sábado, 27 de maio de 2017

A haver


A experiência de cada um é, o mais das vezes, uma transmissão utópica, difícil de concretizar, nobre vontade votada ao fracasso e abandono, quase sempre. Os filhos, sorriem com gentileza ao recebê-la, mas preferem a sua própria aventura humana, liberta de constrangimentos e regras antigas, familiares. É, muitas vezes, preferível doá-la a estranhos parentes, que não chegaremos a conhecer. Pode vir a haver, com eles, uma afectuosa e estranha afinidade. Improvável, se pensarmos que o sangue é a única identidade possível, ao longo do tempo que parece ser interminável, nesta obscura e pobre caminhada humana. A fé pode assistir ao presente, talvez de forma ingénua. Não devemos, dela, desistir, no entanto, mas usá-la de maneira persistente, teimosa e objectiva. E deixar testemunho. Mesmo que não sirva ao futuro. E, assim, apesar de tudo, eu vou, por isso, continuando a escrever...

para a Hanna, que há-de vir.

8 comentários:

  1. bem, eu considero-me uma parente sua ainda que afastada mas parente. vou lendo o que escreve, serve-me bastante o presente e reservo-o para o futuro. Espero que um 'obrigada' liquide a divida...

    Faço votos de que viva momentos felizes com os parentes verdadeiros e com os postiços também.

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  2. Muito me honram as suas palavras, e bem gostaria eu, também, de lê-la mais vezes, na sua autenticidade e sensibilidade humana, na sua irreverência própria e única.
    Muito cordialmente

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  3. A experiência dos filhos nunca é a nossa e é por isso que não lhes servimos. E nem sei se alguém escreve para contar aos filhos (mesmo que diga que sim). Bom, para contar, talvez; para que aprendam é que não vale a pena, que o caminho faz-se andando.

    A identidade do sangue é só um capítulo das pessoas que nos são caras. E por vezes nem existe a mesma afinidade que temos com outra gente cujo sangue não nos importa senão por desejarmos que continue correndo.
    Pronto, sabe por que escreve. Eu gosto que escreva e leio com atenção. Não sei se serei sua parente. mas sua leitora sou de certeza:).

    Penso pouco na utilidade futura. Basta-me que a escrita me vá acompanhando, o que nem sempre consigo. Para nada. Só por ser companhia e me ocupar a mente.

    E que escrever nos dê muitas alegrias

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  4. Lindíssimo texto - e ainda bem que continua a escrever. Quanto aos ensinamentos de pais para filhos, o que me acontece é que tenho boa memória para esse tipo de coisas. E muitas vezes me acontece arrepender-me de não ter ligado a um ensinamento dos meus pais, meramente porque era adolescente e apetecia-me contrariá-los. Com o tempo, ouvimos os pais com mais atenção, acho eu. Bom dia!

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    1. Quase sempre vemos, depois, que eles (Pais) tinham razão ou motivos experientes para dizer determinadas coisas.
      Aos 40 anos costuma dar-se o "regresso a casa"...:-)
      Muito obrigado também pelas suas palavras amigas e estimulantes.
      Um bom Domingo!

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  5. Jorge Sebastião Soares28 de maio de 2017 às 18:28

    Excelente texto Pai.
    Obrigado pela dedicatória à tua neta que está prestes a materializar-se nesta realidade.
    Tentei a tradução do Google mas prosa lírica ainda é difícil para a máquina traduzir.
    Se tiver tempo traduzirei eu e enviar-te-ei, antes de postar, se me deres licença.
    Um grande abraço.
    J

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    1. O Google é vesgo e sempre foi um grande trapalhão a traduzir.
      O texto é Vosso, faz com ele o que quiseres.
      Abraço saudoso,
      A

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