Na zona outrabandista, a meio do caminho que costumo percorrer para ir comprar o jornal diário, há uma árvore-da-borracha enorme. O seu tronco principal parece uma pata gigantesca de um elefante adulto e a folhagem densíssima obriga-me a uma gincana de curvas no percurso, para conseguir passar. As raízes, muito longas, vêem-se na superfície do terreno, e em grande extensão.
Há dias, cruzei-me com um grupo de 3 cantoneiros que estavam a podar arbustos numa zona próxima e perguntei-lhes se não tencionavam cortar aquela árvore-de-borracha. O mais velho respondeu-me, ao que parece algo incomodado: "O pedido já foi feito e a Câmara está ao corrente. É a eles que compete fazer o trabalho. Mas não vão cortá-la, só vão espontá-la..."
Não há nada como as profissões antigas e instituídas com regras para criar e aplicar, com propriedade, um vocabulário corporativo e competente. Os barbeiros profissionais, por exemplo, no seu trabalho diário, caracterizam pessoas com calvície, dizendo que têm grandes entradas e/ou são escanteadas.* Assim como usam aquele verbo espontar, com o significado de aparar, quando procedem, a pedido do cliente, a um corte de cabelo ligeiro, apenas.
* Que Houaiss não regista no seu dicionário.
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