Ontem, véspera do término da exposição retrospectiva da obra (na parte referente a colagens e trabalhos em papel) do pintor Pedro Chorão (1945), decorreu, na Fundação Carmona e Costa, uma conversa entre o Autor, José Luís Porfírio e Paulo Henriques. Em contribuição cordial, e porque há muito acompanho com empenho amigo o seu trabalho, ofereci a Pedro Chorão o pequeno texto que vou reproduzir aqui.
Os discretos sinais
Um militante abrilista, já falecido e hoje quase esquecido, disse uma vez que um político que não se repetisse, não era coerente. Ora é essa coerência ou fidelidade que eu também encontro na obra de Pedro Chorão. A ela dei, em tempos, o nome de estética do precário. Esse uso de sinais mínimos nas telas que me fazem lembrar as "conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos..." de que falava Pessanha. Mas que na obra do Pintor de Verão 79 podem ser apenas 3 ou 4 bagos de uva, uma faca banal que ocupa posição de símbolo, uma folha sugerida que dá cama e origem a três árvores de uma colagem quase linear.
Por ciclos estou a ver este seu coerente caminho. Que podem ir do Alentejo até às pirâmides, no entanto, quase sempre para Sul, onde a luz é mais crua. Ou pura? Mas sobre isso não saberia eu falar, porque me deleitei a ver, e os sentidos falaram mais alto, calando as palavras.
Que nova fase terá já iniciado Pedro Chorão, depois desta soberba mostra da sua obra? Habituei-me, recentemente, a ver obras grandes em anos de velhice. Estou a lembrar-me de Herberto Helder, Leonard Cohen. Ou ainda David Hockney que revisitou a infância com paisagens lindíssimas, numa exposição que tive o gosto de ver em Colónia, há poucos anos atrás.
Por isso, fico aguardando, com grande amizade e uma enorme expectativa, a próxima exposição de Pedro Chorão.