Qualquer acontecimento que altera o curso da História, com o tempo, normalmente, ganha uma moldura própria que lhe vai conferir um enquadramento de seriedade para lá da simplicidade ou crueza inicial dos factos. É aquilo que, em linguagem popular, se costuma denominar por: dourar a pílula...
O antropólogo australiano Patrick Wilcken (1982), autor de Império à deriva (2004), é, ao que julgo, um historiador credível e fiável, com provas dadas. É assim que ele narra, a páginas 282/3, da obra acima referida, o episódio fulcral do Grito de Ipiranga que a 7 de Setembro de 1822 deu início à independência do Brasil. Citando, pois:
"... Havia também instabilidade crescente no Brasil. Numa série de épicas jornadas a cavalo, D. Pedro penetrou nas províncias vizinhas - primeiro em Ouro Preto, em Minas Gerais e depois em S. Paulo - reunindo apoios para o seu governo. E foi no regresso a S. Paulo, depois de uma visita ao porto de Santos, que ocorreu a cena ícone do nascimento do Brasil. Sofrendo de um ataque de diarreia, D. Pedro fez uma paragem não prevista junto de uma ribeira chamada Ipiranga. Aí, enquanto abotoava as calças, recebeu um mensageiro que vinha de S. Paulo com correio urgente. Trazia-lhe uma série de cartas - uma de D. Leopoldina e outra de José Bonifácio, bem como relatórios oficiais das cortes de Lisboa. Lendo tudo, o retrato era claro. Sete ml soldados estavam a ser preparados em Lisboa para seguirem para o Brasil. Tanto D. Leopoldina que se tornara uma apoiante ardente e influente do movimento pela independência, como José Bonifácio defendiam que se tinha atingido o ponto sem retorno. A 7 de Setembro de 1822, D. Pedro arrancou as insígnias portuguesas e atirou-as ao chão. Desembainhando a espada, proclamou: «Independência ou morte! Separámo-nos de Portugal!»"
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