Na verdade, era apenas uma aguadilha turva, onde boiavam uns filamentos esbranquiçados, um pouco mais consistentes. Mas quando o Engenheiro recebia, do seu amigo Palma, o cestinho alentejano de primores, era o almece que ele procurava e, encontrando-o, se enchia de prazer. Foi assim, uma vez, em casa do Engenheiro, que às Paiolas rotundas e às Mouras, passando pelas alongadas linguiças, pelos enchidos e queijos de Serpa recebidos, ele preferia e procurava, afanosamente na cordial encomenda, esse sub-produto do leite, sobremesa de pobres, com que eu tomei contacto, pela vez primeira, denominado almece (alentejano).
Recorra-se a José Quitério (1942), para melhor o caracterizar: "...Quando se julga já escorrido todo o soro (com o qual se fará «almece», comido com açúcar amarelo e sopas de pão, ou requeijão) e se dá por terminada esta fase, coloca-se sobre cada queijo..."
Recorra-se a José Quitério (1942), para melhor o caracterizar: "...Quando se julga já escorrido todo o soro (com o qual se fará «almece», comido com açúcar amarelo e sopas de pão, ou requeijão) e se dá por terminada esta fase, coloca-se sobre cada queijo..."
A fazer fé, ainda, na sabedoria livresca, chama-se Barriga de Almece ao indivíduo de ventre proeminente que se péla pelo dito. E era assim que o Engenheiro era crismado, pelos detractores, lá nesse Escritório lisboeta.
Não é refeição que aprecie. Mas há quem goste qb. Fazíamos o almece depois dos queijos e não levava açúcar. Mas "barriga de almece" ainda se diz, sim senhor.
ResponderEliminarJ. Quitério refere o açúcar (e amarelo), no comer, não na manufactura...
EliminarReferia-me ao comer, não à manufactura. O prémio de fazermos o almece era levarmos uma malga dele para casa. Nunca vi ninguém pôr-lhe açúcar. Branco ou amarelo.
EliminarBom dia!
ResponderEliminarNão conheço esta iguaria, mas pensei de imediato em pastéis de carne da Covilhã, que se recebia muito de vez em quando lá em casa e o meu comia em sopa de chã a ferver (connosco miúdas a fazer caras enjoadas).
Há por este nosso Portugal umas "preciosidades" bem apetecidas, sobretudo por quem se habituou a elas, desde tenra idade..:-)
EliminarUm bom dia, também!
Nunca comi (nem vi) almece. O Engenheiro de barriga de almece, com escritório lisboeta, será uma mistura de Álvaro de Campos e Fernando Pessoa? Embora se imagine sempre o tavirense uma pessoa magra e seca.
ResponderEliminarBom dia!
Prefiro o requeijão. Que, com "recheio" de compota de framboesa, acidulada, dá uma magnífica sobremesa. O Engenheiro era mais a tender para o Vasquinho..:-)
EliminarBom dia!
Gostei muitíssimo do seu texto. O almece nunca provei e não sei se gosto. Bom dia!
ResponderEliminarObrigado.
EliminarÉ excessivamente aguado para o meu gosto...
Bom dia!