terça-feira, 23 de agosto de 2022

Miscelânea (10)



Ousaria dizer que Anselmo Mendes, enólogo que produziu para a marca branca do P. D. um vinho Alvarinho, não terá sido criado e habituado a esta casta ibérica setentrional. O monocasta que fez para essa grande superfície só me lembra o dito pela indicação do rótulo. Mas a verdade, para além do sabor que não é o tradicional, pouco mais sei dizer para esclarecer esta minha atrevida afirmação.
Acontece que nem tudo, na nossa vida ou atitude, conseguimos explicar racionalmente.  

Ramos Rosa (1924-2013) e Fernando Echevarría (1929-2021), não há muito falecidos, foram dois dos mais prolíficos bons poetas portugueses. Mas se, do primeiro, a partir de O Livro da Ignorância (1988) comecei a ficar saturado do seu estilo de poesia, de Echevarría consigo e continuo ainda a lê-lo com algum entusiasmo e gosto natural.
Atente-se, por exemplo, neste pequeno poema:

Anoitecemos. Em nós o que se muda
é, não o que se perde
de claridade e nubla, 
mas o que, anoitecendo, se esclarece.
E esclarecer a noite em que nos suma
o sentimento agudo de perder-se,
amanhece na sombra, como se uma
vidraça abrisse ao mar sobre o que desse. *


* in Poesia, 1980-1984 (pg. 62).

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