequenos extractos:
"... Os judeus, também, de oprimidos se transformaram em opressores, como sucede, parece que necessariamente, logo que as convicções religiosas contam com o apoio do poder - digamos ,simplesmente, se têm poder. ..."
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"... Texto da excomunhão pronunciada contra Spinoza, a 2 de Julho de 1656: «Que ele seja amaldiçoado dia e noite... Que Deus não possa nunca perdoar-lhe. Ordenamos que ninguém tenha comércio com ele, por palavra ou por escrito, que nunca ninguém lhe dê mostras de amizade, dele se aproxime ou habite sob o mesmo tecto, que ninguém leia nenhuma obra escrita ou composta por ele."
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André Gide (1869-1951), in Journal - 1939-1949 (Pléiade. 1955).
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