A falta de um amplo compartimento em casa apenas dedicado à oficina de trabalhos manuais, costura e encadernação, obriga-me sempre a soluções de compromisso, quando a disposição mental e a disponibilidade de espaço o permitem.
Como há sempre muitos doentinhos cá em casa, em lista de espera e com achaques ligeiros ou mais sérios, a oficina volante lá se instalou na sala após a arrumação das decorações de Natal.
Não faltam nesta oficina “hospital” visitas para aconchegar os doentinhos. A foto acima mostra, portanto, o senhor papel, sentado na primeira cadeira. Segue-se a senhora cartolina e cartões, conversando com a sua comadre, a senhora das peles. Todos muito atentos e virados para a mesa das operações, onde tudo está à mão de semear para tratar dos enfermos.
O “doente” que pedia mais insistentemente o seu atendimento
foi o exemplar abaixo reproduzido e que tinha a sua capa dividida em duas
partes. O anterior proprietário fez uma asneira da grossa: colou as duas partes
com fita cola. A marca fica, pois, até ao fim da vida útil. Depois de tirar com
cuidado a má da fita, restaurou-se a capa, colando no verso uma folha de papel
japonês para reforçar o papel e sobretudo as badanas.
Os leitores bem sabem que os exemplares de impressos do fim do século XIX, início do século XX, sobrevivem, e mal, apenas com uma folha de papel mais encorpado a servir de portada. Por outro lado, estes livros têm uma lombada pouco resistente e, por isso, costumam marcar a consulta com frequência, pedindo um reforço das “costas”, i.e., a encolagem da lombada, assim como um tratamento das folhas iniciais, anterior e posterior, aplicando o remédio do papel japonês.
Em cima da mesa já estão alguns doentes despachados, outros em tratamento mais prolongado, dentro da prensa, e outros ainda à espera de oportunidade.
Já deixei um aviso à porta do “hospital”: É favor marcar a sua consulta com brevidade, uma vez que o espaço será encerrado nos próximos dias.
Infelizmente, esta oficina só poderá funcionar em
ambulatório !
Bem que preciso de aprender a restaurar livros. Também tenho muitos em casa a precisar de cuidados. Bom Domingo!
ResponderEliminarPara Margarida Elias:
EliminarTive a sorte de ainda aprender com o Mestre Mourão nas Oficinas da Fundação Espírito Santo. Guardo uma pasta cheia de apontamentos de todo o processo de encadernação. Gosto imenso, só tenho pena de não ter um espaço físico sempre disponível.
Ah!Ah!Ah! Que bem descrito esse problema de espaço, que eu tão bem entendo, pois tenho o mesmo problema. Ando sempre com as coisas para trás e para diante (não para encadernar, mas para outros trabalhos). Adorava ter um atelier (grande pretensão minha...).
ResponderEliminarTambém gostava de saber restaurar livros, como deve ser, com perfeição.
Boa noite, desejo-lhe uma boa semana:))
Para Isabel:
EliminarPois, o espaço é o meu grande desejo, para os livros, para trabalhar, etc.
Igualmente boa noite.
Crónica bem divertida!
ResponderEliminarEste Birds of America tem todas as ilustrações no interior? Estou à espera de um exemplar (edição do século XXI). Era uma grande ambição ter um exemplar para poder olhar para estas maravilhas!
Que tenha sucesso nos curativos e nas operações.
Boa semana!
Para MR:
EliminarO contacto com os livros deu o mote. Nem sempre surge com tanta graça, obrigada.
O Livro das Aves parece completo. O miolo não apresenta qualquer problema, apenas a capa estava naquele estado lastimoso.
Na fila de espera também estava um Trindade Coelho, 1902, 1ª edição, com papel couché resgado, em duas páginas. Aproveitei a sua gentil oferta das fitinhas. Lembras-se ? À falta de um aparelho próprio, fui aplicando, com "mil cuidados" as fitas com o meu ferro de engomar. Como é costume dizer-se: quem não tem cão caça com gatos ! Obrigada pela ofertas das fitas.
Nobre arte esta a de cuidar dos nossos preciosos amigos... quem se dedica a artes manuais sabe que o espaço necessário é bastante, mas o disponível nem por isso :)
ResponderEliminarBoa semana
Para PNLima,
EliminarLembrei-me de si quando vi o seu último trabalho. No meu caso tenho que "espalhar" sempre mais tralha ! Votos de Boa semana.