domingo, 10 de julho de 2011

Esta noite


Ainda o mês não vai a meio e os dias a fingir que ainda podem crescer. Talvez por causa da luz de Julho, que tem sido parca e avara. Mas hoje, não, chegou a ser generosa e perdulária. Integrar uma partida antecipada requer uma lógica seca, imune a sentimentos e memória. Um estoicismo de bom senso e isento, que saiba mondar os adjectivos da alma e abra as portas apenas para a luz do dia. Que saiba levar consigo, unicamente, o que nos cabe nos bolsos e nos dedos. Para a terra nos levarão o corpo frio e as roupas mais finas. Em poucos anos, ficarão farrapos, os ossos limpos e brancos. Ou cinzas dispersas se, em vez da Terra, preferirmos o Fogo. "Andar, andar que um poeta/ não necessita de casa..." - já aqui citei este poema de Cecilia. Por outras razões, porém.
No entanto, esta noite vai nascendo bem bonita. Crescente, a lua que não consigo ver. Vou até à varanda, beber a última luz do dia, pelos olhos cansados. Os abetos, tranquilos, mal se movem, à brisa ligeira.

Lj.,10/7/11.

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