Deu-me hoje para reler Ruy Belo (1933-1978), um dos poetas portugueses de que nunca deixei de gostar. Dos sete livros que folheei, fiz uma pequena colheita de dois poemas que aqui deixo registados. Para o lembrar.
Saint-Malo 63
Eu curvo ante a infância a face embaciada
A praça é muito grande para uma criança
Ela estranha as pessoas do jardim,
criança abandonada, limitada vida renascente
e carne e riso
Olhamo-la encher tudo
e vamos cada qual às nossas compras
Já nada em nossos bolsos pesa nem pecados
de novo estamos disponíveis para a primavera
e muito pequeninamente adormecemos
in Boca Bilingue (pg. 21)
O Valor do Vento
Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras e
só entram nos meus versos as coisas de que eu gosto
O vento das árvores o vento dos cabelos
o vento do inverno o vento do verão
O vento é o melhor veículo que conheço
Só ele traz o perfume das flores só ele traz
a música que jaz à beira-mar em agosto
Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto
in Homem de Palavra(s) (pg.100)
Ah!Ah!Ah!
ResponderEliminarO segundo poema, além de bonito, tem mesmo um fim inesperado.
Gostei.
Tenho o livro "Todos os poemas" do Ruy Belo, de vez em quando pego-lhe, mas não me lembro de ter lido nenhum destes dois.
Uma boa semana:))
Para mim, é sempre "refrescante" a leitura da poesia de Ruy Belo mas, tal como a obra de Herberto Helder, esquiva-se a uma explicação simples e, por isso mesmo, acabam por ser ambas muito compensadoras.
EliminarRetribuo os votos, cordialmente.
Gosto muito do segundo - até porque não gosto muito de vento. Bom dia!
ResponderEliminarAo contrário, eu gosto do vento. Mas não conheço nenhuma Senhora que goste dele...
EliminarBoa tarde.
Eu, só das brisas frescas no Verão. :-D Bom dia!
EliminarBoa tarde.
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