sábado, 12 de março de 2011

Um Homem honrado


Quando se fala da Índia, os nomes que, normalmente, ocorrem são: Vasco da Gama e Afonso de Albuquerque. Um, o descobridor, o outro o controverso, mas genial estratega. Na sombra, fica D. João de Castro, que poucas vezes é lembrado. Nasceu em Lisboa em 1500, e foi morrer a Goa, na presença de S. Francisco Xavier, em Junho de 1548, relativamente pobre. Foi o 4º vice-rei da India (dita Portuguesa), notável cartógrafo (discípulo de Pedro Nunes), bravo guerreiro. E homem honrado.
Acresce que, às suas qualidades, eu prezo sobremaneira, os retratos escritos das personagens da História. Porque, para além dos traços e cores dos retratos pintados, as palavras desvendam um pouco mais da alma dos homens, mesmo que de forma oblíqua. Ora, D. João de Castro, numa carta ao rei D. João III, datada provavelmente de 1539, escrita em Goa, faz o retrato de si mesmo e revela a sua mais íntima vontade:
"...Eu, Senhor, vim rico a esta terra e estou pobre; sou eu muito cobiçoso de natureza, e mal inclinado, porém falta-me habilidade para executar minha condição. De 18 anos tomei as armas em seu serviço; 6 vezes passei em África e lá me nasceram as barbas; mandou-me na armada de levante contra Barba Roxa; fui pessoalmente na tomada de Goleta, onde minha caravela ficou cheia de pelouros de bombardas, de que o muito excelente príncipe D. Luís é boa testemunha; vim em socorro da Índia por seu mandado, a resistir ao ímpeto e cruel fúria dos Turcos; fui em ajuda de se lançarem fora destas suas terras tão pestilenciais inimigos; nunca a opinião e honra dos Portugueses foi por mim diminuida, nem maculada; 20 anos tenho gastados no seu serviço, os melhores e mais estimados da vida; por amor de Deus e em paga destes trabalhos peço a V. A. que me dê licença para me ir desta terra a caminho de Portugal, a fazer vida com minha mulher e filhos, e a acabar estes breves e perturbados dias, que me ficam por passar, na serra de Sintra. Nosso Senhor acrescente a vida e real estado de V. A.."
O rei e o destino não lhe satisfizeram o desejo. D. João de Castro acabou por morrer em Goa.

Sem comentários:

Enviar um comentário