Não tenho andado muito virado para a ficção, pura e dura, ultimamente. E, por isso, tenho um Faulkner a meio, já há uns tempos. Quando há fastio geral, de leitura, já sei o remédio: pego num Simenon...e tudo recomeça. Sempre foi o melhor aperitivo para continuar a ler.
Mas, aqui há uma semana, deu-me vontade de encetar um policial. Saíu na rifa "Morte em Roma (nº 393, da Colecção Vampiro), de Hartley Howard. Li-o depressa - é movimentado, bem escrito, e chega. Pertence, no entanto, aos inúmeros policiais, falsos para mim, onde não entra dedução, nem honestidade narrativa, ou seja, os conhecimentos do leitor, ao longo da leitura, são sempre inferiores ao do autor, que esconde sempre alguns factos importantes. Piores do que estes são os romances policiais de Peter Cheyney, de Mickey Spillane que são autênticos arraiais de pancadaria e violência, e as obras anódinas de Leslie Charteries, com o Santo aventureiro.
Tenho que confessar que, em matéria de romance policial, sou um purista conservador. Para mim um autêntico romance policial tem que ter descoberta, investigação e dedução analítica, articulação especulativa, e o leitor deve ter sempre, e honestamente, os mesmos conhecimentos do autor, ao longo da narrativa. No fundo e em resumo deve cumprir as "Vinte regras para escrever histórias policiais" que S. S. van Dine (Willard Huntington Wright) teorizou, para sempre quanto a mim, em 1928. Infelizmente, as editoras metem de tudo nas suas colecções de detectives, até mesmo na clássica e longeva "Vampiro".
Por isso, para mim, os verdadeiros autores policiais são muito poucos: Poe, Conan Doyle, E. S. Gardner, Agatha Christie, o próprio S. S. van Dine, e algum Rex Stout. Na primeira linha está, obviamente, Georges Simenon que é um caso à parte e único. Singulares, também, são Raymond Chandler e Dashiell Hammet, mas apelidá-los-ia de autores de romance negro - parece-me mais ajustado.
Nem os recentes, badalados e modernos Catherine Aird, Andrea Camillery, Ruth Rendell e Vázquez Montalbán fazem as minhas preferências, porque não cumprem as regras essenciais em relação ao leitor. Mas tenho que me conformar: vou iniciar, em breve, "Perfídia que mata" (nº 506, da colecção Vampiro), de Nicolas Freeling. Mas não tenho grandes ilusões, quanto a ser um verdadeiro clássico...